Blog da Andréia Sadi

Por Andréia Sadi


Os candidatos a presidente da República Jair Bolsonatro (PSL) e Fernando Haddad (PT) — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo; Fábio Vieira/Fotorua/Estadão Conteúdo

Com a apuração ainda em curso neste domingo (7), Fernando Haddad (PT) chegou a achar por um momento que estava fora do jogo. Ele acompanhava pela TV a evolução da votação com aliados e família em um hotel, em São Paulo e, mesmo quando diziam que a eleição não terminaria neste domingo, ele ponderava: cauteloso, achava que acordaria nesta segunda-feira (8) com Jair Bolsonaro (PSL) eleito presidente.

Tudo isso porque o petista assistia em choque, pela TV, a onda Bolsonaro que arrastava candidatos anti-PT aos governos para o segundo turno nos estados e Congresso. Candidatos que surfaram na popularidade do candidato do PSL e no seu discurso anti-petista.

Quando Jair Bolsonaro foi a 47,6%, Haddad se levantou diante do resultado na TV e comemorou com os braços no alto, feito um gol: estava no segundo turno. E agora poderia colocar em prática o plano de ser "mais Haddad, menos Lula". Poderia?

Faltava combinar com o ex-presidente Lula, com quem Haddad se encontrou nesta segunda-feira (8), e com o comando do PT, que vetou mudanças ao centro no primeiro turno, como queria o grupo mais ligado a Haddad, para ampliar apoios. Sem contar que aliados de Haddad, seu grupo mais próximo, pressionam o candidato para que ele abandone a agenda "Lula Livre", como apelidaram nos bastidores as declarações de que a prisão de Lula – condenado por corrupção – foi uma injustiça.

Motivo principal: o tsunami eleitoral provocado por Jair Bolsonaro, que se transformou em principal cabo eleitoral nos estados – principalmente alavancando candidatos que entoaram o discurso no combate à corrução, ao PT e no reforço da segurança pública.

O resultado das urnas confirmava a avaliação de Mauro Paulino, diretor do Datafolha ao blog: "Com menos intensidade ainda do que Lula, mas surgiu uma liderança com carisma suficiente para elevar candidaturas, só comparável a Lula".

Portanto, o lema do segundo turno estava confirmado, numa espécie de plebiscito: o candidato do PT e o candidato anti-PT.

Haddad busca apoios

Neste domingo (7), antes de pronciamento à imprensa, Haddad conversou por telefone com Ciro Gomes, Marina Silva e Guilherme Boulos. O candidato conta com o apoio do PDT e do PSOL mas, ambos, do seu campo mais à esquerda. Acha que Marina dificilmente declarará apoio oficial, após 2014, quando ela declarou voto em Aécio Neves. Mas o petista usará com a ex-senadora o discurso que vai entoar no segundo turno: ele é o candidato contra a barbárie.

Quanto a acenos para a esquerda, sem resistências no PT. Haddad quer ampliar o discurso para o mercado, lembrando que foi operador financeiro e que não fará nenhuma "loucura na economia" se for eleito. Problema é que o PT não deixa. E Haddad sabe que terá de afastar este núcleo da linha de frente da campanha se quiser mudar.

Além disso, o candidato foi aconselhado por aliados a não ir a Lula nesta segunda-feira em Curitiba, como primeiro ato de sua campanha no segundo turno. Haddad disse que já estava previsto e iria à cadeia. Mas, diante da vantagem de Bolsonaro no segundo turno, petistas admitem que ele precisará rever essas visitas, para confirmar o discurso de que sua agenda zero, se eleito, não será indultar Lula. Isso se quiser ampliar o campo de eleitores insatisfeitos com PT que votaram em Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin, por exemplo, uma vez que o PT avalia como remota a chance de ele reverter votos dos que estão com Bolsonaro.

Bolsonaro e o Anti-petismo

Na campanha de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, candidato a vice, disse ao blog que "faltou pouco" para o primeiro turno e que agora era questão de "afinar ponteiros". O tom da campanha no segundo turno será reforçar o anti-petismo, vinculando Haddad a escândalos de corrupção do partido dos trabalhadores.

Perguntado se eles fariam algum ajuste no discurso de Bolsonaro, ele respondeu: "não temos que mudar o discurso, eles que precisam".

Ele comemorou a ampla bancada eleita do PSL, atrás apenas do PT. Nos Estados, também comemorou candidatos do PT que foram derrotados no primeiro turno: "foram varridos".

O presidente do PSL, Gustavo Bebiano, disse que "apoio político é algo que não se nega".

Mourão, na mesma linha, disse ao blog que Bolsonaro vai aceitar "apoios individuais" – não de partidos. E que ele pretende ir a debates.

Neste domingo, Bolsonaro preferiu falar pela internet ao invés de convocar uma coletiva após o primeiro turno.

Questionado sobre o motivo de Bolsonaro não ter optado pelo formato que permite perguntas e respostas de jornalistas, Mourão : "ele não quis".

— Foto: Editoria de Arte / G1

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