Vera Magalhães
PUBLICIDADE
Vera Magalhães

Os principais fatos da política, do Judiciário e da economia.

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.


Ato em defesa da Democracia no Largo São Francisco — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP
Ato em defesa da Democracia no Largo São Francisco — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

Os presentes ao ato em duas partes realizado neste 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP fizeram em muitos momentos um paralelo com a primeira Carta pela Democracia, de 1977, mas o clima que se viu no Salão Nobre, no pátio das Arcadas e no Largo de São Francisco, em frente ao prédio da Faculdade de Direito da USP, lembrava mais os grandes comícios das Diretas Já, de 1984, dados o pluralismo e o grau de divergência que os principais atores têm em quase todos os assuntos.

Em 1977 como agora foram a USP e os juristas a se levantarem primeiro, e era nítido o orgulho dos estudantes da São Francisco, vestindo camisetas com os dizeres "Estado democrático de direito sempre", em serem anfitriões e organizadores do evento que reuniu milhares de pessoas dentro e fora do prédio. Foram também eles, os estudantes, a quebrar o protocolo dos atos, que evitou a menção direta ao presidente Jair Bolsonaro. Primeiro, no discurso da representante do Centro Acadêmico 11 de agosto, e, depois, no coro de "Fora Bolsonaro" entoado ao término da leitura da carta assinada por 950 mil pessoas.

Foi um acerto reservar aos políticos presentes o papel de espectadores dos atos. Assim, fica mais difícil a narrativa de Bolsonaro e de seus ministros de que se tratou de ato partidário voltado a desgastá-lo e a promover este ou aquele candidato. Os presidenciáveis não compareceram à USP, mas estiveram lá o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, o candidato ao Senado pelo PSB, Márcio França, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, deputados e candidatos a deputado e ex-ministros como Aloizio Mercadante e José Carlos Dias, além de professores, advogados, jornalistas, economistas, ativistas de diferentes causas, empresários e sindicalistas.

Os diferentes pontos de vista ficaram explícitos nos discursos. Representantes de movimentos populares e de entidades de luta pelos direitos de indígenas e negros ressaltaram que a democracia só será plena quando incluir a todos. Mas o caráter de suspensão temporária e estratégica dessas divergências foi destacado nas falas como a de José Carlos Dias, que, ao ler o texto das entidades encabeçadas pela Fiesp louvou a inédita reunião de "capital e trabalho" em defesa da democracia.

Bolsonaro errará de novo se tentar diminuir o que aconteceu neste 11 de agosto. Primeiro, ao se colocar mais uma vez do lado oposto a um movimento que prega o respeito ao estado democrático de direito. Segundo, ao demonstrar desprezo pelo clamor de uma parcela significativa, em número de pessoas e em representatividade, da sociedade brasileira, às vésperas da eleição.

Também ficou ainda mais difícil para o presidente usar o 7 de Setembro como mote para pregação anti-urnas e anti-Justiça, uma vez que a confiança no sistema eletrônico de votações foi um dos grandes motes da manhã desta quarta-feira, em atos que, além de tudo, se espraiaram por todo o Brasil e vão continuar ecoando.

Mais recente Próxima