“O filme passa da ansiedade de uma performance musical para a experiência de lidar com a perda. Bruno Ribeiro pinta o retrato de uma artista que enfrenta o luto enquanto se debate entre o medo e o desejo de vencer.” Foi assim que o júri da mostra competitiva de curtas-metragens do Festival de Berlim justificou a escolha do filme brasileiro “Manhã de domingo” como vencedor do Urso de Prata , na última quarta-feira, dia 16.
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Bruno tem 27 anos, é carioca, viajou para a Alemanha com recursos de uma vaquinha virtual e quer entrar por essa “porta aberta” pelo festival. Recentemente, ele virou a chave e abriu a Reduto Filmes, produtora independente localizada no Rio.
Quarto curta-metragem do diretor, “Manhã de domingo” acompanha Gabriela, interpretada por Raquel Paixão, uma jovem pianista negra prestes a se apresentar em seu primeiro grande recital. Ao mesmo tempo, ela lida com o luto pela perda da mãe.
Assim como sua protagonista, o diretor lidou com o luto em meio a processo criativo: perdeu a mãe recentemente e dedicou a ela o prêmio em Berlim:
— No momento em que estava escrevendo e filmando o curta, minha mãe enfrentava um câncer de mama e faleceu pouco depois das filmagens. A luta dela me fazia pensar sobre a morte e me trazia memórias, como da casa em que vivi com ela e minha avó em Gargaú, no município de São Francisco de Itabapoana, interior do Rio.
A relação de Bruno com a mãe, inclusive, foi fundamental para despertar a paixão pelo cinema:
— O primeiro filme a que assisti no cinema foi “Titanic”, sendo que tinha 3 anos, nem poderia entrar na sala, mas minha mãe conseguiu me levar. Tínhamos um ritual de ir ao cinema todo final de semana.
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Antes de “Manhã de domingo”, ele dirigiu os curtas “Pele suja minha carne” (2016), “BR3” (2018) e “Gargaú” (2021). O segundo, inclusive, com passagens pelos festivais de Rotterdam e Brasília.
No momento, o diretor trabalha no longa-metragem “Sião”, inspirado no período em que morou com a mãe em Portugal, entre os 3 e 11 anos. Em sua essência, é sobre como foi ser um garoto brasileiro negro numa terra estrangeira.
— Espero ver muito mais dele, inclusive longas. ele tem talento, ideias e carisma — diz Kleber Mendonça Filho, diretor de “Bacurau”.