Brasil

Após quatro dias, balsas de garimpeiros ilegais são incendiadas pela Polícia Federal no Rio Madeira; veja vídeo

Cerca de 20 dragas de garimpo foram destruídas por homens da PF na tarde deste sábado
Barcos de garimpeiros ilegais foram destruídos pela Polícia Federal Foto: Hermes de Paula / Agência O GLOBO
Barcos de garimpeiros ilegais foram destruídos pela Polícia Federal Foto: Hermes de Paula / Agência O GLOBO

AUTAZES (AM) —  Após quatro dias de espera, a Polícia Federal iniciou, na manhã deste sábado (27), uma megaoperação para combater os garimpos ilegais no Rio Madeira, na altura da cidade de Autazes, a 120 quilômetros de Manaus. A ação, que conta com o apoio do Ibama, Força Nacional e da Marinha, vem sendo tratada em sigilo para evitar uma reação mais violenta dos garimpeiros, que já se dispersaram pelo rio em direção a Porto Velho.

Investigação: Imagens de satélite já mostravam balsas se movimentado para garimpo no Rio Madeira há um mês

Mesmo com a forte chuva na Amazônia, quatro colunas de fumaça preta podiam ser vistas sobre o rio, na tarde deste sábado. Trinta e uma balsas de garimpo foram incendiadas por agentes da Polícia Federal. Eles se locomoviam armados pela água em duas lanchas e lançavam combustível nas estruturas abandonadas pelos garimpeiros, que se esconderam na selva. Um homem foi detido com uma grande quantidade de ouro. A operação continua no domingo.

Operação da Polícia Federal destrói barcos do garimpo, que surgiram aos montes ao redor do Rio Madeira, no Amazonas, após boatos sobre descoberta de ouro na região. Imagens: Polícia Federal
Operação da Polícia Federal destrói barcos do garimpo, que surgiram aos montes ao redor do Rio Madeira, no Amazonas, após boatos sobre descoberta de ouro na região. Imagens: Polícia Federal

A reportagem do GLOBO flagrou a ação da PF e assistiu a um cenário de embarcações queimando e outras afundando em pleno rio amazônico. O cheiro de óleo diesel pairava no ar. Ao mesmo tempo, nos grupos de WhatsApp dos garimpeiros pipocavam mensagens, às quais O GLOBO teve acesso, dizendo que a "PF chegou pra queimar tudo sem dó e piedade".

As embarcações funcionam como uma verdadeira casa-trabalho para os garimpeiros, com alojamentos, refeitórios, ar-condicionado, internet de satélite e — o principal — a draga que funciona 24 horas por dia, revirando o fundo do rio.

Polícia Federal em ação contra garimpeiros ilegais no Rio Madeira (AM) Foto: Hermes de Paula / Agência O GLOBO
Polícia Federal em ação contra garimpeiros ilegais no Rio Madeira (AM) Foto: Hermes de Paula / Agência O GLOBO

Em outros pontos do rio, helicópteros da PF voavam a baixa altitude e davam ordens para que os garimpeiros estacionassem as balsas numa determinada margem para atearem fogo depois. Alguns exploradores se queixavam de terem sido deixados na mata só com a roupa do corpo.

Drama ianomâmi: Ameaçados por malária e fome e abandonados pelo governo, ianomâmis estão contando com a ajuda de garimpeiros ilegais, diz liderança

Com a expectativa de que a PF se preparava para uma megaoperação, a maioria dos garimpeiros decidiu se dispersar nesta sexta-feira, o que facilitou as apreensões dos órgãos federais.

Antes atracados em Autazes, as embarcações hoje foram apreendida na altura de Nova Olinda. As balsas, no entanto, são lentas e não conseguem escapar das lanchas da PF que operam com três motores cada.

Para escapar do flagra, alguns garimpeiros  tentaram esconder as suas nos ramais do rio que adentram a floresta na época da cheia. E, quando não conseguem, esvaziam a estrutura e fogem pela mata.  - Pessoal, são três conglomerados de balsa. Eles já tacaram fogo em tudo. Dá um desespero. Eu ainda escondi a minha - diz um garimpeiro em áudio no WhatsApp, aos prantos.

No dia 23 de novembro, um comboio de mais de 300 balsas se instalou no leito do Rio Madeira em frente à comunidade de Rosarinho, em Autazes, que vive da pesca e da produção de mandioca e banana. Moradores relataram que acordaram assustados com o surgimento da noite para o dia de uma verdadeira cidade flutuante — cada balsa abriga cerca de 6 a 8 pessoas. Trezentos barcos representam mais de 2 mil pessoas que se acresceram à população local, de aproximamente 40 mil habitantes.

Atraídos por um áudio que viralizou no WhatsApp ("lá embaixo estão fazendo uma grama de ouro por hora. Mas é certo mesmo, não é mentira") dos garimpeiros, eles subiram o Rio Madeira vindo de Humaitá e Porto Velho. No início do ano, o governador de Rondônia, Marcos Rocha (sem partido) regularizou o garimpo nos rios do estado. Com isso, surgiram tantos garimpeiros que eles foram para o Amazonas, onde a prática ainda é ilegal.

A prefeitura de Autazes acionou as autoridades federais e estaduais para controlar a situação no início da semana. A operação da PF, no entanto, só ocorreu neste sábado, dois dias depois do Ministério Público Federal recomendar ações "emergenciais" e "coordenadas" para conter o que chamou de "invasão garimpeira". Com a demoração na ação, que chegou até a ser anunciada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, o MPF também entrou com ação no TCU para apurar uma possível omissão dos órgãos fiscalizadores.

- Antes tarde do que nunca, a Polícia Federal reúne todas as condições de dar fim nessa atividade ilegal - afirmou o porta-voz do Greenpeace, Danicley Aguiar, que atua na Amazônia.