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Judeu teria revelado esconderijo de Anne Frank a nazistas para salvar a própria família, aponta investigação

Arnold van den Bergh foi identificado como suspeito no caso 77 anos após a morte da jovem
Para fugir dos nazistas, judia Anne Frank passou dois anos com a família em esconderijo e fez registros desse período em diário Foto: Divulgação/Agência O Globo
Para fugir dos nazistas, judia Anne Frank passou dois anos com a família em esconderijo e fez registros desse período em diário Foto: Divulgação/Agência O Globo

Mais de 70 anos após a morte da judia Anne Frank em um campo de concentração na Alemanha, aos 15 anos, um time de investigadores identificou o suspeito que teria revelado para nazistas a localização do esconderijo onde a menina passou dois anos com a família.

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Após seis anos de trabalho, a equipe, que incluiu historiadores, especialistas e até o ex-agente do FBI Vince Pankoke, apontou que a família Frank teria sido traída por Arnold van den Bergh, um judeu que vivia em Amsterdã, na Holanda. Ele teria revelado a informação para salvar a própria família.

Van den Bergh morreu em 1950. Ele foi membro do Conselho Judaico da capital holandesa, um órgão que foi forçado a implementar a política nazista em áreas onde viviam judeus. A organização foi dissolvida em 1943 e muitos de seus membros foram levados para campos de concentração.

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— Quando perdeu toda a sua série de proteções, que o isentavam de ir para os campos, teve que fornecer algo valioso aos nazistas para que ele e sua esposa ficassem seguros — ressaltou Vince Pankoke em documentário sobre o tema exibido pela emissora de TV americana CBS, neste domingo.

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O time que fez a pesquisa diz ter encontrado evidências de que Otto Frank, o pai de Anne, que morreu em 1980, sabia o nome de quem o havia denunciado, mas manteve a informação em segredo. Nos arquivos de uma investigação anterior, foi encontrada a cópia de um bilhete anônimo enviado a Otto, identificando van den Bergh como o traidor.

— Talvez ele tenha sentido que se eu trouxesse isso à tona de novo... só ia colocar mais lenha na fogueira. Mas temos que ter em mente que o fato de o suspeito ser judeu significa que ele foi colocado em uma posição insustentável pelos nazistas para fazer algo para salvar sua vida — ressaltou Pankoke.

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Conforme o jornal The Guardian, houve duas investigações policiais sobre o caso, em 1947 e 1963. Arend van Helden, filho do detetive que liderou o segundo inquérito, foi quem forneceu a cópia da nota anônima aos revisores dos casos arquivados.

Mais detalhes da investigação são revelados no livro "The Betrayal of Anne Frank", da canadense Rosemary Sullivan, que será publicado nesta terça-feira.

— Van den Bergh conseguiu vários endereços de judeus escondidos. Não tinham nomes anexados e nenhuma garantia de que as famílias ainda estavam naqueles locais. Foi isso que ele fez para salvar a própria pele. Pessoalmente, acho uma figura trágica — descreveu a autora.

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Em comunicado, o museu da Casa de Anne Frank afirmou estar "impressionado" com as descobertas da equipe de investigação. O diretor-executivo da instituição, Ronald Leopold, disse em nota que a nova pesquisa "gerou novas informações importantes e uma hipótese fascinante que merece mais pesquisas". O museu informou que não estava diretamente envolvido na investigação, mas compartilhou arquivos com a equipe.

Fuga registrada em diário

A família Frank partiu de Frankfurt para Amsterdam no final de 1933 por causa da crescente perseguição aos judeus após a ascensão de Hitler ao poder. Mas com a invasão nazista na Holanda, em 1940, o temor recrudesceu. A partir de 6 de julho de 1942, o núcleo familiar (os pais Otto e Edith e as irmãs Margot e Anne) e mais outros quatro foragidos se esconderam no chamado "Anexo", um apartamento secreto improvisado nas dependências da empresa do pai de Anne.

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Em 4 de agosto de 1944 a polícia secreta alemã descobriu o esconderijo, prendeu e deportou seus inquilinos. Após ter passado pelos campos de Westerbork e Auschwitz, Anne Frank morreu de tifo no início de 1945 em Bergen-Belsen, pouco tempo antes da chegada das forças aliadas.

Nos 743 dias de cativeiro, ela escrevia à sua amiga imaginária "Kitty" em seu precioso diário. Suas últimas palavras manuscritas datam de 1° de agosto de 1944. Publicado em 1947 por Otto Frank, o diário transformado em livro alcançou sucesso internacional, traduzido em mais de 70 idiomas, e gerou ao longo de décadas filmes, documentários e montagens teatrais.