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Política

Análise: Rejeição a Haddad cresce e é maior do que a de Lula na última pesquisa como candidato

Pesquisa surpreendeu pela velocidade com que o “filme” de Haddad mudou
Fernando Haddad faz campanha no Rio ao lado de Márcio Tiburi Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
Fernando Haddad faz campanha no Rio ao lado de Márcio Tiburi Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

BRASÍLIA — Uma das premissas de análises de pesquisas diz que cada sondagem é um retrato do momento, mas que o importante é o “filme”. A pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira surpreendeu justamente pela velocidade com que o “filme” de Fernando Haddad mudou. Desde que foi lançado, o petista via suas intenções de voto crescer veloz e continuamente, sondagem após sondagem. De acordo com a pesquisa de ontem, no entanto, subitamente ele travou nos 21% de preferência. E, mais importante, viu sua rejeição disparar 11 pontos, atingindo 38% — se aproximando dos 44% de Jair Bolsonaro .

No fim de semana, os barulhentos protestos do #EleNão chamaram mais atenção do que os atos de apoio a Bolsonaro. No entanto, o Ibope sugere que, silenciosamente, foi o movimento antipetista que ganhou força nos últimos dias. Além de a rejeição a Haddad ter aumentado, Bolsonaro, que personifica o movimento contra o partido, cresceu quatro pontos, chegando a 31%. Sua vantagem sobre o petista saltou de seis para dez pontos.

A rejeição a Haddad chama ainda mais a atenção quando comparada com a que seu padrinho político, o ex-presidente Lula, tinha na última pesquisa Ibope antes de o TSE decidir que ele estava inelegível. Na sondagem divulgada dia 20 de agosto, Lula tinha 30% de rejeição, ante 37% de Bolsonaro.

Desde que a corrida eleitoral se converteu em plebiscito, está claro que o segundo turno será uma guerra entre rejeitados. Os candidatos que tentaram construir discursos contra a polarização fracassaram clamorosamente. Geraldo Alckmin e Ciro Gomes se mantêm há três semanas, desde que Haddad foi lançado, rigorosamente no mesmo patamar de intenções de voto, flutuando apenas dentro da margem de erro.

Não adiantou ambos dizerem que são os mais capazes de impedir a conflagração do país. Não funcionou a estratégia de alertar para o risco de os nomes mais rejeitados irem a uma batalha radical de segundo turno. Após cinco anos de crise política, retroalimentada por uma das piores recessões econômicas de nossa História, a população visivelmente se cansou da política tradicional. A divisão social do país está retratada pelo empate numérico entre Bolsonaro e Haddad na simulação de um eventual segundo turno, ambos com 42%.

Até o próximo domingo, as pesquisas diárias do Ibope e do Datafolha servirão como um slow motion do filme dessa nova democracia brasileira. O fim da primeira parte já parece sacramentado. Por outro lado, nada parece mais incerto do que este segundo turno.