Por Carolina Dantas, g1


Gráfico de plataforma do jornal Financial Times ganhou destaque após países vetarem voos da África do Sul e a OMS declarar variante de preocupação. — Foto: Reprodução

Um gráfico do jornal "Financial Times" que compara a velocidade de transmissão da variante ômicron com outras já conhecidas aponta um pico da presença desta nova versão do Sars-Cov-2 nos casos de Covid-19 registrados na África do Sul.

O comparativo considera o percentual de prevalência da nova variante entre os casos no país que, depois de testados, passaram por sequenciamento genético.

A imagem do gráfico ganhou espaço nas redes sociais desde que países da Europa começaram a restringir voos que deixam locais onde a cepa circula e, sobretudo, depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar que a versão é considerada uma "variante de preocupação".

Mas o gráfico mostra que isso se repetirá pelo mundo? A curva indica que a nova variante pode frear a reabertura em diversos países, inclusive no Brasil?

Especialistas ouvidos pelo g1 apontam duas informações relevantes para a leitura do gráfico:

  • ele mostra que o ritmo de transmissão da variante é superior ao de outras, inclusive as já famosas, como a delta;
  • mas, ao mesmo tempo, os dados se referem exclusivamente à África do Sul, onde é baixo o percentual de pessoas vacinadas.

Por isso, não é possível extrapolar a análise e dizer que o mesmo vai se repetir em países com outras taxas de vacinação e de pessoas que já tiveram a Covid-19.

Atualmente a África do Sul tem 14,2 milhões de pessoas com o esquema vacinal completo. O número equivale a 24% dos 59 milhões de habitantes do país.

Subida como a de um foguete

Ao analisar o gráfico, o epidemiologista Pedro Hallal diz que as curvas são preocupantes, embora elas ocorrram em um país com déficit na imunização.

"Essa é a curva de contaminação em uma população muito pouco vacinada como a da África do Sul. Talvez em uma população mais vacinada a variante não conseguisse fazer essa curva que parece o lançamento de um foguete. Mas, sinceramente, é preocupante sim" - Pedro Hallal, epidemiologista

Pedro Hallal sobre nova variante: 'Parece ser muito mais transmissível'

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Opinião semelhante tem Ethel Maciel, professora da Ufes e doutora em epidemiologia.

Ela explica que o gráfico mostra apenas a velocidade de transmissão, que parece bem maior do que as outras variantes como a delta.

"O tempo que se demorou para ela ficar dominante na África do Sul foi mais rápido. Então, significa que ela consegue transmitir para mais pessoas. Mas a gente tem que lembrar que neste local em que ela está transmitindo tem um percentual pequeno de pessoas vacinadas. Por isso que ela está sendo colocada pela OMS como uma variante de preocupação porque, ao que parece, ela é mais transmissível, mas nós ainda não sabemos o impacto dela na gravidade da doença", disse Ethel.

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O ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina, resume com uma análise cronológica. Quão veloz ela se mostrou na África?

"O que basicamente as curvas falam é isso: a ômicron fez em 25 dias o que as outras fizeram em 100 dias. O que diz isso? Que ela tem um capacidade logarítmica de infectar e dar origem a novos casos. Ela é muito mais rápida do que a beta e a delta", disse Vecina.

Em breve, 100%

O professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação, na África do Sul, é um dos pesquisadores que rastrearam o aumento da prevalência da nova variante entre os casos no país.

"Esta nova variante, B.1.1.529, parece se espalhar muito rápido! Em menos de duas semanas domina todas as infecções após uma onda devastadora da delta na África do Sul", afirmou Túlio, apontando que a nova variante, ( no gráfico abaixo em azul) já respondia por 75% dos últimos genomas sequenciados.

"Em breve atingirá 100%", disse o pesquisador.

Gráfico utilizado pelo pesquisador Túlio de Oliveira para divulgar a circulação da B.1.1.529 na África do Sul. — Foto: Reprodução/Twitter

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