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Levantamento mostra queda na idade média dos internados no Rio por Covid-19 após doses de reforço em idosos

Dados de hospitalizações na capital compilados pelo estatístico Rafael Izbicki mostram os efeitos positivos da terceira dose da vacina
Vacinação no Museu da República, no Catete Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Vacinação no Museu da República, no Catete Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO — A poucos dias de terminar a imunização de reforço em todos os idosos , a cidade do Rio já sente na ponta os benefícios da terceira dose da vacina contra a Covid-19. Um levantamento realizado pelo estatístico Rafael Izbicki, professor da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo, a pedido do GLOBO, com dados da cidade do Rio, mostra os efeitos positivos da terceira dose nos casos de internação de Covid-19 na cidade. Os números mostram que, nas últimas semanas, a idade média dos internados caiu de 69 para 59 anos. Outro sinal da influência da dose extra também já reflete nos números: a cada semana, diminui a proporção de novas hospitalizações por coronavírus de quem tem mais de 75 anos em relação aos mais novos.

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O levantamento feito pelo matemático, usando dados de hospitalizações divulgados semanalmente pelo Ministério da Saúde na plataforma Opendatasus, que reúne as informações de pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave. Para realizar a projeção, Izbicki fez um recorte para as pessoas com mais de 75 anos por esse grupo já estar há mais de um mês recebendo a dose de reforço. A terceira dose contra a Covid-19 começou a ser aplicada nos idosos da capital no dia 13 de setembro, com todos aqueles que tinham 95 anos ou mais. Da mesma forma que o início da campanha de vacinação, o calendário foi avançando escalonadamente até os 60 anos, previsto para os próximos dias.

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Do início da pandemia até o começo da vacinação em janeiro de 2021, a idade média dos internados por coronavírus na capital variava entre 60 e 65 anos. Após o início da imunização, gradualmente o índice foi caindo, chegando ao menor patamar em junho. Foi neste mês, inclusive, que aumentaram a percepção dos médicos da linha de frente que havia mudado o perfil dos internados: os mais jovens ocupavam os leitos onde antes só idosos ficavam. O mês de junho terminou com o calendário vacinando com a primeira dose cariocas de 44 anos.

Nos meses seguintes, houve a interseção temporal de dois fatores que influenciaram a idade média dos internados voltar a subir. O primeiro foi o avanço da cobertura vacinal entre os mais jovens, que terminou de imunizar em agosto todos acima de 18 anos. Junto disso, o início do segundo semestre foi o momento em que pesquisadores começaram a discutir a necessidade de uma dose de reforço aos idosos, por ter indícios de queda na proteção deste grupo.

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Em outubro, a proporção de idosos acima de 75 anos foi a maior de toda a pandemia: 41% dos hospitalizados estavam nesta faixa etária. Entretanto, com a redução nas últimas semanas, o índice já está em 30%.

—  A idade média dos internados por casos graves de Covid (SRAG) está consistentemente caindo nas últimas semanas. A idade média atingiu o pico máximo de 69 anos em setembro, maior que antes da vacinação. O percentual de idosos maiores de 75 anos entre os pacientes internados também vem consistentemente caindo — analisa Izbicki.

Dados da prefeitura do Rio mostram que, somente entre os maiores de 75 anos, quase 80 mil idosos já completaram o ciclo vacinal, mas ainda não receberam a terceira dose.  Entre todos os idosos, o maior percentual das doses de reforço aplicadas está na faixa etária dos 70 a 74 anos, com 79% de D3. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, diz que os idosos naturalmente têm um atraso maior no momento de vacinação, mas que o Rio tenta levá-los aos postos

— Dos 51 internados hoje na rede pública do município, 12 são crianças abaixo do público alvo de imunização. Muitos idosos tomaram a vacina atrasados e ainda não completaram os três meses de intervalo entre a segunda dose e o reforço. Faremos a busca ativa para ampliar essa cobertura. Cerca de 10% dos idosos tomaram a vacina atrasada — explica.

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O reforço também passou a ser cobrado, na última semana, no passaporte vacinal de todos os maiores de 61 anos . Pelos números da prefeitura do Rio até o último sábado, quase 225 mil idosos acima de 70 anos ainda não receberam a terceira dose e podem ser barrados nos locais onde a comprovação vacinal é exigida.

Atraso na vacinação dos idosos

  • 80 anos ou mais: 49.230 com duas doses, 7.412 não vacinados
  • 75 a 79 anos: 29.218 com duas doses, 14.905 com a primeira dose
  • 70 a 74 anos: 34.617 com duas doses, 3.364 com a primeira dose e 6.847 não vacinados
  • 65 a 69 anos: 78.918 com duas doses

Entre o número de atrasados, o grupo que mais preocupa são os mais de 14 mil idosos que não tomaram nenhuma vacina contra a Covid-19. Os dados também mostram que mais de 18 mil ainda não completaram o primeiro ciclo vacinal com duas doses.

Para  Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), os números mostram a necessidade de realizar uma campanha para explicar aos mais idosos a necessidade e os benefícios da dose de reforço.

— Com o tempo, independente de variantes ou da fabricante, a proteção cai. A dose de reforço é uma maneira de aumentar a proteção para que a pessoa não adoeça. A cobertura vacinal se faz com o tempo e sempre temos pessoas que ficam ali próximo a 20% protelando, deixando para depois. Também pela idade podem ter pessoas que nem sabem que está ocorrendo a terceira dose, outras podem ter pedido a data. É algo difícil de comunicar e é por isso que é preciso ter um trabalho fixo com eles — diz Ballalai.

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Com a aproximação do fim da vacinação da dose de reforço no grupo de idosos, a Prefeitura do Rio pediu ao Ministério da Saúde que incluísse no Plano Nacional De Imunizações (PNI) a terceira dose de não idosos. Pelo planejamento atual, o município prevê a possibilidade de começar a aplicar o reforço na faixa dos 50 anos em janeiro de 2022. Isso, no entanto, depende da chegada de mais imunizante no país, além da inclusão do grupo no PNI.

Em paralelo ao desejo de começar o reforço nos mais jovens, nos próximos meses, a Secretaria municipal de Saúde do Rio, a Fiocruz e o Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino farão um estudo para avaliar a segurança, eficácia e os possíveis benefícios de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 em todos os adultos . A pesquisa avaliará, entre outras coisas, o comportamento da dose de reforço com diferentes combinações. Para isso metade do grupo receberá o imunizante da Pfizer — como atualmente acontece com idosos — e a outra parte será imunizada com a vacina produzida pela AstraZeneca.