Por Eduardo Pierre e Matheus Rodrigues, g1 Rio


Imagens comparam antes e depois de onde ônibus foram arrastados no temporal em Petrópolis

Imagens comparam antes e depois de onde ônibus foram arrastados no temporal em Petrópolis

Eram 18h da última terça-feira (15) quando dois ônibus que vinham do Centro de Petrópolis, já castigado pela maior tempestade da história, interromperam a viagem. Um bolsão d’água bloqueava a Rua Washington Luís, um dos principais eixos da cidade, que margeia o Rio Quitandinha.

A poça virou uma correnteza, que virou um tsunami, que engoliu os dois coletivos. Vizinhos registraram o desespero dos passageiros, e as imagens correram o mundo.

Os ônibus faziam as linhas 401 (Independência) e 465 (Amazonas).

Entenda, a seguir, como tudo aconteceu.

Repórter do g1 mostra local onde ônibus foram arrastados em Petrópolis

Repórter do g1 mostra local onde ônibus foram arrastados em Petrópolis

Um homem observa dois ônibus destruídos após temporal com deslizamentos em Petrópolis (RJ) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

O relevo

Petrópolis fica a 838 metros de altitude, em um vale no alto da Serra da Estrela. As entradas da cidade, na Rodovia Washington Luís (BR-040), ficam a 7 km do Centro Histórico, que está ligeiramente mais abaixo.

A Rua Washington Luís é um desses eixos e tem um leve declive.

Movimento de carros no pórtico de Petrópolis — Foto: Marcos Serra Lima/g1

A chuva atípica

A tempestade de terça foi a maior da história de Petrópolis.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, o volume pluviométrico que caiu em 24 horas é o maior registrado em Petrópolis desde o início das medições, em 1932 — em três horas, choveu mais do que o esperado para o mês de fevereiro inteiro.

Não houve um deslocamento de nuvens que pudesse servir de alerta para a meteorologia: o temporal se formou em cima de Petrópolis e, por conta do relevo, ficou preso sobre a cidade, despejando 259 mm de água em menos de uma tarde.

Entenda por que choveu tanto em Petrópolis

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A cabeça d’água

A água da chuva descia de todas as encostas e percorria os eixos até o Centro com velocidade constante e volume crescente.

A calha do Rio Quitandinha tem em média cinco metros de profundidade. Quando os dois ônibus chegaram na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro, o leito já estava transbordando, e um bolsão d’água impedia o caminho.

Os coletivos pararam, esperando que a água baixasse.

Ao invés disso, a enxurrada foi se avolumando.

Uma pessoa gravou um vídeo de dentro de um desses ônibus. “A situação aqui é essa: para-brisas quebrados, o interior todo tomado.”

Enxurrada que arrastaria os ônibus foi aumentando aos poucos — Foto: Reprodução/TV Globo

O tsunami

Em pouco tempo, a correnteza já fazia entrar água dentro dos ônibus. Alguns passageiros, como Gabriel — reconhecido pela família nas cenas do acidente —, foram para o teto dos veículos. Daniela ainda conseguiu mandar para a mãe um vídeo da enxurrada batendo no para-brisa: “Mãe, o ônibus está balançando para caramba!”

A poucos metros dali, uma encosta cedeu, e o barranco desabou sobre o Rio Quitandinha. A queda da barreira provocou um tsunami, que foi engolindo tudo em direção aos coletivos.

Queda de barreira provocou um tsunami no Rio Quitandinha — Foto: Reprodução/TV Globo

O desespero

“Subiu uma onda de quatro a seis metros, não sei exatamente o tamanho. Essa onda foi até a rua e puxou os ônibus para dentro dos rios”, afirmou Jamil Sabrá, secretário municipal de Transportes de Petrópolis.

Àquela altura, já não se sabia o que era Rua Washington Luís, o que era calha, o que era Rio Quitandinha.

Nos vídeos feitos por vizinhos, contam-se pelo menos 13 pessoas lutando pela vida — uma delas, uma criança com a mochila da escola nas costas.

Alguém joga uma escada. O motorista de um dos ônibus amarra uma corda no poste; algumas pessoas conseguem sair, outros passageiros ficam — como Rafael, deficiente físico. A corda arrebenta.

Um dos ônibus afunda. Uma pessoa consegue nadar até o outro ônibus. Logo o outro coletivo também é engolido pela água.

Passageiros são levados pela correnteza.

A água chegou a pelo menos sete metros de altura naquele ponto — cinco da calha e dois da rua.

O Sindicato das Empresas de Ônibus divulgou uma nota dizendo que, até o momento, não tinha como informar o que aconteceu com os passageiros.

A entidade afirmou também que há notícias de sobreviventes, entre eles os motoristas.

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Um homem observa dois ônibus destruídos após temporal em Petrópolis (RJ) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

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