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Estorninhos: Ibama confirma que Brasil passa por 'invasão' dos pássaros

Estorninhos foram vistos em cidades do Rio Grande do Sul, vindos do Uruguai - Reprodução/Banco de Imagens do Ibama
Estorninhos foram vistos em cidades do Rio Grande do Sul, vindos do Uruguai Imagem: Reprodução/Banco de Imagens do Ibama

Do UOL, em São Paulo

16/12/2021 17h09Atualizada em 16/12/2021 17h32

Considerados agressivos e vorazes, os estorninhos oficialmente invadiram o Brasil, segundo informações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais). A área ocupada pela espécie, no entanto, ainda ocupa, por enquanto, apenas cinco municípios no Rio Grande do Sul.

O órgão federal certificou, em nota publicada hoje, a presença do pássaro no país, estritamente em cidades que fazem fronteira com o Uruguai. O estorninho, nome popular do Sturnus vulgaris, preocupa pesquisadores por concorrer com pássaros nativos dos habitats em que se desenvolve, colocando estas espécies em risco.

Apesar de comerem de tudo, seus bandos preferem ficar próximos das fazendas, onde devastam plantações, transmitem doenças e modificam habitats. Para além de suas características que os colocam na lista de pragas, os estorninhos têm características curiosas, como a capacidade de imitarem sons complexos, como os da fala humana.

O Ibama destaca que o primeiro registro da ave no país foi feito em 2014 e que seu retorno a território nacional ainda é "um processo em estágio inicial".

"Foram iniciadas tratativas com instituições de pesquisa e demais setores do Poder Público que possuem competência na matéria, a fim de adotar medidas coordenadas para a detecção precoce de ocorrências, controle e comunicação social", detalhou o instituto. "O combate às invasões biológicas é uma das principais medidas de proteção à biodiversidade nativa e é um compromisso assumido pelo Brasil a partir da ratificação da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB)", concluiu.

Pássaro chegou por "fronteira seca" do RS

Comum na Europa, Ásia e norte da África, o estorninho chegou ao sul do Brasil pelo Uruguai, que já havia sido invadido por pássaros da espécie, vindos da Argentina, onde foram introduzidos em 1980.

As aves acabaram se adaptando e se espalharam pelo entorno de Buenos Aires e, depois, para outras regiões, alcançando as fronteiras e invadindo o Uruguai.

Apesar de parecer inofensivo, sua fama de comilão e "durão" o precede. Ao ponto de agricultores dos países invadidos pelos estorninhos precisarem contratar serviços especializados em controle de pragas para salvarem suas lavouras.

O biólogo e biomédico Carlos Peçanha, presidente da Feprag (Federação das Associações de Empresas de Controle de Vetores e Pragas), é diretor técnico de uma multinacional que já atendeu diversas chamadas de produtores preocupados.

"Recebemos diversas chamadas de agricultores, principalmente nos EUA, nos pedindo para combater as invasões nas lavouras", disse o biólogo ao UOL.

Nos EUA, a situação é mais complexa: cerca de 200 milhões de estorninhos já se estabeleceram em diversos estados, provocando estragos e prejuízos.

Pelo fato de o Uruguai possuir uma fronteira "seca" com o Brasil, o estorninho chegou ao Rio Grande do Sul e já pode ser avistado em pequenos bandos, tanto em áreas rurais quanto urbanas. O primeiro avistamento ocorreu em 2014, em Lavras do Sul. Sete anos depois, a espécie já está presente em pelo menos outras quatro cidades gaúchas: Aceguá, Bagé, Chuí e Santa Vitória do Palmar.

Com 21,5 centímetros de comprimento e pesando de 70 a 100 gramas, esse pássaro escuro, com manchas brancas nas penas e uma plumagem iridescente no peito, nuca e costas, compete com a fauna nativa por alimento e locais para fazer seu ninho. Ele preda invertebrados nativos e provoca danos agrícolas a lavouras e pomares.

Os estorninhos são velhos conhecidos dos agricultores norte-americanos, que até hoje lutam para se livrar deles. Voando em bandos, eles parecem saídos do filme "Os Pássaros'', de Alfred Hitchcock. São aves que se aglomeram em grande número e fazem evoluções de forma sincronizada, como se fossem um corpo só. Apesar de ser uma espécie parente da gralha, pode se comportar como um corvo.

"O estorninho consta na lista das cem piores espécies exóticas invasoras, elaborada anos atrás pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza)", esclarece a engenheira Silvia Ziller, fundadora do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental.