Por Arthur Guimarães, Leslie Leitão, Marco Antônio Martins e Pedro Figueiredo, RJ2


Efetivo de 500 bombeiros só atuou junto em Petrópolis uma vez; em dia crítico, havia 110 homens para cobrir 51 pontos de busca

Efetivo de 500 bombeiros só atuou junto em Petrópolis uma vez; em dia crítico, havia 110 homens para cobrir 51 pontos de busca

O Governo do Rio de Janeiro tem anunciado que cerca de 500 bombeiros atuam nos resgates às vítimas da tragédia em Petrópolis, na Região Serrana. Entretanto, mensagens internas da corporação às quais a TV Globo teve acesso mostram que, desde o início dos trabalhos, só num dos dias de salvamento é que o número de bombeiros atuando no município foi igual ao divulgado.

O único dia em que o todo o efetivo foi empregado foi na quarta-feira (16) à noite, um dia depois do temporal, quando havia 555 bombeiros nas buscas em Petrópolis. Na quinta-feira (17), às 6h30, apenas 110 militares trabalhavam em 22 equipes de busca.

Às 13h30 e às 15h do mesmo dia, eram 197 bombeiros trabalhando. Depois, às 18h, eram 216 -- menos da metade do número anunciado pelas autoridades do governo.

O problema é que são muitos pontos de deslizamento da tragédia. No total, as equipes de resgate trabalham em 51 pontos onde houve vítimas. O atual comandante do Corpo de Bombeiros rebateu as críticas.

"O Corpo de Bombeiros tem que trabalhar de forma segura e preservar a vida dos moradores e dos agentes. Tem lugares que a gente só pode ir com cinco [bombeiros], a barreira pode romper, então a gente tem que preservar a vida. Então, a população, ela tem a necessidade e está certa de querer mais bombeiros, então ela vê e porque só tem sete bombeiros, não está faltando bombeiro, estamos trabalhando de forma técnica", disse o coronel Leandro Monteiro.

Faltam equipamentos

Uma reportagem publicada pelo Uol e confirmada pela TV Globo mostra que os bombeiros tentam comprar emergencialmente, ou seja, sem licitação, materiais para serem usados em Petrópolis. A lista inclui: 250 capacetes, 100 luvas. 1 mil máscaras, 200 lanternas, 240 enxadas e 250 pares de galocha.

O almoxarife-geral dos bombeiros do RJ afirma que o almoxarifado não dispõe dos materiais solicitados. Entretanto, o comandante do Corpo de Bombeiros afirmou que o estoque é suficiente.

Bombeiros retiram o corpo de uma vítima dos deslizamentos no quarto dia de resgate em Petrópolis (RJ), nesta sexta (18) — Foto: Silvia Izquierdo/AP

"A Diretoria de Produtos vem trabalhando para que não falte nada para os militares do Rio de Janeiro e para os militares de outros estados. Você pode observar, aqui, no depósito, aqui de Petrópolis, são equipamentos nosso", afirmou Monteiro.

"Estamos recebendo muitos militares de fora e a nossa preocupação é: 'Como é que eles estão vindo? Estão vindo com ou sem [equipamento]?' Eles têm que receber o mesmo material que a gente tem. Estamos nos preparando para que, caso haja necessidade, a gente vai comprar", acrescentou.

População pede ajuda

A voluntária Marilene de Oliveira, que está em Petrópolis, ressaltou a quantidade de pessoas agindo por conta própria para tentar socorrer as vítimas. "Você só vê voluntário de gente assim, do bairro. Você não vê bombeiros", pontuou.

"A gente está precisando de ajuda, de Corpo dos Bombeiros, de ferramenta", pediu a mulher.

Outros relatos apontam para a carência de bombeiros em alguns lugares, locais onde segundo os moradores os moradores nunca chegaram.

Equipes ainda buscam embaixo da lama por desaparecidos em Petrópolis

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Na terça-feira (15) à noite, dia da tragédia, o governador Cláudio Castro (PL) foi a Petrópolis e acompanhou os trabalhos. No dia seguinte, Castro agradeceu a oferta de ajuda de outros estados, mas disse que não era preciso.

"Queria também agradecer aos governadores, vários ligaram, mandaram mensagens colocando as suas estruturas à disposição de Petrópolis. E tá guardadinho aqui pra se nós realmente precisarmos", afirmou Castro em coletiva de imprensa.

Na quinta, em entrevista ao g1, Cláudio Castro disse que a avaliação -- até as 18h30 -- era que as equipes do governo com as equipes dos municípios seriam suficientes. Ao mesmo tempo, em pontos onde não havia nenhum bombeiro, famílias tentavam retirar vítimas soterradas.

"Minha mulher e meu filho estão aqui, tem muita gente morta lá em cima. Eles dizem que o cachorro não pode vir. Ninguém está fazendo nada pela gente aqui", reclamou um morador.

Ajuda de outros estados

Dias depois de falar que não precisava de ajuda, o Governo do RJ resolveu pedir apoio a outros estados, que finalmente começaram a chegar a Petrópolis.

São 80 militares e 36 cães de salvamento de 13 estados e do Distrito Federal. Na maior parte dos casos, os agentes enviados acompanham os animais.

Especialistas comentam

Para o professor do programa de pós-graduação em segurança e defesa civil da Universidade Federal Fluminense, Elson Nascimento, o governo errou ao não pedir ajuda antes. E afirma que todos os pontos com vítimas deveriam ter resgate treinadas.

"Como são vários pontos, é fundamental que em cada ponto tenham equipes e equipamentos. Isso é fundamental. Eu ouvi agora recente que estão mobilizando bombeiros de todo o país, isso sim tem que ser intensificado ao máximo, ao máximo, não só para o resgate", afirmou Nascimento.

Para o ex-comandante do Corpo de Bombeiros do RJ, coronel Roberto Robadey, a presença de moradores e voluntários em áreas de deslizamento cria riscos.

Essas pessoas não têm preparo, não têm comunicação com a central de operação pra saber que a chuva vai aumentar, e aí tem que tirar as equipes. Essas pessoas estão ali, óbvio, é inevitável, elas querem encontrar seus mortos", afirmou o oficial.

Segundo Robadey, os bombeiros conseguem mandar mais equipes para Petrópolis.

"O Corpo de Bombeiros do Rio é muito grande, cerca de 12 mil homens, facilmente nós mobilizamos militares da reserva que estão ávidos por trabalhar, por ajudar. Então, é uma questão, talvez, de gestão", afirmou Robadey.

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