Economia Emprego

Governo revisa dados e, ao invés de saldo positivo, aponta fechamento de 191 mil vagas em 2020

Dados divulgados indicavam 142 mil vagas positivas no ano passado, mas os ajustes foram diminuindo o saldo a cada revisão
Pandemia aumentará desemprego global Foto: Agência O Globo
Pandemia aumentará desemprego global Foto: Agência O Globo

BRASÍLIA – O saldo do emprego formal no Brasil em 2020 foi negativo, apontam os dados ajustados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta terça-feira pelo Ministério do Trabalho. No primeiro ano da pandemia, o país teve fechamento de 191.502 vagas.

Este número é fruto de 15.619.434 admissões e 15.810.936 desligamentos. As informações constam no painel do Caged.

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Inicialmente, o governo divulgou, em janeiro deste ano, que o saldo de empregos em 2020 havia sido de 142.690 vagas , fruto de 15.166.221 admissões e de 15.023.531 desligamentos. Esse número já havia minguado.

De acordo com os ajustes feitos até setembro de 2021, foram geradas ao longo do ano passado 75.883 vagas de emprego formal , resultado de 15.437.117 admissões e 15.361.234 desligamentos, conforme o Painel de Informações do Novo Caged.

Durante a coletiva e divulgação dos dados do Caged de outubro, técnicos do governo anunciaram a divulgação de uma nota técnica explicando mudanças no tratamento de dados do e-Social, o que ajuda a explicar a variação dos números.

O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Bruno Dalcomo, defendeu a pesquisa do Caged:

— As bases de dados sejam elas quais forem, elas estão sempre sujeitas a readequações e reestimativas. O PIB é sempre reestimado, as taxas de inflação são sempre reestimadas, as taxas de desocupação pelo IBGE são reestimadas. As nossas aqui não são reestimadas mas elas obviamente recebem as informações que são prestadas tardiamente pelas empresas. Aí é fácil de entender: nós não podemos reportar uma informação que nós não temos. As empresas têm doze meses para poder informar o seu volume de contratados e de demitidos.

A metodologia do Caged mudou em 2020 e alguns especialistas apontavam o risco de subnotificação dos dados, especialmente para casos de empresas que teriam fechado as portas e não informado ao governo o número de demissões.

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Esse processo pode ser feito em até 12 meses, que compõe a chamada série com ajustes. Foram essas novas inclusões, tanto no número de admissões quanto de demissões que resultaram nesse novo saldo.

Euforia

Quando o saldo do Caged de 2020 foi divulgado, em janeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou:

— Em um ano terrível em que o PIB caiu 4,5%, criamos 142 mil novos empregos. A prioridade para o Brasil agora é saúde, emprego e renda — disse na ocasião.

Boa parte do discurso do governo ao longo deste ano foi de que mesmo no ano da pandemia e com a retração econômica, o país foi capaz de manter e gerar empregos formais, o que acabou sendo desmentido a partir da revisão dos dados.

De acordo com o Ministério do Trabalho, a mudança significativa nos números ocorreu por ajustes na captação de dados pelo eSocial, a inclusão de informações fora de prazo de empresas do Simples a partir de maio de 2021 e ajuste de dados sobre admissões e demissões informados equivocadamente pela empresa declarante.

"Destaca-se que revisões de bases de dados são naturais, ainda mais em contextos de transição ou de situações atípicas como a de uma pandemia, sendo realizadas por diversos órgãos e institutos de estatísticas no mundo todo", diz trecho da nota assinada pela pasta.

— O problema não é o governo lidar com as questões de adaptação ao e-Social. O problema é ter ficado vendendo euforia — pondera o economista Daniel Duque, da FGV/Ibre.

Ele aponta que apesar das revisões "dentro do prazo" ocorrerem normalmente, as variações provocadas foram marginais. Essa grande alteração é que transformou em negativa a série de 2020.

Para Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria, as revisões foram sinalizadas, mas a magnitude impressiona:

— É uma revisão que vinha ocorrendo paulatinamente e muito por conta de fragilizdade da pesquisa, subnotificação de desligamentos no começo da pandemia, dificuldades de reportar na nova plataforma. Foi um período de transição e agora a gente observa dados mais fidedignos. Era muito estranho pensar que no ano da pandemia tinha geração de vagas formais — avalia.

O economista e head da mesa de renda variável da Valor Investimentos, Piter Carvalho, classificou a revisão como uma "decepção":

— Perde um pouco a credibilidade. Fica um pé atrás de quando vai ter uma revisão, quando os números podem vir para baixo.

O secretário executivo do ministério do Trabalho, Bruno Dalcomo, falou sobre a revisão metodológica e defendeu os dados do Caged, afirmando que a nova metodologia, introduzida em janeiro do ano passado, previa a melhor utilização e a construção de uma base de dados mais fidedigna do que a anterior.

O secretário argumentou ainda que a pasta passou a divulgar, além dos dados de admissão e demissão, também informações sobre o seguro-desemprego, e que esses números não concordavam com a tese de subnotificação.

— Os números não concordaram com essa acusação de subnotificação e nós sustentamos isso ao longo do tempo, porque nós confiamos no trabalho da equipe, nós confiamos no trabalho que é feito por trás da principal base de dados de emprego formal do país — afirmou.

Ele ainda argumentou que o processo de recuperação econômica veio forte e se espraiou ao longo do segundo semestre do ano passado, e que o bom desempenho segue neste ano. Dalcomo também disse que os críticos não consideraram o fator do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm).