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Eleições 2018 Debates

Em debate mais politizado, inconstância marca ataques a Bolsonaro

Bloqueado em pesquisas, Ciro conseguiu articular melhor um discurso contra o candidato e o PT

Igor Gielow
São Paulo

Naquele que provavelmente foi o mais politizado debate dos presidenciáveis até aqui, o chamado centro demonstrou as dificuldades que enfrenta numa corrida crescentemente polarizada entre o ausente Jair Bolsonaro (PSL) e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e seu preposto, Fernando Haddad.

Candidatos a presidente reunidos para o debate promovido pela Folha, UOL e SBT
Candidatos a presidente reunidos para o debate promovido pela Folha, UOL e SBT - Eduardo Anzelli/Folhapress

A inconstância marcou as referências ao deputado fluminense, que não participou por ainda estar internado devido ao atentado a faca do dia 6. Ele foi ignorado no primeiro bloco, ganhou proeminência no segundo, quando Ciro Gomes (PDT) o chamou de "aberração" e só apareceu de forma mais clara no discurso de Geraldo Alckmin (PSDB) nas considerações finais.

Ao fim, foi o pedetista quem conseguiu uma linha mais coerente para tentar atingir o eleitorado indeciso, único alvo factível a essa altura da corrida eleitoral para ele. Articulou o discurso "nem Bolsonaro, nem o PT" ao longo de suas intervenções e na pregação final. O problema para Ciro é que ele está bloqueado nas pesquisas pelo deputado e por Haddad no seu reduto mais forte, o Nordeste.

Já Alckmin, teoricamente o candidato que ainda alimenta a esperança de crescer na reta final da campanha, elaborou o mesmo raciocínio de forma mais vaga. Para não soar como Ciro na fala de encerramento, evitou chamar Bolsonaro pelo nome. O tucano parecia nervoso, afetando o tique de morder os lábios.

Como em ocasiões anteriores, o tucano foi também alvo de críticas, mas em menor intensidade. A troca de "jabs" com Henrique Meirelles ao falar sobre gestão pública e construção de linhas de metrô teria sido fatal caso o embate fosse tarde da noite: teria um potencial soporífero grande. Mais que isso, simbolizava a desunião do chamado centro, uma das constantes dessa disputa.

Pior que ele, apenas Haddad, que naturalmente virou vidraça por estar em segundo lugar isolado nas pesquisas. O petista estava com o semblante duro, as mãos travadas e os polegares constantemente em movimento. Suas respostas invariavelmente elevavam o tom, passando o recibo de ter sido acuado.

No geral, os candidatos estavam todos mais afiados do que em outros encontros. Marina Silva (Rede) protagonizou uma incomum altercação com Haddad, Ciro manteve a verve, Guilherme Boulos (PSOL) estava mais agressivo do que o normal e Cabo Daciolo (Patriota), bem, foi Cabo Daciolo.

Sem Bolsonaro, sobrou para Haddad, mas o fato é que a ausência do líder das pesquisas tirou assertividade que poderia ocorrer e impressionar o eleitorado ainda volúvel.

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