Morreu nesta quinta-feira (28), aos 72 anos, de parada cardíaca, o bailarino e coreógrafo gaúcho Rubens Barbot, referência na dança negra brasileira. Ele estava internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, Centro do Rio, e vinha num quadro de saúde debilitado desde 2019. O velório será nesta sexta-feira (29), a partir das 8h, no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), na Gamboa. O enterro será na sequência, às 14h30, no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi.
Nascido na cidade de Jaguarão, criado em Rio Grande (RS) e radicado no Rio desde 1989, Rubens Barbosa dos Santos fundou a Companhia Rubens Barbot de Teatro e Dança, considerada a primeira companhia negra de dança contemporânea do Brasil, e dedicou mais de trinta anos à pesquisa de movimentos dos corpos negros no país. Nos anos 1990, criou um espaço dedicado à arte negra carioca, o Terreiro Contemporâneo, no Centro.
Iniciou seus estudos na dança no final dos anos 1960, em Porto Alegre com João Luiz Rolla. Antes de vir para o Rio de Janeiro, passou pela Escola de Ballet Contemporâneo, em Buenos Aires, a convite do bailarino Tony Abbott. Já no Brasil, com sua companhia, montou dezenas de espetáculos, entre eles "Suspeito silêncio" (1990), "Dança Naná" (1993), "Não é mar, mas é salgado" (2000) e "Quase uma história" (2006).
Ao GLOBO, o dançarino Carlinhos de Jesus disse que chegou a trabalhar com Barbot em algumas ocasiões e falou sobre sua importância na dança afro-brasileira:
— Tive o prazer de conhecer Rubens Barbot e até estivemos juntos em alguns poucos trabalhos que me permitiram conhecer sua genialidade. A importância dele para a Dança Negra Contemporânea foi grande trazendo conhecimentos e valores para a dança afro brasileira — afirmou Carlinhos de Jesus.
De Portugal, a coreógrafa e pesquisadora Ana Vitória Freire destacou o estilo de Rubens Barbot, que segundo ela era dono de uma dança "visceral, intercultural e diaspórica":
— Era uma figura excepcional, icônica, que deu para a dança do Sul do Brasil uma oportunidade de alargamento, uma interculturalidade que poucas ou raras vezes se viu no Brasil. No Rio, marcou seu território, ou seu terreiro, de forma muito singular. A sua dança visceral, intercultural e 'diaspórica' sempre foi um deleite para nós, coreógrafos — disse Ana Vitória.
A também coreógrafa Deborah Colker lamentou a perda do amigo e lembrou que sempre conversava com Barbot quando os dois se encontravam:
— Quando eu comecei, Barbot já dançava, já pensava sobre corpo, sobre representatividade, sobre identidade, sobre respeito, sobre a força de cada um. Sempre dançou a dança negra, a força da ancestralidade. Eu brincava com ele dizendo que às vezes parecia que ele tinha mil anos, e outras parecia que ele tinha 10 anos. Era muita história concentrada. Ele viu todos os meus espetáculos, sempre conversamos muito, sempre trocamos muito. Pram mim, sempre foi muito importante como ele olhava, como ele se misturava, como ele tinha a força negra, mas como também como se diluia e renascia, misturava tudo, as cores, as culturas. Só tenho a agradecer.
Responsável pelo longa "Um filme da dança", documentário de 2013 que apresentava a situação dos dançarinos negros no Brasil, a cineasta, coreógrafa, dramaturga e professora Carmen Luz classificou Barbot como um dançarino "inesquecível e elegante":
— Dançava com a alegria e a concentração de uma criança que desde de cedo soube que sua poesia estava no corpo — disse Luz.
O Sindicato dos Profissionais de Dança do Rio de Janeiro manifestou pesar diante da morte de Rubens Barbot: "Hoje é um dia triste para a Dança Negra Contemporânea, o querido e inigualável Rubens Barbot fez sua passagem para o Orum", diz o comunicado postado no Instagram. No Twitter, a deputada federal Benedita da Silva também homenageou o gaúcho, a quem chamou de "ícone da dança" e "incrível coreógrafo". O ator, diretor e ativista Sidney Santiago, por sua vez, disse que Barbot foi "um homem fundamental na criação, manutenção e luta - anunciação das artes negras".