Por Carolina Dantas, g1


Vacinação de crianças em Manaus, no Amazonas — Foto: Divulgação

Ao anunciar nesta quarta-feira (26) a distribuição de 2,5 milhões de doses contra a Covid-19 para as crianças, o Ministério da Saúde voltou a pedir que os pais "procurem a recomendação prévia de um médico antes da imunização".

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e especialistas entrevistados pelo g1 são contra o pedido do governo federal: avaliam que ela teria potencial de "travar" a campanha para a faixa etária.

"Para a imunização das crianças de 5 a 11 anos é necessária a autorização dos pais. No caso da presença dos responsáveis no ato da vacinação, haverá dispensa do termo por escrito. A orientação da Pasta é que os pais ou responsáveis por suas crianças procurem a recomendação prévia de um médico antes da imunização", diz publicação no site do Ministério da Saúde.

Nesta quinta-feira (27), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que não viu a publicação do Ministério da Saúde e que o que a pasta faz é uma recomendação.

"Eu não vi essa nota, porque essa é uma nota da Secovid. Não é uma imposição, é uma recomendação. A campanha está indo bem, tem uma adesão satisfatória", disse Queiroga.

Já o Conass utilizou como resposta uma carta divulgada ainda em dezembro, na véspera de Natal. Em tom direcionado às crianças, o conselho explica que não há necessidade de uma consulta médica antes da vacina:

Postagem em rede social do Ministério da Saúde de 5 de janeiro defende a "recomendação prévia de um médico" — Foto: Reprodução/Twitter

"Quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina. A ciência vencerá. A fraternidade vencerá. A medicina vencerá e vocês estarão protegidos", defende.

No Brasil, a vacinação infantil com a Pfizer foi aprovada em 16 de dezembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 30 de dezembro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de saúde dos Estados Unidos, divulgou os dados de mais de 42 mil crianças que receberam o imunizante: eventos adversos graves em crianças que receberam a vacina da Pfizer são raros.

Além das doses infantis da Pfizer, o ministério também está distribuindo doses da CoronaVac para crianças com mais de 6 anos. O imunizante foi aprovado pela Anvisa para a faixa etária na quinta-feira (20). A CoronaVac já é usada ou foi autorizada em crianças de diferentes faixas etárias em pelo menos seis países e em Hong Kong.

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Para Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a recomendação de um aval médico antes de levar o filho para a imunização "não se justifica".

"É uma vacina que já foi aprovada pela Anvisa e está sendo distribuída nos serviços de saúde do SUS. Só devem ter avaliação médica crianças que estão passando por algum tratamento médico ou têm alguma doença que exija uma avaliação, como acontece com qualquer vacina ou medicamento", disse.

Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que o ministério orienta a busca pelo médico, mas não é obrigatório: "isso já gerou muita controvérsia, pois nem todos têm acesso aos médicos para obter essa recomendação", explicou.

Apesar da aprovação da vacinação com a Pfizer ter ocorrido ainda em 16 de dezembro, o Ministério só divulgou as regras para a imunização em 5 de janeiro. O governo federal chegou a fazer uma consulta pública sobre o assunto, mas, enfim, abriu mão da exigência de receita médica para imunização dessa faixa etária.

"Não justifica. Não há nenhuma necessidade, não há por que pedir autorização para médico, levar receita, de jeito nenhum. Todos devem ser vacinados, não precisa de prescrição. Aliás, a única recomendação é para quem tem uma imunossupressão, não é comorbidade, que aí tem que dar preferência à Pfizer", explica Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

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