Brasil

Menos da metade dos municípios do país tem instrumentos de gestão de saneamento básico, diz IBGE

Pesquisa sobre o setor aponta ainda desigualdades regionais; proporção de municípios com planos varia de 15%, no Nordeste, a 72%, no Sul
Pouco mais de 40% dos municípios do país têm um Plano Municipal de Saneamento, instrumento que traça metas e objetivos na área Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
Pouco mais de 40% dos municípios do país têm um Plano Municipal de Saneamento, instrumento que traça metas e objetivos na área Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

RIO — Apesar de um crescimento no número de instrumentos de gestão, menos de um quarto dos municípios do país (38,2%) tem uma Política Municipal de Saneamento Básico. Com relação aos Planos, que são estudos mais específicos, com metas e objetivos, menos da metade (41, 5%) tem um deste tipo. As informações são do Suplemento de Saneamento da Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Munic 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A publicação contempla aspectos gerais da gestão de política de saneamento básico formulada pelas prefeituras dos 5.570 municípios do país.

O suplemento mostra um aumento de Políticas para o saneamento a partir de 2010, quando foi publicado o Decreto 7217, que regulamenta a Lei Federal do Saneamento Básico, de 2007. Ambas trazem uma série de normas sobre o exercício do mesmo, regulação, planejamento e gestão.

Proporção de municípios por situação
da Política Municipal de Saneamento Básico
Segundo as Grandes Regiões - 2011/2017
Com política
Com política em elaboração
28,2
2011
BRASIL
24,1
38,2
2017
25,8
2011
Norte
27,8
31,1
2017
21,2
2011
Nordeste
30,6
18,6
2017
31,4
2011
Sudeste
20,9
45,3
2017
33,8
2011
Sul
13,0
63,7
2017
31,8
2011
Centro-Oeste
35,3
2017
35,3
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2011/2017.
Proporção de
municípios por situação
da Política Municipal
de Saneamento Básico
Segundo as Grandes Regiões - 2011/2017
Com política
Com política em elaboração
28,2
2011
BRASIL
24,1
38,2
2017
25,8
2011
Norte
27,8
31,1
2017
21,2
2011
Nordeste
30,6
18,6
2017
31,4
2011
Sudeste
20,9
45,3
2017
33,8
2011
13,0
Sul
63,7
2017
31,8
2011
Centro-Oeste
35,3
2017
35,3
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2011/2017.

Em 2013, como um possível resultado destas normas, 268 municípios instituíram a Política Municipal de Saneamento, que traça diretrizes gerais para os serviços do setor, como abastecimento de água, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Dois anos depois, mais um pico: 291 municípios com suas respectivas políticas.

Ainda que tenha havido um aumento de 35, 4% em relação a 2011, no Brasil como um todo, apenas 38,2 % dos municípios (2.126) informaram ter Política Municipal de Saneamento Básico em 2017.

Número de municípios por ano do instrumento legal
que instituiu a Política Municipal de Saneamento - 2017
291
268
250
227
178
129
77
74
68
59
48
41
21
21
11
8
6
5
4
5
5
5
2
2000
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
2017
Não soube
informar
Nota: Coleta das informações realizada entre os meses de abril e setembro de 2017.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2017.
Número de municípios
por ano do instrumento
legal que instituiu a
Política Municipal
de Saneamento - 2017
291
129
77
74
21
11
5
2
2005
2010
2015
2017
Não soube
informar
Nota: Coleta das informações realizada entre os meses de abril e setembro de 2017.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2017.

— Houve um avanço diretamente relacionado à lei. A partir do momento em que o Governo Federal divulga uma política nacional de saneamento básico, e, em 2010, a regulamenta, faz com que os municípios se movimentem para estruturar suas políticas públicas em relação a isso. Assim, podem regulamentar suas ações, monitorar seus serviços para avaliar se está ou não sendo bem prestado — destaca Vânia Pacheco, gerente da Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE.

A partir dessa institucionalização da política de saneamento, o Governo Federal estabelece datas para que, se o município não tiver aqueles instrumentos de planejamento e gestão, não recebam recursos. Por outro lado, estas datas são constantemente postergadas.

Disparidades entre Norte e Sul

A pesquisa aponta desigualdades regionais: 63, 7% dos municípios do Sul informaram a existência de política em comparação com apenas 18, 6% do Nordeste. Os três estados da região Sul são os que tiveram a maior proporção de municípios com tal política em 2017.

Além da Política Municipal, o suplemento analisou o Plano Municipal de Saneamento Básico, estudos que trazem diagnóstico, objetivos e metas para os serviços no setor. Em 2017, apenas 41, 5% dos municípios do país (2.313) possuíam tal medida.

Mesmo que o total não contemple nem a metade, houve um aumento em relação a 2011, com destaque para o Sul, que teve um crescimento de cinco vezes entre 2011 e 2017 — atingindo 72, 9%. No Nordeste a proporção é de 15, 7%.

Após 31 de dezembro de 2019, a existência de um Plano Municipal de saneamento básico será condição necessária para o acesso a recursos orçamentários da União ou a recursos de financiamentos geridos ou administrados por órgão ou entidade da administração pública federal, quando destinados a serviços de saneamento básico. Esta data já foi redefinida quatro vezes.

Proporção de municípios por situação
do Plano Municipal de Saneamento Básico
Segundo as grandes regiões e as classes de tamanho da população 2011 - 2017
Com plano
regulamentado
Com plano sem
regulamentação
Com plano em
elaboração
Sem plano
2011
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Até 5 000 hab.
De 5 001 a 10 000 hab.
De 10 001 a 20 000 hab.
De 20 001 a 50 000 hab.
De 50 001 a 100 000 hab.
De 100 001 a 500 000 hab.
Mais de 500 000 hab.
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
100,0%
2017
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Até 5 000 hab.
De 5 001 a 10 000 hab.
De 10 001 a 20 000 hab.
De 20 001 a 50 000 hab.
De 50 001 a 100 000 hab.
De 100 001 a 500 000 hab.
Mais de 500 000 hab.
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
100,0%
Fonte: IBGE
Proporção de
municípios por situação
do Plano Municipal de
Saneamento Básico
Segundo as grandes regiões e as classes de tamanho da população 2011 - 2017
Com plano
regulamentado
Com plano sem
regulamentação
Com plano em
elaboração
Sem plano
2011
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Até 5 000 hab.
5 001-10 000 hab.
10 001-20 000 hab.
20 001-50 000 hab.
50 001-100 000 hab.
100 001-500 000 hab.
Mais de 500 000 hab.
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100%
2017
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Até 5 000 hab.
5 001-10 000 hab.
10 001-20 000 hab.
20 001-50 000 hab.
50 001-100 000 hab.
100 001-500 000 hab.
Mais de 500 000 hab.
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100%
Fonte: IBGE

Conforme estabelecido no Decreto 7.217, os Planos devem abranger os quatro serviços de saneamento básico, gestão dos serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de manejo de águas pluviais e de manejo de resíduos sólidos. Em 2017, 69,1% dos municípios com este instrumento atendiam a tal exigência.

— Os municípios do  Norte e Nordeste vem se aperfeiçoando em termos de gestão para se equiparar aos outros municípios do país. A institucionalização desses municípios vem acontecendo, um pouco mais lento, mas vem acontecendo — pontua Vânia.

Nível de implementação preocupa

Para Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, ao mesmo tempo que um aumento na quantidade de políticas e planos é positivo, os dados do IBGE “dão luz” à dificuldade que é implementar tais planejamentos em todos os municípios e é um resultado longe do ideal. Além disso, ele ressalta o fato de a lei para o setor ser de 2007, e 18 anos depois e o resultado ainda é de menos da metade dos municípios com um plano municipal.

— Nossa preocupação vai além: qual a qualidade dessas políticas e quais medidas estão sendo implementadas, virando projetos e obras. Nos preocupa avaliar o nível de implementação desses planos. Além da existência do plano, o importante é fazer água e esgoto chegarem na casa do cidadão — diz Édison. — Quando verificamos na prática, muitos lugares avançaram na construção dos planos mas nunca mais olharam para eles. Ter a política e plano é só o pontapé inicial. Plano precisa ser posto em andamento.

A pesquisa do IBGE traz ainda dados sobre aspectos dos planos, previstos na lei de 2007, como a existência de um conselho e comunicação com os usuários. A partir disso, a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Juliana Smiderle ressalta que os municípios com plano não necessariamente são de qualidade.

— A existência do plano não garante que o município terá melhor ou pior gestão de saneamento. É apenas um instrumento que serve para isso. Diante destes resultados, é preciso melhorar capacidade institucional e técnica — aponta a pesquisadora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV.