Coluna
Ascânio Seleme
Ascânio Seleme Foto: O Globo

O grande beneficiado

Vítima de um ataque que quase lhe tirou a vida, Bolsonaro é o principal beneficiário político do atentado

Jair Bolsonaro, vítima de ataque perpetrado por um lunático que quase lhe tirou a vida, é também o principal beneficiário político do atentado. Desde a tarde de quinta-feira, quando foi atingido numa rua de Juiz de Fora, Bolsonaro é o “único” tema da campanha eleitoral nos jornais, nas rádios e nas TVs. A facada garantiu a ele um espaço positivo na mídia que normalmente não teria. As TVs tentam ser milimétricas na concessão de tempo para os candidatos em seus noticiosos, de modo a privilegiar o equilíbrio. E, claro, publicam também pontos negativos da campanha. O atentado subverteu esta ordem.

De vítima, Bolsonaro virou notícia. Notícia boa para ele. Seus poucos segundos no horário eleitoral transformaram-se em dezenas de horas de cobertura. E cobertura noticiosa vale muito mais do que propaganda política. Seus aliados se queixam de que ele terá de suspender a campanha durante a internação. Bobagem. Não existe campanha melhor do que a feita de um leito, especialmente considerando-se as circunstâncias que levaram o candidato para o hospital. Serão de sete a dez dias de intensa campanha eleitoral desde o Albert Einstein.

Com algumas raras exceções, o tema das coberturas é de repúdio à violência, de defesa da democracia, de indignação contra a onda de intolerância que assola o país de maneira crescente. Alguns analistas sugeriram que esta é a hora de união entre todos para que se possa superar a interminável corrente de ódio que divide o Brasil. Nenhuma palavra, ou poucas, para não parecer exagero, contra o discurso de Bolsonaro que defende a ditadura, a tortura e o uso da violência como método. Fica chato atacar o atacado.

Os adversários, surpreendidos pela agressão, se solidarizaram com Bolsonaro, o que é absolutamente razoável em um país civilizado. Repudiaram o ataque, torceram pela pronta recuperação do deputado agredido, mandaram mensagens de apoio à família e pararam de atacar o antagonista. Se até os adversários que acreditam que podem crescer batendo no discurso de trevas de Bolsonaro recuaram, imaginem como poderão se comportar os eleitores quando forem chamados a se manifestar, em outubro.

O atentado melhorou Bolsonaro? Normalmente, pessoas que correram risco de morte mudam para melhor. Não creio que Bolsonaro mudará. Duvido que ele arrede pé do discurso que lhe garantiu até aqui 22% do eleitorado. Seria contraditório e representaria prejuízo eleitoral. Não consigo ver o capitão liderando uma campanha pelo desarmamento de ânimos e espíritos ao sair do hospital. Mas com certeza o ataque melhorou a imagem do candidato.

E é justamente a imagem envernizada que pode jogá-lo ainda mais adiante. O fato de ser vítima ajuda muito a Bolsonaro. Vejam como Lula cresceu ao exacerbar nas redes sociais e com militantes sua falsa condição de vítima de uma perseguição política. No caso de Bolsonaro, não, ele é vítima de verdade de um grave atentado que por pouco não o matou. O ganho eleitoral será imenso com a “humanização” da sua figura.

A imagem lustrada pelo ataque sozinha não garante necessariamente novos votos, mas consolida os votos atuais. E, mais importante, poder fazer reduzir o nível de rejeição do candidato do PSL. E o futuro da eleição presidencial reside exatamente nesta questão. O eleitor que hoje deixa de rejeitar um candidato amanhã pode votar nele. Se o atentado resultar numa queda da rejeição do capitão-candidato, restará aos seus adversários disputar entre eles quem ocupará a outra vaga no segundo turno.

O HOMEM SÓ

Nos primeiros dias, ele ouvia um “bom dia” alto, claro, gritado. Aos poucos o coro foi ficando mais fino e hoje é quase um fiapo. Nunca Lula se sentiu tão só em sua cela na Polícia Federal de Curitiba quanto agora. Sua candidatura de faz de conta não existe mais. Forçado a abrir mão do protagonismo, suas visitas diminuirão e Lula só receberá familiares, os amigos mais íntimos e advogados. Muito triste para quem submergiu com 39% de intenções dos votos que não poderia receber.

RENOVAÇÃO NO SENADO

Os brasileiros clamam com justiça por uma renovação na política e nos seus quadros. A cada eleição ouve-se coro em favor do voto consciente, que nunca ecoa nas urnas. Vejam algumas “caras novas” do próximo Senado, de acordo com as pesquisas: Eduardo Suplicy (SP), Cesar Maia (RJ), Roberto Requião (PR), José Fogaça (RS), Jader Barbalho (PA), Dilma Rousseff (MG), Edison Lobão (MA), Marconi Perillo (GO), Renan Calheiros (AL), Jorge Viana (AC). Viva a renovação.

AS CONTAS DE BOULOS

É bom o candidato prestar atenção nas palavras quando for tratar de números. Guilherme Boulos, do PSOL, disse que vai usar o dinheiro do auxílio-moradia de juízes e deputados para gerar empregos, investir em educação, na universidade pública e em saúde pública e para dar moradia popular a 6,3 milhões de famílias sem casa. Se todos os 18 mil juízes e 513 deputados federais recebessem o auxílio, o gasto anual seria de R$ 973 milhões. Com esse dinheiro, dá para construir umas 15 mil unidades do Minha Casa Minha Vida. Assim, em 420 anos Boulos conseguirá atender a todos os sem-casa.

MENINOS DO RIO

O barulho da eleição presidencial, primeiro com o esperneio do PT em favor de Lula e agora com o atentado sofrido por Jair Bolsonaro, de certa forma ensurdece a disputa estadual. Você acha que os candidatos locais se queixam disso? Nada. Quanto mais sombra por aqui, melhor.

MUITOS CARGOS, POUCOS BOMBEIROS

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) foi criado em 2009 para absorver algumas das funções do Iphan e cuidar de 27 museus no país. Sua estrutura tem 31 cargos de direção, de gabinete, de coordenação e de assessoria. Todos com salários federais e as tradicionais gratificações por função. O Ibram tem mais cargos de chefia do que museus. Enquanto isso, na Quinta da Boa Vista…

RECONCILIAÇÃO NACIONAL

Esperem sentados os que imaginam que agora, após o atentado a Bolsonaro, os brasileiros vão dar as mãos e seguir a vida em paz, harmonia e união.

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