Saúde

Brasil tem dois casos da variante Deltacron, diz ministro da Saúde

Marcelo Queiroga afirmou que ocorrências foram confirmadas no Pará e no Amapá
Coronavírus vistos por um microscópio eletrônico. Foto: NIAID/NIH
Coronavírus vistos por um microscópio eletrônico. Foto: NIAID/NIH

BRASÍLIA- O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na manhã desta terça-feira que dois casos da variante Deltacron já foram confirmados no país. Segundo ele, as ocorrências foram identificadas no Pará e no Amapá.

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A nova cepa do coronavírus é um híbrido da variante Delta e da Ômicron, como sugere o nome. A variante foi identificada pela primeira vez na França, em amostras coletadas em janeiro.

— Essa variante que seria uma junção da Ômicron com a Delta, a Deltacron, que tem mais na França e em outros países da Europa. Nosso serviço de vigilância genômica já identificou dois casos no Brasil, um no Amapá e outro no Pará e nós monitoramos todos esses casos. Isso é fruto do fortalecimento da capacidade de vigilância genômica no Brasil —  afirmou Queiroga.

Apesar da afirmação do ministro, o GLOBO apurou que até o fim da tarde de terça a área técnica da pasta ainda analisava os casos, pois há possibilidade de que se trate de uma coinfecção pelas duas variantes, Delta e Ômicron. O diagnóstico, no entanto, ainda não está fechado.

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Questionado se a identificação dos casos da nova cepa gera preocupação, Queiroga afirmou que a pasta vai monitorar a disseminação da Deltacron.

— Essa variante é uma variante de importância e requer o monitoramento. As variantes são classificadas como de importância e preocupação e as autoridades sanitárias estão aqui para tranquilizar a população. As medidas são as mesmas — disse.

Dose de reforço

O ministro pediu que a população compareça aos postos de saúde para tomar a dose de reforço da vacina. Queiroga argumentou que a medida é importante para manter o cenário controlado.

De acordo com especialistas, a Deltacron, até o momento, não demonstrou capacidade de disseminação exponencial. A chamada proteína Spike, principal alvo dos anticorpos produzidos por vacinas e infecções, é quase totalmente igual à Ômicron. Devido a isso, cientistas consideram que as pessoas vacinadas ou que já foram infectadas pela Ômicron possam estar protegidas.

A nova variante foi descoberta em fevereiro, por Scott Nguyen, cientista do Laboratório de Saúde Pública de Washington, DC. Ele encontrou amostras coletadas na França em janeiro que os pesquisadores identificaram como uma mistura de variantes Delta e Ômicron. Os cientistas chamam esses vírus de recombinantes. Até 10 de março, um banco de dados internacional já notificava 33 casos da variante na França, oito na Dinamarca, um na Alemanha e um na Holanda.

Infectologista da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, a médica Raquel Stucchi afirma que ainda é cedo para cravar as características da nova variante no que diz respeito à transmissibilidade e letalidade.

— Os vírus recombinantes tendem a não ter capacidade muito grande de se perpetuar, mas ainda é cedo para falar se será assim com a Deltacron. Nos locais onde está sendo identificada temos observado aumento no número de casos, na França, na Alemanha, Dinamarca, mas ainda não sabemos qual a proporção em que essa variante é responsável por isso.— analisa a infectologista, acrescentando:

— Vamos ter de esperar mais um pouco para ter esses dados. Também não sabemos se a imunidade natural que adquirimos com a disseminação da ômicon será suficiente para combatê-la, e o quanto ela a Deltacron será combatida para vacinas atuais.

Para a especialista ainda não é o momento de cravar o fim da pandemia. Ela destaca que é preciso aumentar o percentual de pessoas vacinadas com dose de reforço para garantir maior proteção. Atualmente, segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa do qual O GLOBO faz parte, entre os 210 milhões de brasileiros, 69,9 milhões foram vacinados com a dose de reforço.

Ainda não há consenso no Ministério da Saúde sobre a aplicação de nova dose em idosos. A pasta analisa os estudos produzidos para decidir sobre a revacinação.

— A nossa preocupação no momento deveria ser aumentar a vacinação e colocar a quarta dose para os idosos. Além disso temos a chegada do outono/inverno, que são estações que já temos maior número de infecções respiratórias. Estamos há duas semanas do mês que foi o mais letal da pandemia. É um tempo muito curto (de redução de casos) para grande comemorações. Ainda não é o momento de falar que ganhamos o jogo.

Ainda não há consenso no Ministério da Saúde sobre a aplicação de nova dose em idosos. A pasta analisa os estudos produzidos para decidir sobre a revacinação. Nesse cenário, os pesquisadores reforçam a importância do uso de máscaras, medida eficiente para conter a transmissão do coronavírus.

Pelo menos 11 unidades da federação já flexibilizaram o uso de máscaras. No Distrito Federal e na cidade do Rio de Janeiro o item não é mais exigido mesmo em ambientes fechados .

— Temos cada cidade e estado agindo conforme sua convicção e conveniência. Não tem sentido suspender o uso de máscara em lugar fechado, o Ministério da Saúde tinha que ter se colocado em relação a isso com uma política nacional —  afirmou o médico sanitarista da Fiocruz Cláudio Maierovich.

O GLOBO questionou a pasta se há outros possíveis casos de Deltacron sob investigação no país e perguntou detalhes sobre o monitoramento das ocorrências confirmadas, mas ainda não obteve resposta.