Política Jair Bolsonaro

Alexandre de Moraes manda investigar Bolsonaro por suposto vazamento de dados sigilosos

Ministro do STF acolheu pedido feito pelo TSE para apurar divulgação de informações sobre ataque hacker em 2018
Ministro Alexandre de Moraes Foto: Nelson Jr. / SCO /STF
Ministro Alexandre de Moraes Foto: Nelson Jr. / SCO /STF

BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu o pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e determinou a abertura de nova investigação para apurar o cometimento de eventual crime por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na divulgação de informações confidenciais contidas no inquérito da Polícia Federal que investiga o ataque hacker sofrido pela Corte eleitoral em 2018. O ministro encaminhou o pedido para a Procuradoria-Geral da República. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já soma nove investigações abertas contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF) .

A nova investigação contra Bolsonaro passa a ser um desdobramento do inquérito das fake news. Com a medida, ao todo, o presidente da República torna-se alvo de quatro inquéritos no STF.

Além de Bolsonaro, o ministro pediu para que sejam investigados também o deputado federal Felipe Barros (PSL) e o delegado da Polícia Federal Victor Neves Feitosa Campo, que conduz as investigações sobre o ataque ao TSE.

Na decisão, o ministro também determinou o afastamento do delegado da presidência do inquérito, com requisição ao Diretor-Geral da Polícia Federal de instauração de procedimento disciplinar para apurar os fatos (divulgação de segredo), "que, igualmente, deverá providenciar a substituição da autoridade policial".

O ministro ainda ordenou que o delegado e o deputado Felipe Barros sejam ouvidos no prazo máximo de dez dias. Moraes, contudo, não trata do depoimento do presidente da República.

No despacho, o ministro afirma que, "sem a existência de qualquer justa causa, o sigilo dos autos foi levantado e teve o seu conteúdo parcialmente divulgado pelo Presidente da República, em entrevista conjunta com o deputado Felipe Barros, no intuito de tentar demonstrar a existência de fraudes nas eleições e ratificar suas declarações anteriores", objeto da primeira notícia-crime encaminhada pelo TSE contra Bolsonaro -- que culminou com sua inclusão no inquérito das fake news.

O ministro enfatizou que não há indícios de que as informações e os dados sigilosos e reservados do TSE tenham sido divulgados "com justa causa" pelo delegado, pelo deputado ou por Bolsonaro. Por isso, disse que as condutas configurariam, em tese, o crime de divulgação de segredo com potencial prejuízo para a Administração Pública.

"Diante desses fatos e levando em consideração que a divulgação de dados de inquérito sigiloso da Polícia Federal pelo Presidente da República, através de perfis verificados nas redes sociais, teria o objetivo de expandir a narrativa fraudulenta que se estabelece contra o processo eleitoral brasileiro, com objetivo de tumultuá-lo, dificultá-lo, frustrá-lo ou impedi-lo, atribuindo-lhe, sem quaisquer provas ou indícios, caráter duvidoso acerca de sua lisura, revela-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados, especialmente no que diz respeito à divulgação de inquérito sigiloso", afirmou Moraes.

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O pedido de investigação contra Bolsonaro, Barros e o delegado da PF foi assinado por todos os sete ministros titulares que integram a Corte Eleitoral e encaminhado diretamente na segunda-feira ao ministro Alexandre de Moraes — relator do inquérito das fake news.

Ainda na decisão desta quinta, Moraes expediu ofícios para que Facebook, Twitter, Telegram e os sites Couldfare e Bitly retirem as publicações que veiculam os vídeos onde o presidente faz a suposta divulgação dos dados sigilosos. O conteúdo, porém, deverá ser encaminhado ao STF.

Pedido do TSE

Na quinta-feira da semana passada, Bolsonaro divulgou em suas redes sociais a íntegra de um inquérito da Polícia Federal sigiloso que apura ataque ao sistema interno do TSE, ocorrido em 2018.

Na live, Bolsonaro e o deputado Felipe Barros, que foi relator da comissão especial da Câmara que analisou e rejeitou uma proposta de voto impresso, revelavam a invasão por um hacker aos sistemas do TSE e que a ação teria levado ao acesso do código fonte das urnas.

Na avaliação dos ministros, a divulgação supostamente criminosa de informações e dados sigilosos do Tribunal Superior Eleitoral pode ter relação de provas com os fatos atualmente apurados no âmbito do inquérito das fake news.

"Isso porque a publicação das informações da Justiça Eleitoral encontra-se igualmente vinculada ao contexto de disseminação de notícias fraudulentas acerca do sistema de votação brasileiro, com o intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independência doPoder Judiciário e o Estado de Direito", apontam.

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Na live que entrou na mira do TSE,  o deputado Felipe Barros afirmou que o TSE relatou que a primeira invasão ocorreu em 18 de abril de 2018 em um sistema do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. A partir desse acesso, segundo o deputado, o hacker teria chegado à seção que trata do código fonte das urnas eletrônicas.

Diante das falas de Barros, Bolsonaro  acusou a Corte eleitoral de ter apagado os registros do histórico das atividades do hacker na rede do tribunal e  afirmou que é “crime” o TSE ter “apagado as pegadas” do invasor.