Imagens comparam antes e depois de onde ônibus foram arrastados no temporal em Petrópolis
Eram 18h da última terça-feira (15) quando dois ônibus que vinham do Centro de Petrópolis, já castigado pela maior tempestade da história, interromperam a viagem. Um bolsão d’água bloqueava a Rua Washington Luís, um dos principais eixos da cidade, que margeia o Rio Quitandinha.
A poça virou uma correnteza, que virou um tsunami, que engoliu os dois coletivos. Vizinhos registraram o desespero dos passageiros, e as imagens correram o mundo.
Os ônibus faziam as linhas 401 (Independência) e 465 (Amazonas).
Entenda, a seguir, como tudo aconteceu.
Repórter do g1 mostra local onde ônibus foram arrastados em Petrópolis
Um homem observa dois ônibus destruídos após temporal com deslizamentos em Petrópolis (RJ) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters
O relevo
Petrópolis fica a 838 metros de altitude, em um vale no alto da Serra da Estrela. As entradas da cidade, na Rodovia Washington Luís (BR-040), ficam a 7 km do Centro Histórico, que está ligeiramente mais abaixo.
A Rua Washington Luís é um desses eixos e tem um leve declive.
Movimento de carros no pórtico de Petrópolis — Foto: Marcos Serra Lima/g1
A chuva atípica
A tempestade de terça foi a maior da história de Petrópolis.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, o volume pluviométrico que caiu em 24 horas é o maior registrado em Petrópolis desde o início das medições, em 1932 — em três horas, choveu mais do que o esperado para o mês de fevereiro inteiro.
Não houve um deslocamento de nuvens que pudesse servir de alerta para a meteorologia: o temporal se formou em cima de Petrópolis e, por conta do relevo, ficou preso sobre a cidade, despejando 259 mm de água em menos de uma tarde.
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A cabeça d’água
A água da chuva descia de todas as encostas e percorria os eixos até o Centro com velocidade constante e volume crescente.
A calha do Rio Quitandinha tem em média cinco metros de profundidade. Quando os dois ônibus chegaram na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro, o leito já estava transbordando, e um bolsão d’água impedia o caminho.
Os coletivos pararam, esperando que a água baixasse.
Ao invés disso, a enxurrada foi se avolumando.
Uma pessoa gravou um vídeo de dentro de um desses ônibus. “A situação aqui é essa: para-brisas quebrados, o interior todo tomado.”
Enxurrada que arrastaria os ônibus foi aumentando aos poucos — Foto: Reprodução/TV Globo
O tsunami
Em pouco tempo, a correnteza já fazia entrar água dentro dos ônibus. Alguns passageiros, como Gabriel — reconhecido pela família nas cenas do acidente —, foram para o teto dos veículos. Daniela ainda conseguiu mandar para a mãe um vídeo da enxurrada batendo no para-brisa: “Mãe, o ônibus está balançando para caramba!”
A poucos metros dali, uma encosta cedeu, e o barranco desabou sobre o Rio Quitandinha. A queda da barreira provocou um tsunami, que foi engolindo tudo em direção aos coletivos.
Queda de barreira provocou um tsunami no Rio Quitandinha — Foto: Reprodução/TV Globo
O desespero
“Subiu uma onda de quatro a seis metros, não sei exatamente o tamanho. Essa onda foi até a rua e puxou os ônibus para dentro dos rios”, afirmou Jamil Sabrá, secretário municipal de Transportes de Petrópolis.
Àquela altura, já não se sabia o que era Rua Washington Luís, o que era calha, o que era Rio Quitandinha.
Nos vídeos feitos por vizinhos, contam-se pelo menos 13 pessoas lutando pela vida — uma delas, uma criança com a mochila da escola nas costas.
Alguém joga uma escada. O motorista de um dos ônibus amarra uma corda no poste; algumas pessoas conseguem sair, outros passageiros ficam — como Rafael, deficiente físico. A corda arrebenta.
Um dos ônibus afunda. Uma pessoa consegue nadar até o outro ônibus. Logo o outro coletivo também é engolido pela água.
Passageiros são levados pela correnteza.
A água chegou a pelo menos sete metros de altura naquele ponto — cinco da calha e dois da rua.
O Sindicato das Empresas de Ônibus divulgou uma nota dizendo que, até o momento, não tinha como informar o que aconteceu com os passageiros.
A entidade afirmou também que há notícias de sobreviventes, entre eles os motoristas.
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Um homem observa dois ônibus destruídos após temporal em Petrópolis (RJ) — Foto: Ricardo Moraes/Reuters