Brasil
PUBLICIDADE

Por O Globo

O indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, desapareceram no Vale do Javari, na Amazônia, quando faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. Bruno vinha sendo alvo de ameaças por defender comunidades indígenas contra a ação de garimpeiros, pescadores e madeireiros. A região sofria com a invasão de garimpeiros desde o início deste ano.

Local próximo ao Vale do Javari onde Bruno e Dom desapareceram. — Foto: O Globo
Local próximo ao Vale do Javari onde Bruno e Dom desapareceram. — Foto: O Globo

Sexta, 3 de junho

Os dois chegaram ao Lago do Jaburu, às 19h25, para visitar a equipe de vigilância indígena próxima à localidade, que fica perto de uma base da Funai no rio Ituí. No local, Phillips fez entrevistas com indígenas.

Dom Phillips teria entrevistado indígenas — Foto: Arte O Globo
Dom Phillips teria entrevistado indígenas — Foto: Arte O Globo

Sábado, 4 de junho

No sábado, véspera do desaparecimento da dupla, o jornalista britânico Dom Phillips teria registrado imagens de três homens armados que faziam ameaças aos indígenas, segundo dois membros da Unijava. Uma dessas pessoas que ameaçaram o grupo seria um dos suspeitos ouvidos pela polícia, afirmou nesta terça-feira o advogado da Unijava, Eliésio Marubo.

Em um áudio divulgado pelo jornalista Yan Boechat, o coordenador da Unijava, Paulo Dollis, afirmou que Bruno e o jornalista estavam com os indígenas quando o grupo foi ameaçado.

— Três pessoas ameaçaram a equipe que estava lá, equipe de vigilância da Univaja. O Bruno e o jornalista também estavam com essa equipe. Inclusive, o jornalista tirou as fotos de quando eles estavam mostrando armas de fogo para eles — afirmou Dollis.

Domingo pela manhã, 5 de junho

Logo cedo os dois foram em direção para a comunidade São Rafael, para uma visita previamente agendada, para que o indigenista Bruno Pereira fizesse uma reunião com o comunitário apelidado de “Churrasco”. O objetivo do encontro era consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões. No entanto, "Churrasco"não estava na comunidade, e eles conversaram apenas com a mulher do líder comunitário.

Dom Phillips e Bruno Pereira estiveram com a mulher de líder comunitário — Foto: Arte O Globo
Dom Phillips e Bruno Pereira estiveram com a mulher de líder comunitário — Foto: Arte O Globo

Em seguida, partiram para Atalaia do Norte, em uma viagem que deveria demorar cerca de duas horas. Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem, e sete tambores vazios de combustível.

Ilustração do barco com os dois desaparecidos — Foto: Arte O Globo
Ilustração do barco com os dois desaparecidos — Foto: Arte O Globo

Domingo de tarde, 5 de junho

Sem a chegada da dupla, uma equipe de buscas, com indígenas que conhecem bem a região, saiu às 14h de Atalaia do Norte para procurá-los, mas sem sucesso. Duas horas depois, outra equipe partiu de Tabatinga, mas também não encontrou vestígios dos dois.

Segunda, 6 de junho

Três servidores da Funai e dois agentes da Força Nacional de Segurança Nacional fizeram novas buscas a partir da base de vigilância da Funai no rio Ituí. A equipe não achou pistas e o trabalho foi retomado hoje.

O Vale do Javari

Na fronteira com o Peru, no Oeste do Amazonas, o Vale do Javari teve seu processo de demarcação finalizado no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, e tem uma área equivalente a quase dois estados do Rio de Janeiro (85,4 mil km²). É considerado a segunda maior demarcação depois da Terra Ianomâmi (96, 6 mil km²), homologada em 1992 no governo Fernando Collor.

A comunidade São Rafael e a cidade Atalaia do Norte, para onde estavam indo. — Foto: O Globo
A comunidade São Rafael e a cidade Atalaia do Norte, para onde estavam indo. — Foto: O Globo

Quem são

Dom Phillips e Bruno Pereira — Foto: Arte O Globo
Dom Phillips e Bruno Pereira — Foto: Arte O Globo

Bruno Pereira é considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai e é profundo conhecedor da região, onde foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Foi também por quase três anos coordenador-geral de Índios Isolados e Recém-contatados da Funai.

Dom Phillips é um jornalista freelancer britânico que se mudou para o Brasil em 2007, com passagens por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Além do The Guardian, Phillips já colaborou para o Financial Times, New York Times, Washington Post, Bloomberg, Daily Beast, revista de futebol Four Four Two e o jornal de energia Platts, entre outros. Phillips é atualmente bolsista da Alicia Patterson Foundation e 2021 Cissy Patterson Environmental Fellow.

Críticas

A União dos povos indígenas do Vale do Javari (Unijava), em parceira com mais três instituições representativas dos povos indígenas, publicou nesta terça-feira uma nota exigindo apoio e rapidez dos órgãos federais de proteção e segurança, assim como das Forças Armadas, nas buscas. De acordo com a nota, apenas seis policiais militares e uma equipe da Funai iniciaram as buscas na segunda-feira junto com a equipe da instituição.

"As informações acerca do cenário das buscas revelam a omissão dos órgãos federais de proteção e segurança, assim como das Forças Armadas. Embora tenha sido instado a colaborar com um efetivo de 25 militares, o Exército brasileiro até o presente momento (tarde desta terça-feira) não disponibilizou nenhum efetivo para a operação. A Polícia Federal, da mesma forma, deslocou um único delegado para Atalaia do Norte, junto com oficiais da Marinha que se deslocaram ainda ontem para Atalaia. Ressaltamos que não foi constituída uma Força-Tarefa para as operações de busca", mostra a nota.

As instituições apontam que o número de agentes disponibilizados no momento é "ínfimo diante da urgência em se encontrar o paradeiro do indigenista e do jornalista desaparecidos". Em conjunto com a Defensoria Pública, elas recorreram à Justiça Federal solicitando que a União viabilize o uso de helicópteros e barcos para auxiliar nas buscas.

Na nota, as instituições afirmam que as informações passadas pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), Polícia federal e pela Marinha do Brasil, apontando que agentes estavam atuando na região e tomando todas as providências para localizá-los o mais rápido possível, não são verdadeiras.

"Tais informações divulgadas pelo Governo Brasileiro, no entanto, não são verdadeiras, considerando que na data de ontem a Marinha do Brasil ainda não havia iniciado as buscas e apenas 01 agente da Polícia Federal havia sido deslocado para a região. Assistimos uma vez mais o atual Governo Brasileiro se omitir de suas responsabilidades diante da escalada de violência contra os povos indígenas e defensores de direitos humanos no Brasil", diz a nota.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

O parto foi num abrigo, com médicos voluntários, após o resgate de barco. Feliz Domingo das Mães.

Gislaine e Tyson, uma luz no caos gaúcho

A dupla é acusada de envolvimento nos assassinatos da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018

Caso Marielle: ligação com os Brazão e chefia de milícia, saiba quem são major Ronald e Peixe, presos nesta quinta

Clube rubro-negro terá que pagar R$ 2,9 milhões para os familiares do ex-goleiro Christian

Ninho do Urubu: Justiça do Rio mantém indenização do Flamengo à família de vítima

Bebê Agnes está desaparecida desde que o barco, no qual a família foi resgatada, virou no último sábado em Canoas

Mãe que procura filha gêmea de seis meses no RS afirma que bebê estaria em hospital em Porto Alegre: 'Saiu de ambulância'

Líder russo também acusou o Ocidente de 'esquecer as lições' da Segunda Guerra Mundial e disse que suas ambições empurram o mundo em direção a um conflito global

Putin critica Ocidente e afirma que forças nucleares estratégicas da Rússia estão 'sempre em alerta'

Há ainda o registro de 136 desaparecidos e estima-se que o temporal tenha atingido pelo menos 1,4 milhão de pessoas até agora

Chuvas no Rio Grande do Sul: número de mortes sobe para 107

Não pela decisão em si, mas porque a diretoria se dividiu, parecem seguir uma lógica política e não deu indicações para o futuro

A decisão do Copom deixa margem à confusão, incerteza e volatilidade