Política Congresso

Bolsonaro avisou que vetará legalização dos jogos de azar caso seja aprovada na Câmara, diz Malafaia

Segundo líder religioso, presidente classificou projeto como 'absurdo' em contato na tarde desta segunda-feira. Arthur Lira (PP-AL) colocou requerimento de urgência na pauta
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do pastor Silas Malafaia, em encontro com líderes evangélicos em 2019: promessa de vetar legalização dos jogos de azar Foto: MAURO PIMENTEL / AFP/11-04-2019
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do pastor Silas Malafaia, em encontro com líderes evangélicos em 2019: promessa de vetar legalização dos jogos de azar Foto: MAURO PIMENTEL / AFP/11-04-2019

RIO e BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro avisou nesta segunda-feira a lideranças evangélicas que vetará a legalização dos jogos de azar caso o tema seja aprovado no Congresso. O pastor Silas Malafaia, aliado próximo a Bolsonaro, disse que o presidente reiterou sua posição e classificou o projeto como "absurdo". Em meio à pressão de evangélicos, a Câmara adiou a votação do requerimento de urgência para análise do projeto, que havia sido incluído na pauta desta segunda-feira.

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A fala de Bolsonaro ao pastor ocorreu em resposta a um vídeo divulgado pelo próprio Malafaia, em suas redes sociais, no qual o líder religioso criticou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por pautar o requerimento de urgência para análise do assunto. Após pressão da bancada evangélica, a Câmara adiou a votação do requerimento .

— Falei com o presidente ao telefone após publicar meu vídeo, ele disse que vai dar veto. Falou que isso é um absurdo, que não colabora com a economia e que prejudica os aposentados — disse Malafaia.

Bolsonaro já havia declarado em setembro, em entrevista à revista "Veja", que seria "natural" vetar o projeto, mas reconheceu à época a possibilidade de o Congresso futuramente derrubar seu veto. Lideranças evangélicas argumentam que um veto de Bolsonaro, em caso de aprovação do projeto, daria mais tempo para que a bancada religiosa no Congresso se articulasse contra o tema.

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No vídeo, Malafaia havia chamado o projeto de "desgraça social" e criticou Lira por "no apagar das luzes querer aprovar esse lixo".

— Noventa por cento da população brasileira ganha até cinco salários (mínimos). Isso é uma coisa tão desgraçada que só interessa a grupos econômicos poderosos e lavagem de dinheiro de corruptos. Não beneficia em nada a economia do país. Não venham aqui fazer comparações com Estados Unidos e Europa, que têm outro nível social — afirmou o pastor em seu vídeo.

Lira fez reuniões nas últimas semanas com bancadas temáticas para tratar de projetos que seriam prioritários na reta final do ano legislativo, e ouviu da Frente Parlamentar Evangélica que sua prioridade seria barrar a legalização dos jogos de azar . A inclusão do requerimento de urgência na pauta desta segunda-feira desagradou a bancada evangélica, que prometeu fazer obstrução. Se o requerimento for aprovado, o texto pode ser votado em plenário.

O presidente da bancada evangélica, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), discursou nesta segunda no plenário afirmando que o grupo é "terrivelmente contra" o projeto. Ao GLOBO, o parlamentar reiterou que Bolsonaro já prometeu vetar a proposta.

— Já falei com o presidente Bolsonaro há um tempo e ele prometeu vetar a proposta. Mas nós vamos nos organizar para nem entrar na pauta —- disse o parlamentar ao GLOBO.

De acordo com Cezinha, a legalização de jogos de azar poderia alimentar "vícios" e prejudicaria especialmente a população idosa:

— Eu deixei claro ao presidente Arthur Lira que essa era uma pauta que não dava para votar de forma alguma. Disse que obstruiria se fosse para votação. O Brasil não está preparado para esse tipo de situação. Temos grande parte da população pobre e outra parte aposentada. Há estudos que mostram que os mais idosos são os grandes prejudicados pelo vício. E é um caminho que pode levar os jovens, inclusive, para as drogas

Integrante da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que Lira descumpre o combinado ao pautar o requerimento de urgência.

— Ele descumpriu o que falou para gente, em reunião com 70 convidados. Ele falou que, se pautasse, seria em comum acordo — disse Sóstenes.