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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O preço de ser pária

Sucesso de Lula na Europa exibe desprezo de chefes de Estado por Bolsonaro

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 nov 2021, 16h28

A recepção do presidente francês Emmanuel Macron ao ex-presidente Lula da Silva nesta quarta-feira, 17, no Palácio dos Eliseus, em Paris, é um símbolo evidente do prestígio do petista, mas ainda mais do descrédito do governo Jair Bolsonaro no exterior. Em uma semana na Europa, Lula já se encontrou com o futuro chanceler da Alemanha, com o presidente da França, a prefeita de Paris e o bloco do Parlamento Europeu em Bruxelas. Em Madri, ele será recebido pelo presidente de governo da Espanha, Pedro Sánches. Quando esteve na Conferência de Líderes do G20, em Roma, no início do mês, Bolsonaro não conseguiu ser recebido por ninguém e ficou isolado até das rodinhas de cafezinho.

Três semanas atrás, quando fechava a agenda de Jair Bolsonaro depois da reunião de cúpula do G20, o Itamaraty tentou marcar uma visita oficial ao presidente da França. A resposta foi seca: Macron toparia um encontro em Glasgow, no Reino Unido, na 26.a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) marcada justamente nos dias seguintes à reunião de Roma para que os chefes de Estado pudessem participar. O governo Macron sabia que Bolsonaro, maior vilão ambiental do planeta, não teria coragem de ir à COP26 e que, portanto, o encontro não ocorreria.

Em 2019, Bolsonaro e Macron bateram boca sobre as queimadas da Amazônia, diálogo que terminou com o brasileiro sem argumentos chamando a mulher do francês de “feia”. No G20 de Roma, perguntado pelo repórter Jamil Chade, Macron avaliou a relação de Brasil e França. Depois de silêncio, o francês respondeu: “Já foi melhor”. Sem a opção de ir a Paris, Bolsonaro gastou três dias depois do G20 em turismo pela Itália, onde segundo ele conheceu a “torre de pizza”.

Na COP26, sem a presença pessoal de Bolsonaro, o Brasil entrou como vilão e passou a vergonha de ter o chefe da delegação, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, se dizer “surpreendido” com a divulgação dos dados mostrando o maior desmatamento na Amazônia para o mês de outubro da história.

O desprezo do presidente da França e as críticas dos ambientalistas ao descaso com a Amazônia fazem parte de uma crise maior da reputação do Brasil no exterior. Pesquisa PoderData realizada de 8 a 10 de novembro de 2021 mostra que 59% dos eleitores brasileiros acham que a imagem do Brasil no exterior piorou nos últimos meses e apenas 20% avaliam que houve alguma melhora –percentual inferior à taxa de aprovação ao governo Bolsonaro no mesmo período.

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No início de setembro, a China embargou as importações de carne bovina, depois que o Ministério da Agricultura informou sobre a suspeita de casos da doença da Vaca Louca. Era uma medida protocolar e quando os casos foram descartados ainda em setembro, esperava-se que o embargo fosse cancelado. Não foram e os pecuaristas já deixaram de exportar mais de US$ 5 bilhões com a quebra nas vendas para a China. Por semanas, o Ministério das Relações Exteriores chinês sequer respondia às cartas do Brasil, uma demora que naturalmente está relacionada com a sinofobia do presidente Bolsonaro.

“O que foi feito com a China foi molecagem. O poder está na mão do consumidor, de quem paga. Se você vira para um cliente e diz: ‘você não tem opção’, ele vai imediatamente procurar outro (fornecedor). Mesmo que ele demore um tempo para encontrá-lo, a partir daquele momento ele não te trata bem mais. Ele sabe que não pode confiar em você. Ficar sem a China hoje é inimaginável. O Brasil passou a ter relações internacionais depois da entrada do chanceler (Carlos) França. Lamentavelmente, nos tempos do Ernesto Araújo tivemos uma inversão do termo conhecido como relações internacionais. Ele foi a destruição das relações brasileiras com seus principais clientes. Só deve dar pitaco em relações internacionais quem entende. Quem é amador fica em casa”, disse ao Estadão , o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Britto.

Com os EUA, com quem a diplomacia brasileira trabalha em parceria mesmo no governo Biden, as coisas também vão mal. A primeira viagem do secretario de Estado Anthony Blinken à América do Sul não incluiu o Brasil e o secretario de Meio Ambiente John Kerry adiou sua viagem a Amazônia à espera de resultados efetivos no combate ao desmatamento. Se depender de Bolsonaro, pode esperar sentado.

O clima na Casa Branca é o mesmo do Palácio dos Eliseus francês, que o mesmo do Zhongnanhai chinês, que é o mesmo do Bundeskanzleramt alemão ou da Casa Rosada argentina: esperar até Bolsonaro deixar o poder para, só então, voltar a negociar com o Brasil.

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