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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vacina da gripe pode ajudar a proteger contra a covid

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

18/05/2022 04h00

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A vacina contra a gripe ajuda a evitar complicações da doença, em especial nos mais vulneráveis, como crianças menores de 5 anos, idosos e imunossuprimidos. Apesar disso, o número de vacinados segue abaixo do recomendado.

A Campanha Nacional de Vacinação, que começou em 4/4/2022, tinha como meta inicial vacinar os profissionais de saúde e ao menos 90% das pessoas com mais de 60 anos. No primeiro mês da campanha, no entanto, foram vacinados apenas 30% dos idosos, segundo o Ministério da Saúde.

A campanha deste ano entrou na sua segunda fase em 3/5/22. O público-alvo dessa etapa são as crianças de 6 meses a 5 anos incompletos; gestantes e puérperas; professores da rede de ensino pública e privada; indígenas; caminhoneiros; motoristas de transportes coletivos; membros das forças de segurança e salvamento; pessoas com comorbidades; pessoas com deficiência permanente; trabalhadores portuários; membros das forças armadas; funcionários do sistema prisional; adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade sob medidas socioeducativas; e população privada de liberdade.

Os idosos que ainda não se vacinaram podem fazê-lo até 3/6/22, quando termina a campanha. Como o vírus da influenza sofre mutações constantes, é necessário se vacinar uma vez por ano, pois as vacinas são atualizadas anualmente.

Uma cobertura vacinal baixa pode causar surtos e epidemias de gripe, sobrecarregando os sistemas de saúde.

Além disso, ao contrário do que muita gente pensa, a gripe não é uma doença branda, ao menos não para todo mundo. A influenza pode causar problemas respiratórios graves e até levar a óbito as pessoas mais vulneráveis, sendo responsável por centenas de milhares de mortes no mundo todos os anos.

Agora as pessoas terão outro motivo para se vacinar: um estudo, ainda em pré-print (artigo que ainda não foi revisado por outros pesquisadores que não fizeram parte do estudo), mas noticiado na revista Nature, revelou que a vacina contra a gripe pode reduzir consideravelmente o risco de contrair covid-19 e de desenvolver a forma grave da doença.

O estudo, realizado no Qatar com mais de 30 mil profissionais de saúde, revelou que aqueles que tomaram a vacina contra a influenza tiveram 90% menos de risco de desenvolver a forma grava da covid nos meses que sucederam a vacinação, em comparação com aqueles que não receberam o imunizante.

A pesquisa foi realizada no fim de 2020, antes do desenvolvimento das vacinas específicas contra o Sars-CoV-2, vírus que causa a covid, o que sugere que a vacina contra a gripe (e talvez outras vacinas) pode ajudar o organismo e o sistema imunológico a se proteger contra a covid.

Não está claro, no entanto, quanto tempo a proteção dura. Entre os participantes do estudo que tomaram a vacina contra a gripe e contraíram o Sars-CoV-2 depois, a infecção ocorreu em média 6 meses depois. Os pesquisadores não esperam que a proteção dure muito tempo.

Também não está esclarecido por que as vacinas contra a gripe, que contêm vírus morto, protegem contra a covid. As vacinas "treinam" o sistema imunológico para reconhecer patógenos específicos, mas também aumentam a defesa antiviral de forma mais ampla.

Outro estudo observacional feito com pacientes hospitalizados com diagnóstico confirmado de covid-19 no Brasil e realizado por pesquisadores brasileiros e suíços, embora tenha limitações, mostrou uma associação entre a vacina da gripe e a redução do risco de desenvolver covid grave.

Em que pese a dificuldade de conduzir estudos sobre a proteção da vacina da gripe contra a covid, pois não há como avaliar se as pessoas que se vacinaram contra a gripe também adotaram outras medidas de prevenção contra o Sars-CoV-2, o estudo traz mais evidências de que outras vacinas podem ajudar a aumentar a imunidade contra a covid.

Assim, demonstrar que vacinas para outras doenças podem oferecer proteção, mesmo que parcial e limitada, contra a covid-19, pode ser útil em futuras pandemias de doenças ainda desconhecidas, para as quais ainda não existam vacinas.