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Por Jornal Nacional


Dois aviões da FAB resgatam brasileiros que estavam na Ucrânia

Dois aviões da FAB resgatam brasileiros que estavam na Ucrânia

Estão a caminho do Brasil os dois aviões da FAB com as 68 pessoas que fugiram do conflito na Ucrânia - a maioria brasileiros. Os enviados especiais Bianca Rothier e Daniel Peralta acompanharam o embarque na capital da Polônia.

Junto com a bandeira do Brasil, desembarcaram na capital polonesa 11,5 toneladas de ajuda humanitária para a Ucrânia: kits para a produção de energia solar, purificadores de água, 20 mil itens médicos e alimentos desidratados para quase 400 mil refeições.

Enquanto o material era descarregado do KC-390 Millennium, da Força Aérea Brasileira, o grupo aguardava ansioso num hotel o momento de embarcar naquela mesma aeronave.

Dos 68 repatriados, 42 são brasileiros — Foto: Jornal nacional/ Reprodução

Do hotel, o grupo seguiu de ônibus para a base aérea de Varsóvia. Num deles, a equipe do Jornal Nacional conheceu a família da estilista Hainaya Komatso. Ela decidiu encarar uma rota de fuga, mesmo com uma bebê de 4 meses nos braços.

“No começo, a gente estava um pouco relutante, porque ela acabou de nascer, né? Mas a nossa janela, a gente mora em Irpin, aquela área que agora está assim bem ruim. Todo dia a gente escutava o barulho das bombas e, da nossa janela, a gente começou a ver o fogo e foi nesse momento que a gente decidiu realmente sair. Tinha muita fumaça, muito fogo. É aquele sentimento de pânico. Você dorme, você não tem certeza se você vai acordar. Se uma bomba vem de cima, não tem para onde correr”, conta Hainaya.

A filha mais velha, Nicole, de 8 anos, contou do medo de ter que se despedir do pai para sempre: “Eu estava um pouco preocupada pelo meu pai porque ele não podia passar, porque ele é o meu pai. Eu pensava que eu nunca mais poderia vê-lo se nós fôssemos sem ele”, diz. Perguntada se tinha medo de nunca mais poder ver o pai, Nicole respondeu: “Sim”.

O marido da Hainaya é ucraniano. Como todos os homens entre 18 e 60 anos precisam ficar na Ucrânia para defender o país, Andrii só conseguiu sair porque é considerado pai de uma família numerosa. Além da pequenina Lis e da Nicole, eles ainda têm o Lev, que nem completou 2 anos.

“Eu não posso ajudar meu país na guerra. Sou músico, não sei usar armas. Minha arma são as palavras, como você, jornalista”, diz Andrii. Ele, então, compôs um recado para os soldados russos irem embora.

No mesmo ônibus, a equipe do Jornal Nacional encontrou o Mateus, que jogava futsal na Ucrânia. Ele ficou só um mês no país, metade no meio do conflito, e ouviu de conhecidos histórias terríveis.

“Muitas crianças chegando no hospital debilitadas por serem abusadas, enfim... Os bunkers sendo saqueados. Não tem como estar feliz, aliviado, sim, por sair de tudo”, diz o jogador de futsal Mateus Ramires.

Na base aérea da capital polonesa, o grupo de repatriados vai seguir nesses ônibus e vans para embarcar em dois aviões da Força Aérea Brasileira, encerrando um ciclo doloroso com um misto de sentimentos.

Repatriados devem chegar ao Brasil na tarde desta quinta (9) — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Para a médica Amarílis Tomaz, que trabalhava no setor de pediatria de um hospital no leste da Ucrânia, a sensação é de pesar e a raiva.

“A Rússia não está fazendo nenhuma missão de paz dentro da Ucrânia. Eles estão matando, eles estão estuprando. Eles estão cometendo crimes de guerra hediondos”, afirma.

Ao lado de Wood, um dos 10 animais de estimação que embarcaram de volta ao Brasil, ela destacou a resistência dos ucranianos.

“Hoje, 14 dias de guerra. São 14 dias sem as pessoas dormirem, dentro de bunker. Como explicar para uma criança de 3 anos que agora ela tem morar no escuro”, enfatiza.

A médica faz um relato de uma brutalidade monstruosa contra uma criança acolhida no hospital.

“Menina de 8 anos, quando os paramédicos acharam onde ela estava, ela realmente estava em um estado muito ruim. Ela foi estuprada por mais de 15 pessoas. Traumático. Eu volto para casa com o coração quebrado e metade lá”, diz.

Depois de reuniões com autoridades polonesas, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, foi cumprimentar o grupo. França disse que, antes de viajar para a Europa, conversou com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, e comentou a posição do Brasil para o fim do conflito.

“A nossa posição é de equilíbrio. O Brasil está às ordens, na disposição com a capacidade negociadora da chancelaria brasileira, para ajudar a encontrar uma saída para essa crise”, declarou o ministro Carlos França.

O avião em que o ministro chegou à Polônia, um Legacy, por ser mais confortável, foi cedido para transportar uma grávida e duas famílias com crianças de colo. No cargueiro, está vindo a maior parte dos repatriados. A decolagem foi às por volta das 18h30, horário local.

Nos dois aviões da FAB, estão 68 repatriados: 42 brasileiros, 20 ucranianos que têm parentes brasileiros e ainda cinco argentinos e um colombiano.

O KC-390 e o Legacy vão fazer escalas em Lisboa, Cabo Verde e Recife, antes de pousarem no destino final. A previsão é que todos cheguem na quinta-feira (10), às 12h, na base aérea de Brasília.

Roberto Szymanski, dono de uma escola de futebol na Polônia e que estava trabalhando na Ucrânia, nem desembarcou no Brasil e já pensa em voltar para a Ucrânia.

“Já estamos dentro da aeronave. A expectativa agora é chegar no Brasil, descansar um pouquinho e já pensar em retornar depois para ajudar esse povo ucraniano”, diz.

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