No Parlamento Europeu, Lula afaga Alckmin e deixa definição da chapa em aberto

Petista disse que recebe muitas sugestões para vice e que tem uma “extraordinária relação de respeito” com o tucano

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista no Parlamento Europeu
Em entrevista no Parlamento Europeu, Lula criticou Bolsonaro e falou em "reconquistar" a democracia no Brasil
Copyright Reprodução/YouTube - 15.nov.2021

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta 2ª feira (15.nov.2021) que não há nada que aconteceu entre ele e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) que não possa ser reconciliado. O tucano vem sendo apontado como um possível nome para candidatura à Vice-Presidência da República, em uma chapa com o petista nas eleições de 2022. Deu a declaração em conversa com jornalistas no Parlamento Europeu, em Bruxelas, capital da Bélgica.

Lula também disse que tem “extraordinária relação de respeito” com Alckmin, e que ainda não discutiu sugestões para vice, e nem se será candidato ano que vem. “Já tenho 22 vices, 8 ministros da Economia, quando ainda nem decidi ser candidato”, afirmou. “O vice é uma pessoa que tem quer ser levada muito a sério na relação com o presidente, porque o vice pode ser presidente. E depois, o vice tem que ser uma pessoa que soma com o presidente, e não que diverge”. 

“Política às vezes é como um jogo de futebol, você dá uma botinada no cara, ele cai de dor, mas depois que acaba o jogo, eles se abraçam e vão tomar uma cerveja e discutir o próximo jogo. Eu disputei as eleições de 2006 com o Alckmin, mas tenho profundo respeito por ele. Mas eu não tô discutindo vice ainda porque não discuti a minha candidatura. Quando eu decidir ser candidato, aí sim eu vou sair a campo para escolher um vice”.

Assista (1m41s):

As declarações foram feitas ao lado da presidente do bloco social democrata do Parlamento Europeu, Iratxe García Pérez, anfitriã do encontro. Na sequência, o ex-presidente participou da Conferência de Alto Nível da América Latina, promovida por parlamentares do grupo. Com nome “Juntos durante a crise para uma nova agenda progressista”, o evento reunirá líderes da Europa e da América Latina.

Em sua fala, Lula disse que é preciso “reconquistar” a democracia no Brasil. Afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é uma “cópia mal feita de Trump”, em uma comparação com o ex-presidente norte-americano. Também declarou que o atual chefe do Executivo brasileiro representa uma peça importante para a extrema-direita fascista e nazista.

“Falar da anti-política é falar do governo brasileiro. O Brasil não merecia passar pelo que está passando”, afirmou Lula. O ex-presidente declarou que, se pudesse, Bolsonaro “vendia tudo” que o país tem. “Já está destruindo a Petrobras. Eles estão desestruturando a empresa, já venderam gasodutos, já venderam a distribuidora, querem tentar vender banco público, o BNDES”. 

Lula disse que Bolsonaro “não pensa” e “não entende de absolutamente nada”. “Ele [Bolsonaro] acaba de anunciar o fim do programa Bolsa Família. É o programa que mais deu certo de inclusão social, e ele acaba de desativar esse programa e criou um outro chamado Auxílio Brasil, que quer fazer para disputar as eleições de 2022″. 

O petista também criticou o ex-juiz e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro Sergio Moro, responsável pelas decisões que o levaram à prisão, em julgamentos de casos da Operação Lava Jato. Lula disse que Moro “fez um julgamento político” e que queria ser ministro da Justiça. Moro se filiou ao Podemos na última semana e foi lançado como pré-candidato ao Planalto.

A presidente do bloco social democrata do Parlamento Europeu, Iratxe García Pérez, disse o grupo pretende assinar um memorando de entendimento entre o PT e os sociais-democratas, a fim de estreitar relações com a esquerda latino-americana. Declarou que recebeu um convite do PT para ir ao Brasil.

Para Pérez, a assinatura do documento será importante diante das eleições presidenciais de 2022. “É um momento crucial e precisamos acabar com o governo de Bolsonaro”, afirmou. “Pelo seu autoritarismo, porque isso põe em risco a demicracia, pelo seu comportamento, poderíamos dizer, criminoso na pandemia, pelo seu negacionismo climático e pela exclusão da biodiversidade no Brasil, pela sua misoginia, ódio e ataques às mulheres. É necessário que  haja uma mudança no Brasil e o grupo social-democrata estará trabalhando e colaborando para isso”.

Euro tour

Lula está em um tour pela Europa desde o final da última semana. Na 6ª feira (12.nov), se encontrou com Olaf Sholz, futuro chanceler da Alemanha. Segundo o PT, a conversa entre os 2 durou cerca de uma hora. Falaram sobre as negociações do líder alemão com partidos de esquerda para a formação do governo. A Alemanha adota o sistema parlamentarista, que exige do governante a maioria no Bundestag (Parlamento Alemão).

O social-democrata Scholz, que venceu as eleições de setembro e substituirá Angela Merkel, disse que ficou “muito satisfeito” com o encontro.

O encontro faz parte do tour feito por Lula na Europa. A 1ª parada do pré-candidato do PT à Presidência da República em 2022 foi na Alemanha, onde mais cedo posou ao lado de lideranças sindicais alemãs. Sem dar detalhes, o petista afirmou que debateu com o grupo os desafios de organização da classe trabalhadora no Brasil e no mundo. A agenda do petista pelo continente também ainda inclui passagens pela França, em 16 de novembro, e Espanha, em 18 de novembro.

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