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PGR vai investigar declarações de Kim e Monark sobre nazismo em podcast

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

08/02/2022 19h08

O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou hoje a abertura de inquérito para apurar suposta prática de crime de apologia ao nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e por Bruno Aiub, influenciador digital conhecido como Monark.

Num debate sobre perseguição contra grupos minoritários exibido ontem pelo Flow Podcast, Kim sugeriu que grupos radicais ganham força quando o cerceamento de ideias extremistas é praticado em detrimento da liberdade de expressão.

"Qual é a melhor maneira de impedir que um discurso mate pessoas e que um grupo étnico racial morra? É criminalizar? Ou é deixar que a sociedade tenha uma rejeição social?", indagou o congressista.

Monark, que apresentava o programa, disse que endossa a criação de um partido nazista a fim de equilibrar o debate político.

"A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical. As duas tinham que ter espaço. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei", disse o influencer.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que também participava do podcast, rebateu as falas de Monark e Kim ao afirmar que o nazismo põe a população judaica em risco.

"Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco", disse a congressista.

Kim: 'Aras pratica perseguição política'

Em contato com o UOL, o deputado afirmou que irá colaborar com as investigações da PGR e disse ser alvo de perseguição política por parte de Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao órgão em 2019.

Crítico do governo, Kim participou em janeiro de evento de filiação de integrantes do MBL ao Podemos, partido pelo qual o ex-ministro Sergio Moro deve concorrer à Presidência da República.

Leia a íntegra do que diz Kim Kataguiri sobre a determinação da PGR:

"É aterrador que o PGR, que sempre faz vista grossa para crimes que realmente aconteceram tenha agido tão rápido. Quando há claros indícios de crime cometido pelo presidente da República, Augusto Aras nada faz.

Porém, diante de uma conduta claramente de mero debate em um podcast, Aras age rapidamente —e com inquestionável cunho político para perseguir minha conduta de oposição ao governo Bolsonaro. É um contrassenso.

Vou colaborar com as investigações pois meu discurso foi absolutamente anti-nazista, não há nada de criminoso em defender que o nazismo seja repudiado com veemência no campo ideológico para que as atrocidades que conhecemos nunca sejam cometidas novamente. Ao contrário das pessoas privilegiadas pela inércia de Aras, nada tenho a esconder."

'Falhei em representar judeus'

Antes de rechaçar a decisão de Aras, o deputado havia publicado vídeo em suas redes sociais, em que afirmava que errou por não ter se manifestado de maneira contundente contra as declarações de Monark.

"O primeiro ponto que precisa ficar claro é que eu não defendo criação de partido nazista. Quando o Monark falou aquelas atrocidades, eu falhei em representar a comunidade judaica como deveria", disse o congressista.

Repercussão: intolerância e liberdade

Presidente do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP) criticou as declarações do futuro correligionário. "O nazismo é um crime permanente contra a humanidade. Intolerável e inadmissível qualquer tipo de defesa em um ambiente democrático", disse.

Além dela, outros políticos, ministros do STF e diversos grupos sionistas e associações que reúnem judeus no Brasil se manifestaram contra as falas de Monark e Kim.

No campo da esquerda, o PCO defendeu a liberdade de expressão irrestrita. Segundo a sigla, a censura a ideologias de terceira posição, como é o caso do nazismo e do fascismo, acarretaria no aviltamento do comunismo.