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Livro reúne 60 textos sobre Chico Buarque escritos por personalidades como Caetano, Clarice e Saramago

Publicação do designer pernambucano Augusto Lins Soares traz crônicas, ensaios, poemas e comentários em redes sociais sobre o compositor
O escritor, cantor e compositor Chico Buarque Foto: Bob Wolfenson / Agência O Globo
O escritor, cantor e compositor Chico Buarque Foto: Bob Wolfenson / Agência O Globo

Quando programou “Meu caro Chico — Depoimentos” para sair em outubro deste ano, Augusto Lins Soares não tinha a informação de que Chico Buarque lançaria no mesmo mês “Anos de chumbo e outros contos” . Um dos contos é “Para Clarice Lispector, com candura”. No volume organizado pelo arquiteto e designer pernambucano está a motivação do título. Trata-se de um bilhete da escritora para o compositor, então com 27 anos: “Você tem a coisa mais preciosa que existe: é candura”.

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A coincidência é um dos atrativos do livro que reúne 60 textos sobre o artista. Há crônicas, ensaios, poemas e até posts de redes sociais. O objetivo da compilação não é ampliar a fortuna crítica sobre a obra de Chico.

— Minha intenção foi trazer um olhar diferente, com depoimentos de figuras de várias gerações sobre um artista tão importante — afirma Augusto. — Eu queria que fossem vozes múltiplas. São pessoas de diversas áreas: música, psicanálise, literatura e outras.

Ele não quis hierarquizar os textos. Para facilitar a vida do leitor, segundo diz, organizou os capítulos seguindo a ordem alfabética: da ensaísta Adelia Bezerra de Menezes ao historiador da música Zuza Homem de Mello , que morreu em 2020.

“Até assusta ver um rapaz tão novo fazendo as coisas tão boas e tão certas. Que a glória, que lhe vem tão fácil, não o atrapalhe”

Rubem Braga, 1966
crônica sobre Chico Buarque

Se a ordem fosse cronológica, começaria em 1966, com uma crônica de Carlos Drummond de Andrade para o Correio da Manhã, na qual o poeta exaltava “A banda”. E viria até este ano, com textos preparados especialmente para o livro, como os da cantora Carminho e do cantor Criolo.

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Chico Buarque no lançamento de “A banda”, em 1966, na Livraria Francisco Alves: crônica de Drummond exaltou livro na época Foto: Arquivo/12-12-1966
Chico Buarque no lançamento de “A banda”, em 1966, na Livraria Francisco Alves: crônica de Drummond exaltou livro na época Foto: Arquivo/12-12-1966

“Meu caro Chico” é um desdobramento de “Revela-te, Chico — Uma fotobiografia”, lançada por Augusto em 2018. Ele encomendou depoimentos para o volume, mas não haveria espaço para todos. Preferiu não usá-los e aproveitá-los em outro trabalho. São os casos, por exemplo, dos de Maria Bethânia e Miúcha, ambos de 2017. O da irmã de Chico é especialmente significativo, já que ela morreria no ano seguinte.

— Ela demorou a entregar, porque queria falar de algo que ainda não tivesse contado. E fez um texto lindo sobre como nasceu “Maninha”, que Chico fez para ela [em 1977]— conta Augusto.

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Lula, Caetano e Saramago

A família se faz presente em outro capítulo, o que traz um texto do historiador Sérgio Buarque de Holanda, pai do compositor, em 1967. “Têm surgido boatos por aí, de que eu componho as músicas para ele. Mas, meu Deus, quem sou eu para ter tanto talento? Se eu soubesse escrever músicas como ele, há muito tempo não seria eu mesmo, mas Chico Buarque de Hollanda”, diz um trecho.

Mais um capítulo curioso é o da carta-poema enviada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1999 e que ainda não tinha sido publicada.

“"Convidei você porque, além de você ser altamente gostável, você tem a coisa mais preciosa que existe: candura””

Clarice Lispector (1971)
Bilhete para Chico Buarque

Caetano Veloso está presente com um post publicado em 2018 sobre o show “Caravanas”. Entre os demais autores que integram a compilação estão José Saramago, Luis Fernando Verissimo, Cacá Diegues, Rubem Braga, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Maria Rita Kehl, Glauber Rocha e Torquato Neto.

A procura de Augusto pela editora Francisco Alves tem uma explicação: o primeiro livro assinado por Chico saiu em 1966 pela mesma editora. Chamou-se “A banda — Manuscritos de Chico Buarque de Hollanda” e tinha, além de letras de canções, o conto “Ulisses”.

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Diretor de arte de várias revistas, Augusto largou a imprensa para se dedicar, principalmente, a livros de fotografias. Também em 2021, lançou “Thereza Eugênia — Portraits 1970-1980”, com o trabalho da fotógrafa que retratou muitos artistas, entre eles Chico, Caetano e Bethânia. E prepara para 2022 uma fotobiografia de Sônia Braga.