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eleições 2022

Para Doria e Virgílio, Aécio Neves manobrou para melar as prévias do PSDB

Eduardo Leite, Arthur Virgílio e João Doria concedem entrevista após debate de prévias do PSDB

Por Malu Gaspar e Mariana Carneiro

Em meio ao fiasco das prévias do PSDB, o pré-candidato a presidente da República Arthur Virgílio atacou Aécio Neves, a quem se referiu como "maçã podre que estraga as outras". Publicamente, Virgílio mencionou apenas os votos que parte do partido vem dando a pautas bolsonaristas no Congresso Nacional. 

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Hoje, Virgílio explicou à reportagem o que quis dizer com a expressão. Para ele e para João Doria, Aécio trabalhou para melar as prévias, para que o PSDB não tenha candidato e possa aderir à campanha de Jair Bolsonaro mais adiante.

"O que o Aécio quer é um partido dele, com o todo o estilo de um partido do Centrão", disse Virgílio. "Um partido menor, diminuído, para ganhar emendas e cargos".

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Nas conversas de pé de ouvido, pessoas do time de Virgílio e de Doria vão além: dizem que os recentes votos de deputados tucanos com o governo Bolsonaro - como o apoio de vários deles à PEC dos Precatórios – foram carreados por Aécio em um acordo com o governo, em troca de dinheiro do orçamento secreto. Os mais irados com o ex-governador de Minas Gerais chegam a se referir a Aécio como o "Ciro Nogueira do PSDB", em referência ao presidente do PP, principal partido do Centrão. 

Aécio declarou voto em Eduardo Leite, assim como seus maiores aliados no PSDB, como um dos coordenadores das prévias, o deputado federal por Minas Gerais Marcus Pestana, e o presidente do PSDB de Minas, Paulo Abi Ackel. O próprio presidente do PSDB, Bruno Araújo, de Pernambuco, sempre foi aliado de Aécio e, embora não declare voto publicamente, em conversas privadas também não esconde que vota em Leite. 

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A tese de Virgílio e Doria, portanto, só faz sentido se Leite estiver perdendo entre os votos que já foram depositados na urna eletrônica e no aplicativo, e que agora estão lacrados à espera de uma solução para o impasse.

É nisso o que acreditam os aliados do governador paulista, que dizem ter conseguido algo como 70% dos votos depositados ontem nas urnas eletrônicas postadas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. 

Para eles, não só as várias mudanças nas regras – como a opção pelo uso do aplicativo que Doria não queria, a princípio, e depois a abertura para que os políticos com cargo eletivo também votassem pelo app – teriam sido adotadas para favorecer Leite. 

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Essa desconfiança perdurou por toda a campanha, mas no final as posições se inverteram. Diante de dúvidas sobre a segurança do aplicativo, Doria passou a defender que as prévias fossem realizadas de qualquer forma, enquanto aliados de Leite chegaram a sugerir que o pleito fosse adiado. 

Mas no domingo, um outro movimento inesperado aconteceu: pelo menos 150 políticos com mandato eletivo simplesmente não compareceram, dos cerca de 1.000 que haviam reservado passagens e hotel para ir a Brasília com despesas pagas pelo PSDB. 

Em tese, esse pessoal deveria votar pelo aplicativo, mas com a pane ocorrida ao longo do dia, isso não aconteceu. Como pelas regras das prévias os votos dos chamados "mandatários" têm peso maior do que o dos filiados comuns, o desfalque provocado por essas ausências foi grande, especialmente para a campanha de Leite.

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Entre os que faltaram estavam cerca de 100 prefeitos e vices de Minas Gerais, o que provocou diversas especulações tanto no time de Doria como no de Leite. 

Embora o mapa não seja preciso, no comando do PSDB se acredita que a maior parte desses prefeitos sejam ligados a Aécio, e portanto eleitores de Leite. Mas nem esse diagnóstico é consenso entre os tucanos. Aliados de Doria dizem que muitos dos prefeitos de Minas iriam votar nele, e optaram por fazê-lo pelo app para não sofrer pressão caso fossem votar sob a vista dos aliados de Aécio em Brasília.

Consultado a respeito das acusaçoes dos correligionários, Aécio Neves informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não procedem as acusações de que tentou melar as prévias estimulando ausências de última hora e que, tanto trabalhou pela eleição interna, que praticamente todos os prefeitos mineiros se inscreveram para votar pelo aplicativo.

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Segundo o deputado e seus aliados, a abstensão dos prefeitos mineiros na votação presencial se deu por conta das distâncias das cidades até Belo Horizonte, de onde deveriam voar para Brasília.

Até agora, portanto, sobram perguntas e faltam respostas, tanto para o problema do aplicativo como para a ausência de tantos políticos na votação presencial. A única certeza é que, qualquer que seja a solução para o impasse gerado pelo malogro das prévias, a briga entre os tucanos vai continuar. E no meio dela inevitavelmente haverá um sujeito (nem tão) oculto: Aécio Neves.

 

 

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