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Bolsonaro insinua falsa relação entre sua viagem a Moscou e retirada de tropas da Ucrânia

O anúncio russo de que retiraria parte de suas tropas da Ucrânia, que ainda não foi corroborado pela Otan, ocorreu antes da chegada do presidente a Moscou

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Por Redação
Atualização:

MOSCOU - O presidente Jair Bolsonaro insinuou, nesta quarta-feira, 16, uma falsa relação entre a sua viagem à Rússia e a suposta retirada de forças militares de Moscou da fronteira da Ucrânia. O anúncio russo de que retiraria parte de suas tropas, que ainda não foi corroborado pela Otan, ocorreu antes da chegada do presidente a Moscou, e seus partidários divulgaram falsamente que haveria uma relação entre os dois episódios.

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“Mantivemos nossa agenda e, por coincidência ou não, parte das tropas deixaram (sic) as fronteiras. Entendo que tudo indica grande sinalização de que um caminho para a solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”, afirmou ele.

A promessa do governo de Vladimir Putin de retirar as tropas da fronteira ocorreu após o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, anunciar no dia anterior que a Ucrânia poderia desistir de sua candidatura à Otan - uma medida que ajudaria a cumprir uma das principais demandas de Putin.

A pauta central da reunião entre Bolsonaro e Putin foi a crise dos fertilizantes, apesar da tensão com uma possível invasão russa à Ucrânia Foto: Oficial Kremlin/PR

O anúncio de Zelenski foi feito durante um encontro com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, que no dia seguinte se encontrou com Putin. A Alemanha é o principal importador do gás russo e seria fortemente atingida em caso de conflito.

As declarações de Bolsonaro foram feitas após apoiadores do governo usarem as redes sociais para associar as declarações russas de retirada das forças à sua presença em Moscou. O assunto virou “meme” nas mídias digitais, mas Bolsonaro também foi alvo de muitas críticas e comentários irônicos.

Em entrevista, Bolsonaro disse que o presidente da Rússia busca a paz. “Falei para ele que o Brasil é o país que apoia qualquer outro país e é solidário, desde que busquem a paz. E essa é a intenção dele. Não entramos em questões regionais específicas (durante o encontro bilateral), mas a posição do Brasil é essa”, afirmou o presidente, após encontro com empresários em Moscou.

Como mostrou o Estadão/Broadcast Político, Bolsonaro foi aconselhado pelo Itamaraty e também por ministros mais próximos que evitasse abordar o agravamento das relações entre Rússia e Ucrânia.“Somos solidários a todo e qualquer país, desde que caminhe para soluções. Putin é pessoa que busca a paz. Qualquer conflito não interessa a ninguém no mundo”, argumentou o presidente, ao admitir ter havido pressão de outros países para o cancelamento da visita a Moscou. 

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De acordo com seu relato, Putin e ele tiveram momentos de “muita informalidade”. “É, realmente, mais do que um casamento perfeito o que eu levo para o Brasil”, comparou Bolsonaro, ao acenar para a possibilidade de sua visita ter colaborado com a retirada de parte das tropas russas na fronteira com a Ucrânia.

As declarações russas de recuo das forças ainda não foram confirmadas por outros países. Na terça-feira, 15, o Ministério da Defesa da Rússia disse que algumas tropas estavam sendo retiradas da fronteira com a Ucrânia, um anúncio que o governo voltou a repetir hoje e acrescentou que estava encerrando o os exercícios militares na Crimeia. Os EUA e Otan, porém, dizem não ter visto ainda sinais de retorno das tropas, pelo contrário, haveria um aumento no número. 

"Infelizmente há uma diferença entre o que a Rússia diz e o que faz", disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em entrevista à ABC News. “E o que estamos vendo não é um retrocesso significativo. Pelo contrário, continuamos a ver forças - especialmente forças que estariam na vanguarda de qualquer agressão renovada contra a Ucrânia - continuando em massa na fronteira.”/NYT