Por Lívia Torres, Guilherme Santos e Felipe Freire, RJ2


Homem morto por vizinho deixou comunidade em São Gonçalo em busca de mais segurança

Homem morto por vizinho deixou comunidade em São Gonçalo em busca de mais segurança

O homem que foi morto pelo próprio vizinho, na porta de casa, deixou a comunidade do Capote, em São Gonçalo, há 12 anos, e comprou um apartamento na cidade em busca de mais segurança.

Durval Teófilo Filho, de 38 anos, foi morto na noite desta quarta-feira (2) na porta do condomínio onde morava. Segundo a polícia, ele foi baleado ao ser confundido com um bandido.

O autor dos disparos foi o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que chegou a socorrer a vítima e foi preso em flagrante.

“Será que fosse um branco andando e mexendo na mochila, tinham atirado no meu irmão três vezes? E ele falando que ele era morador do condomínio? Será? Eu duvido. Eu duvido muito”, disse a irmã de Durval, Fabiana Teófilo.

A família quer justiça.

“Mais um preto morto e vai ficar por isso mesmo? Já passei por isso na minha vida diversas vezes. Meu pai foi assim, tive primos que foi assim. Mas agora de novo? Agora não. Eu vou atrás aonde tiver que ir, entendeu? Porque a justiça tem que ser feita”.

Fabiana Teófilo, irmã de Durval — Foto: Reprodução/TV Globo

Durval trabalhou como letrista em uma plataforma da Petrobras e atualmente estava empregado como repositor de um supermercado.

A família esteve no Instituto Médico Legal de Tribobó na tarde desta quinta-feira (3) para fazer a liberação do corpo.

O laudo do IML diz que a causa da morte é hemorragia interna causada por projétil de arma de fogo.

O corpo de Durval vai ser enterrado na sexta-feira (4) no Cemitério São Miguel. Ele deixa a mulher e uma filha de 6 anos.

Durval Teófilo Filho foi morto na porta de casa — Foto: Reprodução/TV Globo

Homicídio culposo

O sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra foi indiciado por homicídio culposo — quando não há a intenção de matar.

A polícia entendeu que o militar não teve a intenção de matar porque confundiu a vítima com um bandido. Uma fiança de R$ 120 mil foi estipulada, mas até a última atualização desta reportagem não havia sido paga, e o sargento permanecia preso.

Sargento da Marina Aurélio Alves Bezerra — Foto: Reprodução

"Segundo declaração do autor, ele atirou na vítima em reação a uma suposta tentativa de assalto, enquanto a mesma caminhava e mexia em sua mochila. Ao constatar seu erro, o acusado prestou imediato socorro a Durval, levou para um hospital, mas ele não resistiu. De acordo com a DHNSG, o autor do crime foi indiciado por homicídio culposo e permanece preso", diz a nota da Polícia Civil.

O indiciamento do sargento como homicídio culposo ainda pode mudar em até 30 dias — após a audiência de custódia ou se o delegado que assumir o caso entender que o crime deve ser enquadrado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.

Vídeo mostra os tiros

VÍDEO: veja o momento em que homem é morto por vizinho em São Gonçalo

VÍDEO: veja o momento em que homem é morto por vizinho em São Gonçalo

Pelas imagens, Aurélio chega de carro ao portão do condomínio. Durval, a pé, aparece a alguns metros do veículo do sargento.

O militar efetua três disparos de dentro do carro e depois sai e se aproxima da vítima. Um deles atinge a barriga de Durval, que cai. O militar, então, se aproxima.

(CORREÇÃO: O g1 errou, ao publicar esta reportagem, ao informar que o militar disparou 2 tiros de dentro do carro e 1 de fora. Na verdade, os 3 tiros foram disparados de dentro do carro. A reportagem foi corrigida às 15h09 desta sexta, 4.)

À PM, Aurélio disse que avistou um homem se aproximando de seu veículo “muito rápido”. Ainda segundo o depoimento, Durval chegou a dizer a Aurélio que era morador do mesmo condomínio.

O militar, então, socorreu o vizinho ferido, levando-o ao Hospital Estadual Alberto Torres, onde foi preso. Durval não resistiu e morreu na unidade.

Aos PMs, Aurélio informou também que “a localidade é perigosa e costuma ter muitos assaltos”.

Momento em que Aurélio, dentro do carro, atira contra Durval — Foto: Reprodução/TV Globo

Aurélio fez ainda mais dois disparos contra Durval do lado de fora do carro — Foto: Reprodução/TV Globo

‘Foi racismo’, diz viúva

Luziane Teófilo, mulher de Durval, disse que escutou os tiros. Ela afirma ainda que o marido morreu porque era preto.

“A minha filha, que tem 6 anos, estava esperando por ele. Imediatamente ela olhou pela janela e disse que era o pai dela”, narrou.

Durval Teófilo Filho, morto na porta de casa por vizinho — Foto: Reprodução

Luziane foi levada ao hospital. “A médica me falou que ele tinha sido alvejado por um vizinho que o confundiu com um bandido. Isso me deixou transtornada. Eu nunca pensei que isso fosse acontecer com um vizinho nosso”, contou.

“Vendo as câmeras, ouvindo a fala do delegado e pelo que os vizinhos estão falando, tenho certeza de que isso aconteceu porque ele é preto. Mesmo eles falando que ele era morador do condomínio, o vizinho não quis saber. Para mim, foi racismo sim”, afirmou a viúva.

Durval foi morto na porta de casa, em São Gonçalo — Foto: Reprodução/TV Globo

O que diz a Marinha

Em nota, a Marinha do Brasil diz que "tomou conhecimento da ocorrência envolvendo um dos seus militares, em São Gonçalo-RJ, e informa que está colaborando com os órgãos responsáveis para a elucidação do fato".

"A MB lamenta o ocorrido e se solidariza com os familiares da vítima", acrescenta o texto.

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