Música
PUBLICIDADE

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


O cantor e compositor Eduardo Gallotti em roda de samba no Trapiche Gamboa, em 2016 — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
O cantor e compositor Eduardo Gallotti em roda de samba no Trapiche Gamboa, em 2016 — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Morreu, na madrugada desta quinta-feira (12), o cantor e compositor Eduardo Gallotti, aos 58 anos. O músico carioca — que lutava contra um câncer nas cordas vocais — foi fundador de rodas de samba tradicionais no Rio de Janeiro, como a do Candongueiro (Niterói), do Sobrenatural (em Santa Teresa), do Severyna (em Laranjeiras) e do Mandrake (em Botafogo). O velório será realizado às 14h desta quinta-feira (12) na capela 8 do cemitério São João Batista. O enterro acontece às 16h.

Gallotti — ou Galo, como era apelidado pelos amigos —costumava dizer que sua "missão" era reunir pessoas para belas confraternizações musicais. Em entrevista recente ao GLOBO, publicada em novembro de 2021, o artista, que havia perdido a voz devido ao tratamento contra o câncer, ressaltou que o mais importante, para ele, era "estar vivo e continuar a missão de agregar músicos e pessoas para fazer rodas bonitas e emocionantes".

Apesar das dificuldades físicas enfrentadas com a doença, ele seguia marcando presença em rodas de samba nos últimos meses. Foi assim em novembro de 2021, na reabertura do Trapiche Gamboa, na Zona Portuária, casa onde o músico comandava a Roda do Gallotti, junto ao Grupo Centelha. Com um pano cobrindo o pescoço em razão de uma traqueostomia, o sambista empunhou seu cavaquinho e, à medida que circulava pelo salão, recebia muito carinho.

Quando precisou ser internado na UTI de um hospital particular no Rio, neste ano, o músico fez questão de ter o cavaquinho a tiracolo. Ele não só não largou o instrumento como tratou de se aproximar dos enfermeiros e médicos que curtiam uma batucada. Agitou, do seu modo, o centro hospitalar.

'Samba se aprende em roda de bar'

Eduardo Gallotti na reabertura do Trapiche Gamboa, em novembro de 2021 — Foto: Léo Martins/Agência O Globo
Eduardo Gallotti na reabertura do Trapiche Gamboa, em novembro de 2021 — Foto: Léo Martins/Agência O Globo

Gallotti começou a cantar samba nos saraus do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, onde estudava. Mergulhou na obra de Cartola, Paulo da Portela, Candeia e Nelson Cavaquinho graças às fitas cassetes gravadas por seu irmão. Aprendeu a tocar cavaquinho sozinho ("samba se aprende em roda de bar, é a melhor escola"), mas fez dois anos de aula com Henrique Cazes.

Em 1984, trocou a faculdade de Biologia pela noite. Apresentou-se em bares dos bairros da Lapa e de Botafogo, no Baixo Gávea e até no posto de gasolina do Humaitá. O dinheiro que ganhava não era suficiente, mas dava para pagar o ônibus e a cerveja. Nas andanças pelo subúrbio, conheceu gente como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Beto sem Braço, Fundo de Quintal, Wilson Moreira, Walter Alfaiate, Mauro Duarte...

O músico fez parte dos grupos de pesquisa musical Diz Isso Cantando e Éramos Seis, com o qual participou da novela "Kananga do Japão". Também integrou a Orquestra Republicana e o grupo Anjos da Lua, que comandaram bailes antológicos no Clube dos Democráticos, na Lapa, nos anos 2000.

O grupo Anjos da Lua, que fez shows no Clube dos Democráticos nos anos 2000 — Foto: Divulgação
O grupo Anjos da Lua, que fez shows no Clube dos Democráticos nos anos 2000 — Foto: Divulgação

Compôs para blocos do carnaval como "Simpatia á quase Amor", "Suvaco do Cristo", "Bloco da Segunda", "Barbas", "Meu Bem Volto Já", "Imprensa que Eu Gamo", entre outros. Foi jurado de bateria dos desfiles das escolas de samba. Dividiu o palco, tocando e cantando, com Elza Soares, Paulinho da Viola, Elton Medeiros no projeto "Roda de Bamba", no Museu da Imagem e do Som do Rio.

Em 2002, lançou o disco “O samba das rodas”. Estava no auge da potência de sua voz, mesmo castigada pelo cigarro, pelas madrugadas de cerveja gelada e gogó solto — muitas vezes, sem microfone. Todo dia era essa a rotina. Até que vieram os 50 anos, e a conta da vida boêmia, como ele mesmo afirmava — levada no “samba vadio” —, chegou.

Passou a nadar para perder os quilos a mais que lhe prejudicavam a saúde (conseguiu emagrecer 45 quilos) e adotou uma alimentação mais saudável. A luz vermelha acendeu de vez quando a voz passou a não aguentar o tranco e a rouquidão virou companheira constante.

— Queria deixar a mensagem para as pessoas pegarem leve no fumo e na bebida e fazerem atividade física. Aconselho todos que usem a voz para trabalhar a procurarem um otorrino de seis em seis meses — sugeriu ele, em entrevista ao GLOBO, em novembro de 2021.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Premiado pelo filme 'A força do destino', americano atuou no remake de 'A cor púrpura'

Morre Louis Gossett Jr., primeiro negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante

Objetivo do governo é manter as contas dentro do limite de meta fiscal

Ministério das Cidades e Transportes são mais afetados com bloqueio orçamentário

Formação da berlinda acontece em dia diferente; em reta final, programa entra, a partir desta sexta-feira (29), no chamado 'modo turbo'

BBB 24: saiba quem ganhou o líder e quem deve ser indicado ao paredão nesta semana

Coalizão pró-europeia, no poder desde dezembro, aprovou um projeto de lei para permitir o acesso à pílula do dia seguinte a partir dos 15 anos

Presidente polonês veta liberação do acesso à pílula do dia seguinte

Popstar lançou hoje 'Cowboy Carter', continuação de seu álbum 'Renaissance', de 2022, e de 'Lemonade', de 2016

Rapper Azealia Banks critica novo álbum de Beyoncé: 'Letras são forçadas'

Membro do staff do presidente francês acomodou duas capas com trajes formais em avião da AirFrance

Ternos de Macron tiveram assento exclusivo na classe executiva de voo para o Brasil, diz jornal

Ministro Luiz Fux iniciou a votação, afirmando que "inexiste" na Constituição a previsão do "poder moderador" e que a Carta Magna não permite o uso das Forças contra outro Poder

Poder moderador, artigo 142 e GLO: o que o STF está julgando sobre a atuação das Forças Armadas

Influenciadora digital iniciou namoro com cantor na adolescência, aos 14 anos; criados na mesma favela, os dois reataram relacionamento

Esbarrão, mensagens e mentira sobre idade: como Vivi Noronha e Poze do Rodo se conheceram?

O ex-deputado federal ficou insatisfeito com declarações do presidente estadual do PDT paulista em apoio a outra pré-candidata a vereador na cidade de Cotia (SP)

Alexandre Frota cogita volta à política no interior de SP, e se irrita com dirigente: 'Enche o saco'