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ELEIÇÕES 2022

Bolsonaro reedita o antipetismo em tom de ameaça

Bolsonaro discursa em evento de banco

Um Jair Bolsonaro irritadiço, falando alto, por vezes gritando, secundado de três ministros de Estado e usando o Palácio em horário de expediente para fazer campanha eleitoral reeditou com tudo o antipetismo e o antilulismo como estratégia principal para buscar a reeleição em evento promovido pelo BTG nesta quarta-feira.

E mais: o fez em tom de clara ameaça, ao se dirigir à audiência, composta por executivos dos setores financeiro e produtivo e cobrá-los a "fazer alguma coisa" diante da possibilidade concreta de vitória de Lula. O que exatamente ele espera que essas pessoas façam é a pergunta que abre, uma vez mais, o espaço para especulações de que ele aquece o discurso para questionar o resultado das eleições lá na frente.

Bolsonaro chegou ao ponto de listar um "programa de governo" fictício de Lula caso seja eleito, composto de 14 itens. Se questionado, ele certamente teria dificuldade de listar 14 propostas de seu próprio plano, mas não titubeou em enfileirar aquelas medidas que o adversário tomaria se fosse eleito, não por acaso aquelas mais aterrorizantes ao mercado, ao empresariado e ao agronegócio, público em potencial da palestra seguida de perguntas (essas respondidas, na quase totalidade, pelos ministros, não por ele).

O Lula de Bolsonaro vai revogar as reformas trabalhista e da Previdência, reveter a autonomia do Banco Central, recriar o Imposto Sindical, reestatizar as empresas privatizadas, acabar com o teto de gastos, fortalecer o MST, "recolher armas das mãos do cidadão de bem", extinguir escolas cívico-militares e colégios militares, liberar drogas, legalizar o aborto e... reaproximar o Brasil de Cuba (essa não poderia faltar, claro).

Ainda que o PT e Lula discutam medidas relativas a esses temas, essa plataforma, na sua totalidade, é uma invenção de Bolsonaro, e mostra que ele não terá pudor algum de mentir e criar narrativas mesmo no exercício da Presidência.

Escrevi na minha coluna nesta quarta-feira no GLOBO que o sentimento no entorno do presidente é o de que o pior para ele em termos de popularidade e intenção de votos pode ter passado. E que parar de investir contra a vacinação de crianças era considerado crucial para isso. Mesmo em seus arroubos, Bolsonaro entendeu o recado, e foi bem contido na palestra ao mercado ao falar de vacina e pandemia.

Já quanto ao discurso antipetista, o presidente está "liberado" pelos profissionais que se apossaram da sua estratégia de campanha. O próprio Ciro Nogueira, um dos que estavam na entrevista passando cola para o presidente, tem ido nessa linha em entrevistas e nas redes sociais.

A opção não é por acaso nem desconectada com a realidade. O PT e Lula parecem ter passado a acreditar que a tragédia do governo Bolsonaro bastaria por si só para redimir a ambos perante o eleitorado, com base no discurso de que a Lava Jato foi um golpe. Acontece que isso não é consensual na sociedade.

Depois de um período de vergonha com as declarações e ações do presidente, uma parcela do seu eleitorado parece disposta a voltar e a repetir o voto nele, e o "senão o Lula volta" é um elemento importante de justificativa de quem faz esse caminho.

Junte-se ao eleitor "reconvertido" a parcela que nunca saiu e o público buscado agora pelos profissionais do Centrão, o que passou a receber o Auxílio Brasil e outros benefícios, existem um discurso, uma linha de campanha e um potencial de crescimento, coisas que ainda faltam, por exemplo, nos outros candidatos que sonham tirar Bolsonaro do segundo turno.

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