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Bolsonaro se irrita com postura de Abraham Weintraub

Insistência na candidatura ao governo de São Paulo e críticas ao governo feitas pelo ex-ministro da Educação causaram incômodo no presidente
O presidente Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub, em vídeo no qual ex-ministro anunciou sua saída do governo Foto: Reprodução/Youtube
O presidente Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub, em vídeo no qual ex-ministro anunciou sua saída do governo Foto: Reprodução/Youtube

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado irritação com seu ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que articula uma candidatura ao governo de São Paulo mesmo com Bolsonaro defendendo publicamente o nome do ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) para o posto. Weintraub também tem feito críticas à aliança do presidente com partidos do Centrão.

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Em conversas com ministros, Bolsonaro comparou Weintraub a outros antigos colegas de ministério que passaram a ser críticos do governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

Weintraub voltou no fim de semana ao Brasil para tentar articular sua candidatura ao governo de São Paulo. Ele estava nos Estados Unidos desde junho de 2020, quando ganhou um cargo no Banco Mundial, em Washington, após ter sido demitido do Ministério da Educação por ter entrado em atrito com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Caso consiga viabilizar sua candidatura em São Paulo, Weintraub deve enfrentar Tarcísio, seu antigo colega de governo e preferido de Bolsonaro para assumir o Palácio dos Bandeirantes. O apoio ao ministro da Infraestrutura foi uma das condições impostas por Bolsonaro para se filiar ao PL.

No ano passado, em entrevista à revista Oeste, Weintraub alfinetou Tarcísio, dizendo que a "linha de pensamento" dele é diferente:

— A linha de pensamento deles não é igual a minha e de meu irmão, porque nós somos conservadores, anti-sistema, não queremos ficar batendo papo furado com quem tem ligação com esquema de corrupção ou com quem prega o absurdo — disse o ex-ministro, referindo-se também à deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) e à médica Nise Yamaguchi, possíveis candidatas ao Senado. — Estou aqui para defender os valores que acredito, coisa que eu não vejo na mesma proporção, nesses nomes que mencionei.

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Apesar de atacar a aproximação de Bolsonaro com o Centrão — na segunda-feira, por exemplo, o ex-ministro disse que os conservadores foram "substituídos por essa turma" —, Weintraub evita criticar diretamente Bolsonaro.

Em uma entrevista exibida no domingo, por exemplo, ele disse que não falaria mal do seu antigo chefe:

— Eu não falo mal dele. Não falo por várias razões — afirmou, acrescentando: — Não vou entrar em detalhes aqui. Tenho boas lembranças do presidente Bolsonaro. Assim como trabalhei em outros locais, e nos locais que voce trabalha não é tudo 100%. Tem coisa errada que você pega.

Weintraub disse que as pessoas não são "perfeitas" e "cometem erros", mas não entrou em detalhes:

— As pessoas são perfeitas? Não. Elas cometem erro? Cometem. Se ele cometeu erro, ele que pague por isso. Eu, pela minha história com ele, não vou falar mal dele. Não me sentiria bem falando.

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Na mesma entrevista, Weintraub afirmou que Bolsonaro soube com antecedência da acusação de um suposto esquema de desvio de salário no gabinete de Flávio Bolsonaro (na época deputado estadual, hoje senador) e que o presidente relatou isso a membros da equipe de transição do governo, em novembro de 2018. A suspeita só se tornaria pública em dezembro daquele ano.