Toffoli rejeita notícia-crime de Bolsonaro contra Moraes

Presidente acusou ministro de abuso de autoridade por ser inserido no inquérito das fake news

Dias Toffoli
Ministro Dias Toffoli negou seguimento ao pedido do presidente Jair Bolsonaro
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O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou nesta 4ª feira (18.mai.2022) a notícia-crime ajuizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o ministro Alexandre de Moraes, que integra a Corte, por suposto abuso de autoridade.

O Poder360 antecipou na noite de 3ª feira (17.mai) que o Supremo rejeitaria o pedido de investigação.

Para Toffoli, não há indícios, “ainda que mínimos”, de que Moraes cometeu algum crime. O ministro arquivou o caso no mérito, rejeitando seu prosseguimento na Corte. Também retirou o sigilo do processo. Eis a íntegra da decisão (270 KB).

“Os fatos descritos na ‘notícia-crime’ não trazem indícios, ainda que mínimos, de materialidade delitiva, não havendo nenhuma possibilidade de enquadrar as condutas imputadas em qualquer das figuras típicas apontadas”, diz Toffoli. O ministro despachou da República Dominicana. Volta ao Brasil na 5ª (19.mai).

A notícia-crime foi ajuizada no Supremo na 2ª feira (16.mai). Moraes, diz o pedido de investigação, incluiu o presidente no inquérito sem qualquer indício de prática de crime, conduta com pena de reclusão de 6 meses a 2 anos pela Lei 13.869. A norma dispõe sobre práticas abusivas cometidas por agentes públicos.

Grosso modo, notícias-crime, como a que foi apresentada pelo presidente, funcionam como uma espécie de boletim de ocorrência: pessoas ou instituições informam que determinado crime pode ter sido cometido, e as autoridades decidem se vão ou não autorizar a investigação.

Pedidos assim costumam ser encaminhados ao Ministério Público, órgão com competência para investigar e propor denúncias, e não ao STF.

Com a solicitação, Bolsonaro delimita ainda mais suas divergências com parte do STF. Parecia esperar que a Corte rejeite a notícia-crime e pode faturar politicamente com o episódio.

Advogado desconhecido

A notícia-crime é assinada pelo advogado Eduardo Reis Magalhães, que é desconhecido por seus colegas de profissão em Brasília e no Rio deJaneiro, mesmo pelos que já representaram  o chefe do Executivo em outros processos.

Ministros do Supremo também disseram ao Poder360 que não conhecem o advogado. “Ele tem procuração do presidente?”, perguntaram alguns. O documento existe. Foi assinado em 9 de maio deste ano e dá a Magalhães o poder de representar Bolsonaro, “especialmente para protocolar notícia-crime” contra Moraes, apurou a reportagem.

Eis a íntegra da procuração (754 KB)

Magalhães é inscrito nos quadros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Paraná desde março de 2011 e tem 35 anos. É sócio do escritório Vicente Magalhães & Advogados, sediado em Curitiba. A banca não tem site. No Facebook, uma página com o nome do escritório só tem uma curtida.

O advogado já atuou em um processo contra o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Também há registro de ações trabalhistas analisadas pelo TRT-3 (Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região).

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