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Daniela Mercury, Haddad, Joice, 'arara': quem foi à Faculdade de Direito

Do UOL, em São Paulo

11/08/2022 09h32Atualizada em 12/08/2022 10h52

O Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo, ficou lotado para o início do ato em defesa da democracia, na manhã desta quinta-feira (11). Acadêmicos, políticos, empresários, sindicalistas, artistas e até atleta foram até o local, no centro de São Paulo, para o evento.

Os depoimentos e discursos começaram pouco depois das 10h10. O público aplaudiu as manifestações e gritou, algumas vezes, "viva a democracia" e "fora, Bolsonaro".

A primeira parte do ato foi no Salão Nobre, para a leitura do manifesto da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que teve apoio de cerca de cem instituições. Depois, o público foi até o Pátio das Arcadas, para a leitura da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito", organizada pela Faculdade de Direito e que reuniu mais de 900 mil assinaturas até a manhã de hoje.

Ato pra quem? Logo no começo do evento, o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Mario Sarubbo, foi questionado se o ato de hoje seria um recado ao presidente Jair Bolsonaro (PL) —ele e seus apoiadores vêm criticando e ameaçando o processo eleitoral. "É uma mensagem para o Brasil no sentido de que a sociedade quer que as eleições sejam efetivamente a festa, que elas representam no sistema democrático. Então, o recado está dado para o Brasil."

Da campanha? O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorre à Presidência da República, e o vice de sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), não foram ao ato.

No entanto, integrantes da campanha e políticos ligados a eles chegaram cedo —como o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), candidato ao governo paulista, e o ex-governador Márcio França (PSB), candidato ao Senado pela mesma coligação. Estavam lá ainda o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador da campanha ao Planalto; o deputado Márcio Macedo (PT-SE), tesoureiro e vice-presidente do PT; e Guilherme Boulos (PSOL), coordenador da campanha em São Paulo.

Não se vê todo dia: A deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP) chegou na hora do discurso de uma liderança da CUT (Central Única dos Trabalhadores), instituição que ela costumava criticar e da qual era opositora quando ganhou a eleição, em 2018, pelo PSL. Hoje, aplaudiu de pé.

Arara, flamingo: No Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, durante a leitura do manifesto da Fiesp, havia inclusive gente em pé, na lateral. Ao lado de muitos homens engravatados e mulheres bem vestidas, havia pessoas fantasiadas de animais —uma arara, um camaleão e um flamingo.

Pessoas fantasiadas também participaram do evento - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Pessoas fantasiadas também participaram do evento
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Encontro de mundos: Miguel Torres, presidente da Força Sindical, transformou o Salão Nobre em uma assembleia. "A gente que é do sindicalista, gosta de votação", brincou, enquanto pedia que todos ficassem em pé e dessem as mãos.

Rindo —e um pouco constrangidos, mas empolgados—, acadêmicos levantaram as mãos, fecharam os punhos e gritaram "Sociedade unidade jamais será vencida".

Na plateia e no palco: A cantora baiana Daniela Mercury estava com uma roupa preta e uma espécie de casaco com as cores da bandeira do Brasil. Ela foi uma das signatárias da carta em defesa da democracia e, logo depois da leitura do manifesto da Fiesp, disse ao UOL que "todos os artistas estão convidados a defender a democracia, [que] é fundamental para todos nós".

É muito importante que a gente venha aqui, como representantes que recebem tanto carinho e tanto afeto e respeito. Porque não há como a cultura não defender a democracia."

Daniela também defendeu as urnas eletrônicas e, após a leitura da carta da Faculdade de Direito, já do Pátio das Arcadas, fora do salão, ela cantou para o público.

Manifestantes do MTST do lado de fora da Faculdade de Direito  - Wanderley Preite Sobrinho/UOL - Wanderley Preite Sobrinho/UOL
Manifestantes do MTST do lado de fora da Faculdade de Direito
Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

Do lado de fora, grupo insistiu com gritos pró-Lula: Enquanto havia depoimentos, discursos e leitura das cartas do lado de dentro da Faculdade de Direito da USP, um grupo de manifestantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) tentou puxar gritos em favor de Lula do lado de fora. Mas a ideia não pegou.

Empunhando bandeiras do movimento, eles entoaram "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula", mas o grito ficou restrito ao grupo. Pouco depois, emendaram um "fora Bolsonaro" —aí sim com adesão de mais gente.

No fim do evento, entretanto, os gritos pró-Lula e contra Bolsonaro foram aceitos e entoados por quem estava na rua.

Chuva e frio: A movimentação foi tranquila do lado de fora do prédio. Desde antes do começo do ato pela democracia, manifestantes se reuniram e conversavam no local. Uma chuva fina chegou a espantar alguns deles, que correram para baixo de marquises nas proximidades. Pela manhã, em São Paulo, a temperatura ficou em torno de 14ºC.

Fernando Haddad (PT) tietado quando seguia do salão nobre para o pátio da Faculdade de Direito da USP - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Fernando Haddad (PT) tietado quando seguia do salão nobre para o pátio da Faculdade de Direito da USP
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Tietados: Haddad foi a pessoa mais disputada por selfies e apertos de mão entre os presentes no Salão Nobre, com cumprimentos de "meu governador", referindo-se ao cargo que disputará em outubro. O ex-prefeito, no entanto, preferiu uma postura mais discreta. Segundo pessoas próximas, ele não quer que o ato seja vinculado à sua campanha por entender que são temas distintos.

A ex-ministra Marina Silva (Rede) também foi abordada para fotos e abraços. Do lado de fora do auditório, ela foi cumprimentada por políticos e juristas que saiam do local em direção ao Pátio das Arcadas, para a leitura da carta pela democracia.

Aplaudido lá, vaiado cá: o ex-ministro Miguel Reale Jr., celebrado no Salão Nobre durante a leitura da primeira carta, foi vaiado no Pátio dos Arcos. "Fora, fascista", gritou um grupo à esquerda, entre vaias. Reale Jr. foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e também um dos responsáveis pelo pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

A ex-jogadora de basquete Marta conversava com manifestantes em frente ao Largo de São Francisco - Vander/UOL - Vander/UOL
A ex-jogadora de basquete Marta conversava com manifestantes em frente ao Largo de São Francisco
Imagem: Vander/UOL

Campeã olímpica: A atleta Marta, jogadora de basquete, diz que assinou a da carta em defesa da democracia. Ela foi até o Largo de São Francisco e, antes da leitura dos manifestos, conversou com manifestantes. Ao UOL, descartou qualquer conotação partidária ou eleitoral para o ato de hoje. "As pessoas têm de esquecer essa história de partido. A democracia é para todo mundo. Estou muito feliz de estar aqui."

Ato ecumênico: Um ato ecumênico foi realizado frente à Faculdade de Direito, antes do início do evento. Em frente a uma mesa com pães, representantes de religiões cristãs, islâmica e de matriz africana se juntaram para defender a democracia e reivindicar o combate à fome. "Com barriga vazia não tem democracia", afirmou ao UOL o pastor batista Levi Araújo.

Quem é religioso de verdade e se preocupa com o bem comum sempre estará em manifestação pelo direito democrático e pelo Estado laico, que garante a religiosidade de todos."

Segurança em pé e a cavalo: De acordo com o capitão Luiz Fernando Gavira, responsável pelo policiamento, pouco mais de 150 pessoas se concentravam em frente ao prédio por volta das 9h30. "Estamos em 170 policiais a pé", afirmou. "A missão é garantir a ordem pública."

A PM também destacou a cavalaria: são 20 animais foram enviados para cuidar do "policiamento preventivo", afirmou o tenente Gabriel Paribelo.

Por que as cartas foram divulgadas? Desde o início de julho, foram elaborados três documentos em defesa da democracia —dois fizeram parte do evento de hoje. Além dos textos da USP e da Fiesp, foi publicado também um texto da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em apoio ao Estado Democrático de Direito.

Embora sejam divulgados como suprapartidários e desvinculados de correntes políticas, os manifestos foram estimulados especialmente pelos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao sistema eleitoral. O próprio Bolsonaro já criticou as cartas e manifesto pela democracia diversas vezes. Ele não foi à Faculdade de Direito da USP e, de longe, ironizou o evento.