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Mercado vê mais chances de aprovação de reformas com novo perfil do Congresso

Após resultado do primeiro turno, investidores levaram a Bolsa aos 86 mil pontos, ontem, alta de 4,5% e o dólar a R$ 3,76, a cotação mais baixa em dois meses; interpretação é de que composição do Legislativo facilitaria eventual gestão Bolsonaro

Foto do author Luciana Dyniewicz
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Luciana Dyniewicz , Paula Dias e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
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A vantagem de 16,5 pontos porcentuais que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) obteve sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso Nacional levaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, a movimentar R$ 28,9 bilhões ontem, o maior volume nominal da história. A interpretação dos investidores é de que o novo perfil do Congresso poderá dar governabilidade a Bolsonaro, permitindo que ele encaminhe reformas econômicas, caso seja eleito.

Apesar do feriado nos Estados Unidos – que costuma enfraquecer o movimento nos mercados –, a Bolsa fechou o dia com alta de 4,57%, aos 86.083 pontos – nível mais elevado em quase cinco meses. O dólar se descolou do exterior e terminou em queda de 2,40%, aos R$ 3,76 – cotação mais baixa em dois meses. “Nenhum analista político havia previsto uma renovação como a que se deu no Congresso nem a vitória de governadores que apoiam Bolsonaro. O mercado comemorou esses resultados”, disse a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Ela destacou, porém, que os investidores estão desconsiderando os riscos futuros. “A agenda econômica fica de escanteio no discurso de Bolsonaro. Ontem (domingo à noite), ele falou em reduzir a carga tributária e privatizar 50 estatais, o que não é possível.”

Vantagem do candidato de direita em relação ao petista e o crescimento do PSL no Congresso devem sustentar mercados Foto: Mauro Pimentel/AFP

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O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, destacou que, apesar de o conservadorismo ter crescido no Congresso, ainda há dúvidas em relação à capacidade de articulação política do candidato de direita. “Prevaleceu o conservadorismo, o que mostra que talvez não seja tão complexo para Bolsonaro, se ele vencer, montar uma base. Mas a gestão dessa base gera preocupação.” 

Papéis das estatais foram os que mais avançaram

As ações das empresas relacionadas ao governo estão entre as que mais avançaram ontem. Os papéis ordinários (com direito a voto) da Eletrobrás subiram 17,3%. O economista Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro, já indicou a intenção de dar continuidade ao projeto do presidente Michel Temer de privatizar a companhia.

As ações preferenciais da Petrobrás (sem direito a voto) foram as mais negociadas, movimentando R$ 947,7 milhões e subindo 11%. Segundo Campos, a alta nesses papéis decorre da análise dos investidores de que as estatais estarão mais blindadas de uma gestão politizada do que estariam em um eventual governo petista. “Não é só a questão da possível privatização.”

Na semana passada, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, da equipe de Bolsonaro, disse ao Estado que um possível governo do PSL não privatizaria empresas estratégicas, como Furnas, Caixa e Banco do Brasil.

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O analista Glauco Legat, da Spinelli Corretora, também citou o relacionamento entre Bolsonaro e Paulo Guedes como uma fonte de preocupação. “Hoje (ontem), o mercado viveu apenas o lado positivo, mas a volatilidade não foi afastada, porque ainda se espera um contra-ataque do PT”, acrescentou, em referência às mudanças que podem ocorrer durante a campanha no segundo turno.

O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) – um derivativo de crédito que protege o investidor contra calotes na dívida soberana – também recuou ontem, chegando a cair 9%, para 220 pontos base, o menor nível desde 8 de agosto.

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