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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Líder nas pesquisas na margem de erro para vencer as eleições no primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desperdiçou a oportunidade de conquistar indecisos no debate da TV Globo. Alvo de quase todos os adversários, Lula bateu boca com Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL) e Felipe D’Avila (Novo) e perdeu a compostura ao cair na provocação do candidato Padre Kelmon (PTB), que se apresentou no evento com vestes de sacerdote.

O debate começou sob o impacto dos resultados do novo Datafolha, que mostrou Lula com 50% dos votos válidos e Bolsonaro com 36%. Era natural, portanto, que o ex-presidente virasse o alvo preferencial. A corrupção, tema que pouco seduziu os eleitores durante toda a campanha, foi usada para atacar Lula e as gestões do PT por todos os adversários. Lula jogou na defensiva, sem perder pontos, até chafurdar com as caneladas de Kelmon, que tirou a paciência até do mediador William Bonner com seus constantes desrespeitos às regras.

— Candidato laranja não tem respeito com regra, faz o que quer — disse Lula, se referindo à relação de subordinação do candidato do PTB a Bolsonaro.

Com o bate-boca, os microfones foram cortados e a câmera desviada para que Bonner pedisse desculpas aos telespectadores.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem apontou que 46% dos eleitores de Ciro Gomes, e 38% de Simone Tebet (MDB) admitem mudar seu voto para presidente. Com a campanha de Lula insistindo no voto útil para encerrar a disputa no primeiro turno, esse contingente seria o suficiente para decidir a disputa no domingo.

O desempenho de Lula era considerado razoável por eleitores ciristas que assistiam ao debate para uma pesquisa qualitativa acompanhada pelo GLOBO. Os eleitores foram escolhidos por uma empresa para dar suas impressões sobre o debate porque admitiam que podiam mudar seu voto até domingo. A desavença com Kelmon reavivou críticas ao ex-presidente e reforçou a escolha inicial por Ciro.

Principal opositor de Lula, Bolsonaro também foi criticado nas qualitativas pelo seu comportamento agressivo. No primeiro bloco, quando a audiência era maior, ele recitou todo o léxico do antipetismo hidrófobo, a morte do prefeito petista Celso Daniel, ideologia de gênero, aulas de educação sexual nas escolas, mensalão e Lava-Jato. O bate-boca entre Bolsonaro e Lula no primeiro bloco rendeu seis direitos de respostas por ofensas pessoais.

A belicosidade de Bolsonaro, no entanto, não funcionou com Simone Tebet. Quando o presidente lhe perguntou sobre Celso Daniel, ela o chamou de “covarde” por não fazer a pergunta a Lula. Quando eles debateram meio ambiente, a senadora disparou:

—Ele (o presidente) mente tanto que acredita na própria mentira.

Diferente dos debates anteriores, Bolsonaro se controlou nas reações misóginas e centrou seus ataques apenas em Lula.

O ex-presidente, ao contrário do debate na Band, iniciou o embate calmo. Ele rebateu Ciro, que disse ter deixado seu governo por discordar dos erros.

—Você saiu para ser candidato a deputado federal contra a minha vontade, que queria indicá-lo para o BNDES — disse Lula.

De fato, Ciro saiu do governo Lula em 2006 para ser candidato a deputado e só rompeu com o PT em 2018.

No embate com Bolsonaro, Lula bateu e apanhou em doses iguais. Na avaliação de outro grupo de entrevistados, estes indecisos sobre seus votos no domingo,o presidente saiu-se pior por ter perdido a compostura. A avaliação foi a mesma dos assessores do presidente. Nos blocos subsequentes, Bolsonaro manteve a agressividade, mas alguns decibéis abaixo.

Em um debate sem um grande vencedor, o evento na TV Globo não mudou a tendência da campanha. Lula segue favorito, mas a vitória no primeiro turno não está clara. Ele vai precisar de um ímpeto a mais até domingo para obter os pontos necessários e não ser forçado a um segundo turno contra Bolsonaro.

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