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Eleições 2022

João Doria ganhou tempo, mas assinou a sentença de sua candidatura

Joao Doria durante evento em que anunciou saída do governo de SP

No auge da tensão provocada no PSDB pela ameaça de João Doria de desistir da candidatura à presidência, um cacique tucano resumiu assim a situação: "Doria agiu como terrorista. Se abraçou ao PSDB com uma bomba amarrada ao corpo e ameaçou explodir tudo."

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É por isso que o desfecho do impasse desta quinta-feira está longe de representar uma vitória política de Doria com renúncia ao governo do Estado de São Paulo para se candidatar à presidência.

Toda a movimentação realizada ontem no partido tinha como único objetivo desativar a bomba de Doria, mas não o de salvar a sua candidatura presidencial. 

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Para isso, era preciso, antes de mais nada, que ele deixasse o governo de São Paulo para permitir que o vice, Rodrigo Garcia, se candidate, como foi combinado lá atrás entre os dois. 

A saída de Doria do Palácio dos Bandeirantes era crucial na estratégia de Garcia para se viabilizar como candidato, num cenário eleitoral já bastante espremido entre Fernando Haddad (PT), de um lado, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de outro. 

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Por isso, quando soube que Doria ameaçava não renunciar ao governo, Garcia exigiu que Bruno Araújo tomasse uma providência. Senão, ele também sairia do PSDB e trabalharia pelo impeachment de Doria. 

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Doria, por sua vez, percebeu da pior maneira que seus aliados em São Paulo estavam mais preocupados com o futuro de Garcia do que com seu próprio. Com deputados e prefeitos engrossando a revolta de Garcia, não sobrou outra alternativa a Araújo a não ser agir. 

Logo após o evento, o próprio Doria disse que a ameaça e o recuo haviam sido "estratégia política", um "planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos, o apoio explícito do PSDB a partir de seu presidente, Bruno Araújo".

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Segundo o governador, foi uma resposta ao que chamou de "tentativa de golpe" do gaúcho Eduardo Leite – que perdeu as prévias do partido, mas não esconde a vontade de dar uma virada de mesa e ser o candidato a presidente do PSDB.

Difícil conceber um cálculo político tão estabanado. Ao longo de toda a manhã, até aliados muito próximos do governador se dividiam entre estupefatos e indignados. 

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Os que pretendiam se afastar de Doria na eleição, para evitar se contaminar por suas taxas de rejeição no estado, agora têm a desculpa de que precisavam. Rodrigo Garcia e seu grupo serão os primeiros. 

Entre aliados de fora de São Paulo não faltou quem visse no vaivém de Doria uma autorização para pular para o lado de Leite. "Ele só precisa sair do governo. Depois a gente vê o que faz", diziam vários deles, ao longo do dia de ontem. 

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Ao final, parecia evidente que a carta de Araújo assegurando a João Doria o direito de disputar a presidência não será suficiente para impedir que ele comece a ser abandonado assim que deixar o Bandeirantes.

Na visão desses tucanos, o que eles fizeram ontem foi desarmar a bomba. De agora em diante, vão começar a trabalhar para se livrar do terrorista.

 

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