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Número de universidades brasileiras entre as melhores do mundo cai pelo segundo ano consecutivo

País passou de 21 instituições para 15 entre as mais renomadas

Interior da Uerj, que saiu da lista das 1000 melhores nesse ano Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Interior da Uerj, que saiu da lista das 1000 melhores nesse ano Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO—  O número de instituições brasileiras de ensino superior entre as mil melhores do mundo caiu de 21 para 15, em relação ao ano passado, segundo ranking divulgado nesta quarta-feira pela Times Higher Education (THE), organização britânica especializada na avaliação do setor. Esta foi a segunda vez consecutiva que o Brasil apresentou queda no número de universidades entre as mil melhores — em 2016, eram 27. O levantamento avalia 1.250 instituições de 86 países.

Entre os motivos para o declínio, especialistas apontam os cortes de financiamento e o fato de o Brasil ainda precisar focar no acesso à educação superior em detrimento da promoção de excelência. As universidades de Oxford e Cambridge, ambas no Reino Unido, ocupam o primeiro e o segundo lugares, respectivamente. Em terceiro, aparece Stanford, nos Estados Unidos.

Sete instituições brasileiras saíram do ranking, mas a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que não aparecia na lista das mil em 2017, passou a integrar o quadro. Entre as instituições que deixaram a lista das mais renomadas está a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que passou por problemas de financiamento devido à crise do estado e chegou a ter as aulas interrompidas diversas vezes em 2014.

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A brasileira mais bem colocada no ranking é a Universidade de São Paulo (USP), que ficou entre as 251 e 300 melhores — a organização só divulga a posição exata das primeiras 200 avaliadas. De acordo com o THE, a pontuação da USP melhorou em relação ao ano anterior. O mesmo aconteceu com a Unicamp, que é a segunda universidade brasileira mais bem colocada e está na faixa das 401 a 500 instituições com maior desempenho.

O Brasil tem apresentado queda na representação das mil melhores desde o ano passado, quando teve seis instituições a menos na lista das mil em relação a 2016. Para o diretor editorial do ranking, Phil Baty, que descreve o quadro como “sombrio”, o motivo para a saída de universidades é o declínio do financiamento.

— Você simplesmente não pode alimentar instituições de pesquisa de nível mundial com cortes de financiamento, e os sérios problemas econômicos enfrentados pelo Brasil não são um bom presságio para o futuro — criticou Baty. — O declínio de financiamento e a queda no ranking podem alimentar um círculo vicioso, com os talentos saindo do país.

O professor titular da UFBA e coordenador de educação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Robert Verhine, concorda que os cortes têm prejudicado a promoção da excelência no país:

— Desde 2014, o Brasil está em uma recessão grave e, com isso, recursos para a etapa têm sido cortados significativamente. Trabalho com a Capes e o CNPq, e o financiamento desses órgãos hoje é praticamente metade do que foi há quatro anos. A tendência é que a inserção do Brasil nesses rankings piore, uma vez que, enquanto restringimos recursos, há outros países que investem mais, como a China, o que dificulta conseguir um espaço.

Verhine também afirma que a necessidade de corrigir uma deficiência histórica de baixo acesso ao ensino superior faz com que o país priorize a solução desse problema em detrimento da promoção de excelência. Dados do relatório “Education at a Glance”, divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que, enquanto no Brasil 17% da população de 24 a 34 anos atingiram o ensino superior em 2015, a taxa entre os países da OCDE era de mais de 40%.

— O Brasil tem focado em atender um número maior de pessoas que historicamente não tem atendido, assegurando os padrões mínimos de qualidade para todos. Eu não critico a política brasileira nesse sentido, porque considero que seja importante expandir o acesso com qualidade. A taxa de matrícula no Brasil ainda está muito abaixo de outras experiências internacionais — argumenta Verhine.

Em nota, a Uerj atribuiu a queda no ranking à ascensão das universidades chinesas, que têm interferido nas posições das demais. A Uerj disse ainda que, a despeito da crise, no âmbito da América Latina, onde não existe essa influência, a instituição continua entre as 25 primeiras. Assim como em outras listas, como o Center for World University Rankings, no qual vem melhorando sua posição ano a ano.

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS ENTRE AS MILL MELHORES

USP - 251ª a 300ª

UNICAMP- 401 ªa 500ª

UFMG- 601 ªa 800ª

UFRJ- 601 ªa 800ª

UFRGS- 601 ªa 800ª

UNIFESP- 601ª a 800ª

PUC-RIO- 601ª a 800ª

UNB- 801ª a 1000ª

UFABC- 801ª a 1000ª

UFBA- 801 ªa 1000ª

UFPEL- 801ª a 1000ª

UFSC- 801ª a 1000ª

UFSCAR- 801 ªa 1000ª

PUC-RS- 801ª a 1000ª

UNESP- 801ª a 1000ª

* Unifei, UFC, UFPE, UFRN, PUC-PR, Uerj e UEPG saíram da lista