Por Vinicius Lima e Lucas Mathias


Usinas Angra 2 (à esquerda) e Angra 1 (à direita); os reatores, onde a energia nuclear é gerada, ficam dentro das estruturas brancas — Foto: Eletronuclear

O prefeito Fernando Jordão pediu neste domingo (3) o desligamento temporário e emergencial das usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ). O motivo são as condições de trânsito na BR-101 (Rodovia Rio-Santos), já que há vários pontos de interdição na estrada por conta de deslizamentos de terra provocados pela chuva.

Também há bloqueios na Paraty-Cunha e na RJ-155, outras vias de acesso a Angra dos Reis.

Segundo o prefeito, não seria possível colocar em prática o plano de emergência enquanto as principais vias de acesso ao município estiverem interditadas. No sábado (2), Fernando Jordão decretou estado de emergência por causa dos transtornos causados pelo grande volume de chuva nos últimos dias.

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O pedido de desligamento das usinas feito feito ao Governo Federal.

"Acabei de falar com a Procuradoria do município, já disse ao presidente da Eletronuclear, que nós vamos pedir o desligamento das usinas nucleares. Falei também com o ministro Marcelo Sampaio, que é o atual ministro da Infraestrutura, que a CCR tem que vim agir aqui na Rio-Santos. Não pode ser a prefeitura que vai tirar barreira para a CCR aqui na Rio-Santos. Também conversei com o governador que o DER tem que vim aqui fazer uma ação definitiva na RJ-155. Quem está fazendo esse trabalho é a prefeitura de Angra dos Reis", disse Fernando Jordão.

Em nota, o Ministério de Infraestrutura garantiu que a concessionária CCR está atuando diretamente no desbloqueio da Rio-Santos, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal. "O Ministério da Infraestrutura está atento e acompanhando tudo o que está sendo feito para amenizar os impactos da chuva", informou.

Eletronuclear não vê risco neste momento

Em nota, a Eletronuclear esclarece que o plano de emergência na central nuclear de Angra dos Reis não está comprometido por conta das quedas de barreiras nas estradas.

"Segundo os procedimentos estabelecidos no plano, em caso de emergência, a evacuação poderia abranger pessoas localizadas em um raio de até 5 km da central, que seriam levadas para abrigos situados a até 15 km das usinas. Esses abrigos também não foram atingidos pelas chuvas ou por deslizamentos de terra. Dessa forma, no momento, a ação poderia ser realizada com total eficácia", garantiu a Eletronuclear.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão regulador e fiscalizador do setor nuclear brasileiro, também emitiu nota afirmando que “apesar da situação decorrente das condições meteorológicas na região de Angra dos Reis, até o presente momento não há comprometimento das vias de acesso do entorno da central que pudessem impactar na execução do plano de emergência”.

A Eletronuclear reitera que as usinas nucleares Angra 1 e 2 estão operando normalmente, a plena capacidade, gerando energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN).

CCR e DER trabalham na limpeza das estradas

Equipes trabalham na liberação de trechos interditados na Rio-Santos — Foto: Divulgação/CCR

"Nós estamos desde a madrugada de sexta-feira com equipes atuando na rodovia, na limpeza da pista, na desobstrução, retira de queda de árvore, retirada de queda de barreira... Então, desde a madrugada de sexta-feira até agora, nós estamos com diversas equipes espalhadas. São, pelo menos, 11 ou 12 equipes espalhadas por todo o trecho da rodovia. É bom deixar claro que o problema não acontece somente no trecho de Angra. É de Ubatuba até o Rio de Janeiro com problemas na rodovia", informou a CCR, concessionária que administra a Rio-Santos.

Em nota, o DER-RJ informou está sendo realizada uma limpeza na altura do km 7 da RJ-155, onde ocorreu um grande deslizamento, e que o serviço deve ser concluído até o fim da tarde deste domingo.

Energia capaz de atender a 3 milhões de habitantes

Com 640 megawatts de potência, a usina nuclear Angra 1 gera energia suficiente para suprir uma uma cidade de 1 milhão de habitantes, como Maceió (AL) e Belém (PA).

Angra 2 tem potência de 1.350 megawatts e é capaz de atender ao consumo de uma cidade de 2 milhões de habitantes, como Manaus (AM) e Curitiba (PR).

Chance de acidente é muito baixa, mas impactos seriam graves

O Brasil tem apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país — para comparação, a usina hidrelétrica de Itaipu gera 15%.

Angra 1 entrou em operação comercial em 1985 e, Angra 2, em 2001. A construção de uma terceira usina, Angra 3, foi iniciada há 35 anos, tem 62% das obras executadas, mas atualmente o canteiro encontra-se paralisado.

A instalação das usinas em Angra levou em conta justamente a proximidade tanto do Rio como de São Paulo. Dessa forma, é mais fácil transmitir a energia produzida para os grandes centros de consumo. Além disso, estar perto do mar é importante, já que é preciso muita água para resfriar o sistema - vale dizer que essa água não entra em contato com a radioatividade.

Vista aérea das usinas de Angra 1 e Angra 2, envoltas pelo mar e floresta de Angra dos Reis — Foto: Maxar Technologies/Google Earth

Em uma usina nuclear, a energia é gerada pelo processo de fissão nuclear do urânio — ou seja, a quebra dos átomos — que ocorre dentro de um reator. O combustível usado no reator é formado por centenas de pastilhas de urânio, um material radioativo, que se torna ainda mais radioativo com o processo de fissão.

"Um acidente nuclear é basicamente o vazamento do material radioativo", explica Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "É muito mais provável que outras barragens no Brasil se rompam do que ocorra um acidente em Angra. Ainda assim, me assusta mais um acidente em Angra, devido à possível severidade", opina.

Segundo Guimarães, "a prática da indústria prevê uma probabilidade de acidente severo, com liberação de material radioativo para o ambiente, na ordem de um a cada um milhão de anos".

Plano de emergência prevê evacuação de raio de 3 km

Caso as medidas de segurança e barreiras de contenção não sejam capazes de conter um vazamento, entra em ação o plano de emergência. Ele estabelece diferentes raios de ação, dependendo da gravidade do acidente.

O primeiro raio é de 3 km ao redor da Central Nuclear, englobando uma pequena vila de trabalhadores de Angra 1 e Angra 2, chamada de Praia Brava, e alguns pontos da Estação Ecológica de Tamoios - afetando em torno de 2.000 pessoas.

A cada dois anos, são realizados treinamentos de evacuação de emergência nessa área, diz a Eletronuclear. Esses testes contam com a participação do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, além da Defesa Civil do Rio de Janeiro.

Em situações mais graves, o raio de ações de emergência subiria para até 15 quilômetros, o que inclui parte da cidade de Angra dos Reis, a Praia de Tarituba em Paraty, e outros trechos da Estação Ecológica de Tamoios.

"Um acidente de média proporção poderia espalhar (radiação) por um raio maior do que isso. Mas não chegaria a São Paulo e Rio de Janeiro", explica o professor Pinguelli.

Além do plano de emergência, a Eletronuclear monitora os níveis de radiação no meio ambiente ao redor das usinas. As conclusões, até agora, são que não houve alterações.

Angra 3 está em construção há mais de três décadas e foi investigada pela Operação Lava Jato — Foto: Eletronuclear

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