MATRIX UPDATED

A saga das Wachowski está de volta – mas o que ela significa em 2021?

Caio Coletti | @caiocoletti Reportagem

"Matrix se tornou um daqueles clássicos de Hollywood que todo mundo já viu, mesmo que não tenha visto”, define a YouTuber Sarah Zedig. “Eu consigo imaginar alguém que nunca assistiu a Matrix olhando para o pôster do filme em um serviço de streaming e pensando: ‘Ah, eu basicamente já sei tudo sobre esse aqui’. Mas esse cara que eu acabei de imaginar está completamente errado”.

Lançado em março de 1999 nos EUA, e em maio por aqui, o primeiro Matrix conquistou o mundo pré-virada do século com a história de Neo (Keanu Reeves), um hacker que descobre que o seu mundo é na verdade uma simulação virtual e se junta a um grupo de rebeldes para lutar contra as máquinas que mantêm os humanos dopados e condicionados a esse programa de computador.

Como O Poderoso Chefão ou Alien - O 8º Passageiro, cada elemento desse filme foi parodiado, pasteurizado, homenageado ou reinventado inúmeras vezes, em praticamente todos os tipos de mídia populares do século XXI”, admite Zedig, que faz ensaios sobre filmes, séries e outros artefatos de cultura pop em seu canal no YouTube, e em junho se juntou à amiga Sophie (codinome: Curio) para um vídeo épico de quase 2h sobre a trilogia Matrix.

Ela está certa, é claro. Matrix arrecadou US$ 466 milhões em bilheterias ao redor do mundo em 1999 - valor que, ajustado pela inflação, corresponde a impressionantes US$ 741 milhões hoje em dia. O impacto cultural do filme não pode ser mensurado só em números, no entanto, como fica claro quando percebemos o quanto todas as suas inovações técnicas, principalmente o famoso bullet time (em que efeitos especiais permitem ao espectador ver balas em câmera lenta atravessando o ar), se tornaram ubíquas em Hollywood.

Menos recorrente ou imitada do que esses aspectos técnicos, no entanto, é a densidade narrativa de Matrix, com seus elos profundos à filosofia de nomes como Jean Baudrillard (criador do termo “deserto do real”, famosamente usado por Morpheus em uma cena do longa) e subtextos que deram pano pra manga nos últimos 22 anos - ou 18, se você contar o tempo desde 2003, quando as sequências de Matrix foram lançadas (e nós vamos falar disso daqui a pouco).

Daí a certeza de Sarah quando diz que aquele espectador hipotético, que acha que sabe tudo sobre Matrix mesmo sem tê-lo assistido, está equivocado. As formas como a obra foi apropriada, pensada e digerida no ambiente cultural das últimas duas décadas são tão ou mais complexas do que o próprio texto do filme, o que levanta uma questão fundamental: com Matrix Resurrections marcado para estreia nos cinemas no próximo dia 22 de dezembro, o que a franquia significa hoje em dia?

Uma história de TRANSformação

Um dos aspectos mais discutidos de Matrix nos últimos anos têm sido as entrelinhas trans de sua trama, que escaparam do público na época do lançamento, mas parecem dolorosamente óbvias hoje em dia - especialmente, é claro, pelo fato de as duas diretoras e roteiristas da franquia, as irmãs Lana Wachowski e Lilly Wachowski, terem se assumido como mulheres trans nos anos que se seguiram ao lançamento da trilogia.

Muito se fala dos elementos superficiais que constróem esse paralelo da trama de Matrix com a experiência trans: a pílula vermelha, que Neo precisa tomar para “acordar” e se libertar da Matrix, é uma referência à pílula de estrogênio que mulheres trans tomam durante o processo de transição - que, na época do lançamento, costumavam vir apenas na cor vermelha; o clímax do primeiro longa, enquanto isso, é o momento em que o herói proclama ao seu arquiinimigo, agente Smith (Hugo Weaving), que seu nome escolhido é Neo, e não “Sr. Anderson”.

A lista continua, por exemplo, se você considerar o curta “Kid’s Story”, incluído no derivado Animatrix. Escrito pelas próprias Wachowski, ele conta o passado do Garoto (Clayton Watson), um personagem nunca nomeado da trilogia, mostrando como ele também se libertou da Matrix. Durante a trama, diálogos fazem referências tácitas à identidade queer do personagem (“um garoto como ele”, “esse tipo de jovem”), e um dos momentos definidores de sua fuga da realidade virtual acontece quando… ele entra no banheiro errado na escola.

Essas e outras referências, no entanto, são meros signos de um texto mais profundo, como aponta Sarah - que também se identifica como transgênero. “O gênero é a pedra fundamental da nossa civilização. Você ser visto como homem ou como mulher ao nascer determina o curso de toda a sua vida - como você é tratado por adultos, as expectativas que colocam em você na escola, as possibilidades de carreira abertas para você, os tipos de relacionamentos que pode ter, quanto dinheiro poderá ganhar, e por aí vai”, enumera.

“Esta é uma faceta tão central da nossa sociedade que, quando você a transcende, quando finalmente percebe em seu coração que o seu gênero não é inerente, mas sim uma construção, que você pode moldar a si mesmo, todas as outras limitações arbitrárias da sociedade parecem igualmente inócuas”, completa ela. Em Matrix, Neo ganha poderes extraordinários e se torna capaz de quebrar as leis da física, virando de fato o Escolhido - mas só quando aceita completamente a artificialidade do seu mundo virtual.

Para Sarah, isso posiciona Matrix como um texto essencialmente queer, para um público essencialmente queer. “É impossível sentir toda a verdade simbólica e emocional deste filme a não ser que você tenha experimentado antecedentes dele na vida real, ou se tiver o contexto certo, a experiência certa, para intuí-lo. Até acho que isso é apropriado, considerando o quanto Morpheus insiste, no filme, que ‘ninguém pode simplesmente te contar o que é a Matrix’”, diz.

Em vídeo para a Netflix, a própria Lilly Wachowski elaborou o ponto do subtexto trans da franquia. “Eu não sei o quanto a minha transgeneridade influenciou conscientemente a concepção e escrita do roteiro de Matrix, mas todos esses temas vieram de um mesmo sentimento”, apontou. “As pessoas trans, naquela época e até hoje, viviam em um mundo que não dava recursos e palavras para que elas afirmassem sua identidade, então estávamos sempre vivendo em um universo de imaginação”.

Agentes da vida real

Outra discussão frequente sobre Matrix nos últimos anos: a quem pertence a metáfora das pílulas azuis e vermelhas? Por um lado, partes da extrema direita (e incels, os infames grupos misóginos de “celibatários involuntários” da internet) nos EUA usam o termo “redpilled” para definir um indivíduo que supostamente teria “acordado” para a mesma realidade distorcida que a deles. Por outro, Lilly Wachowski já rechaçou - sem economizar palavrões - a cooptação do termo e de cenas de Matrix por personalidades de direita que vão de Ivanka Trump ao ex-ministro de Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub.

Em seu vídeo sobre a trilogia, Sarah e Sophie apontam como o conceito dos agentes, que perseguem o nosso grupo de heróis pela Matrix, pode ser lido como uma metáfora para como uma ideologia conformista e preconceituosa coopta pessoas comuns para serem seus avatares, vigias que garantem o cumprimento de estigmas e regras sociais. No filme, isso acontece de forma bem literal, com a pessoa em questão se metamorfoseando dolorosamente em um dos agentes, mas a realidade - é claro - é mais sutil.

“Eu só posso falar a partir de um ponto de vista norte-americano, mas certamente todo mundo que eu conheço, após a eleição de 2016 [vencida por Donald Trump], já teve a experiência de descobrir, no meio de uma conversa casual, que uma pessoa que você respeitava tem uma opinião tão virulentamente repulsiva que faz com que você nunca mais queira falar com ela novamente”, diz Sarah. “E, falando como mulher trans, uau… Eu já estive em muitas situações corriqueiras nas quais alguém ficou me olhando e agindo de maneira estranha, e achei que minha vida estava em perigo. Essa não é a definição de encontrar um agente na Matrix?”.

Uma análise cuidadosa do principal vilão da franquia, o agente Smith, parece dar suporte a essa interpretação anti-conservadora de Matrix. Do desprezo pelo “cheiro da humanidade” que ele expressa em seu grande discurso no primeiro filme à forma como, após se libertar (como Neo, e através de Neo) das amarras e regras da própria Matrix, ele parte em uma busca desesperada por moldar todos os habitantes dela a sua imagem e semelhança, Smith é argumentavelmente o retrato perfeito do direitista “redpilled”, que compreende as falhas e desumanidades do sistema, mas cuja resposta a essa consciência é uma entrega completa, violenta e irrestrita à conformidade dele.

E o que derrota Smith, no fim das contas, é sua pura incapacidade de comportar a compaixão e fé na humanidade que Neo carrega em si. É um clímax muito zombado e ressentido pelos fãs que esperavam uma explosão mais literal, e menos conceitual, no grande confronto final da trilogia - mas faz perfeito sentido narrativo, principalmente porque expõe a natureza autodestrutiva inevitável de qualquer mentalidade que tenta limitar a humanidade a um espectro de comportamentos e identidades “aceitáveis”.

Reloaded e Revolutions são tão ruins assim, afinal?

Quatro anos depois do primeiro Matrix mudar o cinema, e plantar as sementes de toda essa floresta de significados, Reloaded e Revolutions chegaram às salas ao redor do mundo com alguns meses de diferença entre si, em 2003. Dessa vez, os filmes foram promovidos e lançados como eventos culturais desde o começo, e essa expectativa gigantesca pode ter sido elemento decisivo na recepção de morna a fria dos longas pela crítica e pelos fãs - mas não o único.

Sarah lembra que, na época do seu lançamento, o Matrix original foi visto principalmente como um trabalho prodigioso de cinema de ação, e que discussões concomitantes sobre violência na mídia influenciando violência na vida real - como o massacre de Columbine, em que dois alunos de uma escola no Colorado (EUA) mataram 12 colegas e um professor - só fizeram moldar a recepção do filme das Wachowski em torno da adrenalina, e não das correntes filosóficas e políticas imbuídas nele.

“As continuações, por outro lado, têm muito mais espaço para estender essas correntes, e usam uma linguagem muito menos acessível também. Por cima disso, Reloaded saiu dois meses depois da invasão dos EUA ao Iraque, no auge do ufanismo da era Bush. [...] Ninguém no mainstream, nem mesmo os liberais, estavam a fim de nuance”, comenta ela. “As sequências falavam sobre a natureza opressora do capitalismo em uma época na qual a maioria das pessoas aceitava o capitalismo como um fato da vida, como a gravidade”.

Vistos hoje, Reloaded e Revolutions são filmes extraordinariamente ambiciosos em escala e ação, mas também sentidos e fiéis às suas sensibilidades - mesmo as que seriam julgadas como duvidosas pelos árbitros do bom gosto. Reloaded, especialmente, é um blockbuster abundante em sensualidade, com uma cena de sexo belissimamente fotografada no seu primeiro ato, e uma obsessão calorosa pelos corpos de seus protagonistas, por nos mostrar a proximidade e a humanidade que estavam ausentes do primeiro longa, por sua própria trama. Assisti-lo na era das aventuras estéreis do MCU é um choque, e um deleite.

Por falar nisso: “Eu acho que é possível argumentar que toda a forma do Universo Cinematográfico da Marvel nasceu de um desejo de evitar o massacre crítico sofrido pelas Wachowski com o lançamento das sequências”, diz Sarah. “Hoje em dia, filmes com um orçamento do tamanho de Matrix são conceitualizados completamente como produtos, e provavelmente já começam a produção de suas cenas de ação antes de um diretor ou roteirista sequer ser contratado”.

O cerne da questão do fracasso de Reloaded ou Revolutions, no entanto, talvez seja que “as pessoas os odiaram porque eles não eram Matrix 2”, na definição irônica da YouTuber. Ao invés disso, os longas são bichos diferentes, obras de arte com personalidade e objetivos próprios - e fica o aviso: tudo indica que Resurrections vai pelo mesmo caminho. “Eu acho que este filme vai confundir muita gente, talvez até mesmo eu! O meu conselho é rever a trilogia, talvez olhar alguns dos materiais derivados se você quiser, mas principalmente chegar ao cinema com a mente aberta”, diz Sarah.

Remoer e reinterpretar a trilogia Matrix, 18 anos depois do lançamento do seu último capítulo nos cinemas, é um exercício estimulante e fundamental para a própria sobrevivência da saga como artefato cultural. “O que é divertido sobre análise de mídia, para mim, é que o significado de algo nunca é fixo. Arte reflete o que você traz para ela, e Matrix não é exceção. Hoje, vivemos em um contexto no qual certos fenômenos políticos estão sob os holofotes, e acho que nesse contexto as mensagens sociais de Matrix soam mais alto do que antes”, comenta Sarah.

“O que eu sempre quero demonstrar, quando falo de uma obra de arte, é que o significado dela é flexível. O que podemos fazer é dar as ferramentas, as referências, para o público encontrar suas próprias respostas. Eu odeio, por exemplo, vídeos e artigos que pretendem ‘explicar o final’ de algo tão lindo e complexo quanto uma obra de arte”, completa. “Você não entra em uma casa de espelhos para checar como está seu cabelo, certo?”.

As Wachowski nunca erraram - só estiveram à frente do seu tempo

Nem sempre é confortável estar “fora da curva”. Embora Lana e Lilly Wachowski tenham mudado o cinema com o sucesso do primeiro Matrix, e suas continuações sejam argumentavelmente tão influentes quanto, mesmo com o desgosto de muitos fãs e críticos, as irmãs sofreram com a recepção de seus projetos fora da franquia - ou, ao menos, a recepção imediata deles após o lançamento.

Como muitos outros cineastas podem atestar (de Ridley Scott a Stanley Kubrick, de Joel Schumacher a Karyn Kusama), muitas vezes o tempo é o melhor juiz. Anos depois de saírem dos cinemas ou das TVs, os projetos das Wachowski costumam passar por um ciclo de reavaliação crítica e se tornar queridinhos do público cinéfilo.

Quando você faz filmes, ou qualquer tipo de arte, uma parte do processo é aceitar que a obra não estará em suas mãos para sempre. Ela entra no discurso público, e eu gosto disso”, disse Lilly em entrevista à Netflix. “Gosto do processo de evolução pelos quais essas obras passam, e de ver como nós, seres humanos, lidamos com arte de forma não linear, revisitamos obras e as vemos de novas formas, sob novas luzes”.

Abaixo, fizemos exatamente isso com cada título da filmografia das irmãs.

Animatrix: Uma relíquia preciosa feita por mestres dos animes

Sarah Zedig avisa: “Eu não me surpreenderia se [Resurrections] tirasse algo de Animatrix, tendo em vista o quão metalinguístico ele parece ser”. A YouTuber faz bem de lembrar do filme, uma compilação de nove curtas-metragens em vários estilos de animação, que esclarecem o passado de personagens da franquia, revelam detalhes da mitologia do universo criado pelas Wachowski (que escrevem quatro dos segmentos) e até expandem partes da história de forma instigante.

Lançado em formato híbrido - alguns curtas foram disponibilizados no site da franquia, outros foram exibidos na TV, outros ainda em sessões de cinema de longas da Warner - antes de chegar ao home video, no intervalo entre Reloaded e Revolutions, Animatrix acabou se perdendo no furor de 2003 e se tornando um pedaço meio esquecido da saga. É um destino muito aquém do que ele merece.

O pedigree da antologia fica claro com uma investigação rápida dos nomes envolvidos em cada um dos curtas. Peter Chung (“Matriculated”) é o criador da clássica série de animação de Aeon Flux; Yoshiaki Kawajiri (“Program”) tem Vampire D e Ninja Scroll no currículo; Takeshi Koike (“World Record”) dirigiu filmes da saga Lupin III; Mahiro Maeda (“The Second Renaissance”) faz parte da equipe de Evangelion desde sua concepção e codirigiu os últimos dois longas da franquia; Kôji Morimoto (“Beyond”) foi animador em Akira e O Serviço de Entregas da Kiki; e Shinichiro Watanabe (“Kid’s Story” e “A Detective Story”) é o diretor de Cowboy Bebop.

E o trabalho dessa turma toda, não surpreendentemente, é brilhante. No duplo “The Second Renaissance”, as Wachowski traçam o início da revolução das máquinas, revelando que talvez elas não estivessem tão erradas em se revoltar contra os humanos para começo de conversa. Rima perfeitamente com a filosofia da saga, colocando tanto humanos quanto máquinas como vítimas da crueldade de um sistema (o capitalista), muito mais do que vítimas uns dos outros - ou, como colocam Sarah e Sophie em seu vídeo: em Matrix,máquinas são pessoas também”.

“Program” e “World Record”, enquanto isso, são maravilhas visuais com histórias envolventes, mesmo que largamente contidas em si mesmas, adicionando camadas à apreciação estética do universo de Matrix. “Kid’s Story”, além de carregar muito do subtexto trans da franquia, cria uma história propulsiva, carregada tanto de adrenalina quanto de pesar, e tem um estilo único de animação. E, por fim, “Beyond” é talvez o mais icônico dos curtas, confrontando a distorção das regras da física dentro do mundo virtual com a banalidade e o tédio existencial do dia a dia dos personagens, e criando imagens tão indeléveis e inextricáveis à marca Matrix quanto os longas live-action.

Acima de qualquer coisa, vale lembrar de Animatrix, e dar a ele um olhar mais carinhoso, porque está na natureza das Wachowski incorporar cada pedaço de mídia de sua franquia à história principal, e torná-los fundamentais para ver o quadro completo. “Elas sempre estiveram profundamente investidas na mídia estendida e derivada de suas obras. Todas as coisas que mencionamos quando falamos de Matrix não são só ‘oficiais’ ou ‘aprovadas’, mas concebidas, conduzidas e cocriadas por elas. Vários subplots de Reloaded só fazem real sentido quando você vê Animatrix”, define Sarah.

Animatrix, assim como os três filmes da trilogia original das Wachowski, está disponível para streaming pela HBO Max.

Matrix Remembered: O que você precisa lembrar para ver o quarto filme

Lá se vão 18 anos desde o lançamento de Matrix Reloaded e Matrix Revolutions - e, embora a gente indique muito uma revisão da trilogia original antes de sua sessão de Matrix Resurrections, sabemos que nem todo mundo tem esse tempo ou paciência. Para ajudar você, que está nessa turma, relembramos abaixo onde deixamos os principais personagens da saga no final do terceiro filme:

Publicado 29 de Novembro de 2021
Projeto gráfico Kaique Vieira | @kaicovieira
Edição Beatriz Amendola | @bia_amendola
Coordenação Jorge Corrêa | @jorgecorrea_