Saúde

Mais de 30% dos municípios do país tiveram endemia ou epidemia associadas ao saneamento básico

Entre as doenças registradas em 2017 por suplemento do IBGE, dengue, diarreia e verminose aparecem no topo
Acúmulo de lixo nas ruas favorece o acúmulo de águas das chuvas, o que é um fator de risco para disseminação de doenças como dengue Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo
Acúmulo de lixo nas ruas favorece o acúmulo de águas das chuvas, o que é um fator de risco para disseminação de doenças como dengue Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo

RIO — Em 2017, 34, 7% dos municípios do país registraram uma epidemia ou endemia relacionadas ao saneamento básico, segundo o Suplemento de Saneamento da Pesquisa de Informações Básicas Municipais — Munic 2017 — do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento, que contempla aspectos gerais da gestão da política de saneamento básico, registrou que, nos últimos 12 meses anteriores à entrevista, 26, 9% de todos os municípios registraram epidemias ou endemias de dengue; 23, 1% de diarreia; 17, 2 de verminoses, entre outras.

Segundo o levantamento, o município do Rio não informou sobre epidemias ou endemias em 2017 relacionadas ao saneamento.

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A proporção de municípios que declararam ter sofrido endemia ou epidemia de dengue, zika e chikungunya foi maior nas Regiões Nordeste e Norte. No Nordeste, 29, 6% dos municípios informaram a ocorrência de endemias ou epidemias de zika, e 37, 3% de chikungunya.

Proporção de municípios que afirmaram ter
conhecimento sobre ocorrência de endemias
ou epidemias de cada doença - 2017
Todas
34,7
Dengue
26,9
Diarreia
23,1
Verminoses
17,2
Chikungunya
17,2
Zika
14,6
Doença do aparelho respiratório
11,7
Dermatite
7,7
Hepatite
7,7
Leptospirose
4,5
Outras
3,4
Malária
3,2
Difteria
2,9
Febre amarela
2,9
Cólera
1,7
Tifo
1,0
Fonte: IBGE
Proporção de
municípios que
afirmaram ter
conhecimento sobre
ocorrência de endemias
ou epidemias de
cada doença - 2017
Todas
34,7
Dengue
26,9
Diarreia
23,1
Verminoses
17,2
Chikungunya
17,2
Zika
14,6
Doença do aparelho respiratório
11,7
Dermatite
7,7
Hepatite
7,7
Leptospirose
4,5
Outras
3,4
Malária
3,2
Difteria
2,9
Febre amarela
2,9
Cólera
1,7
Tifo
1,0
Fonte: IBGE

A doença mais citada pelos municípios foi a dengue. Em 2017, 1.501 municípios reportaram ocorrência de endemias ou epidemias de dengue.

A dengue, assim como a zika e a chikungunya, são transmitidas pela picada do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada. Tais doenças estão, portanto, fortemente associadas aos serviços de saneamento. A oferta irregular de água, por exemplo, faz com que as pessoas a estoquem em reservatórios, que, muitas vezes, servem de local de reprodução dos mosquitos. O acúmulo de lixo nos domicílios e nas ruas, decorrente da coleta irregular, favorece, por sua vez, o acúmulo das águas das chuvas, também é um fator de risco.

— Esse resultado não é necessariamente por falta de saneamento. Talvez seja falta de aprimoramento do sistema — afirma Vânia Pacheco, gerente da Pesquisa de informações básicas municipais do IBGE. — Outra coisa que é preciso ressaltar é que não é só a gestão pública, existe uma parte do cidadão nisso. O município tem que prestar o serviço, mas a população também tem que fazer a sua parte.

Proporção de municípios com ocorrência de endemias ou epidemias causadas pelo mosquito Aedes aegypti
Segundo as grandes regiões - 2017
Dengue
Zika
Chikungunya
Febre amarela
43,2
38,9
37,3
29,6
25,5
21,6
19,8
20,2
10,1
8,4
7,7
7,6
6,0
4,7
5,1
2,1
1,7
1,8
1,7
0,8
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2017.
Proporção de
municípios com
ocorrência de endemias
ou epidemias causadas
pelo mosquito
Aedes aegypti
Segundo as grandes regiões - 2017
Dengue
Zika
Chikungunya
Febre amarela
38,9
19,8
Norte
20,2
4,7
43,2
29,6
Nordeste
37,3
2,1
21,6
7,6
Sudeste
8,4
5,1
6,0
1,7
Sul
1,8
0,8
25,5
10,1
Centro-Oeste
7,7
1,7
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2017.

O IBGE explica que considera-se endêmica uma doença que existe, constantemente, em determinado lugar, independentemente do número de indivíduos por ela atacados. Epidêmica, por sua vez, é uma doença que surge, rapidamente, em um lugar e acomete grande número de pessoas.

Melhora das estruturas diminui casos de doenças

O pesquisador da Fiocruz minas Léo Heller destaca que a situação do saneamento no Brasil está longe da ideal. Então, diante disso, é esperado que doenças associadas continuem a ocorrer. Mas, de acordo com ele, é preciso reforçar que não significa que tais doenças foram causadas exclusivamente por más condições de saneamento.

— É difícil afirmar afirmar que uma doença tenha acontecido por uma causa única, mas o quadro é compatível com o das condições de saneamento no país. A grande questão é: se melhoramos a condição de saneamento, a probabilidade de ocorrência dessas doenças cai muito — afirma ele, que acrescenta que o número de casos dessas doenças poderia ser maior. —  Todas têm uma certa subonotificação, diarreira e verminose particularmente.

Léo ressalta ainda que a pesquisa do IBGE mostra uma "face do probelma", que é ausência de planejamento, principalmente em municípios menores e das regiões Norte e Nordeste, mas aponta também para falhas no nível federal, que é quem financia essas políticas.