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Governo Bolsonaro

Queda de Pedro Guimarães e Milton Ribeiro sela o derretimento da ala ideológica do governo Bolsonaro

Pedro Guimarães e Jair Bolsonaro

Em menos de uma semana, o presidente Bolsonaro viu dois expoentes de seu governo e de suas bandeiras ideológicas protagonizarem crises com potencial explosivo para sua campanha. Denunciado por assédio sexual por funcionárias da Caixa Econômica Federal e investigado pelo Ministério Público Federal, o presidente do banco, Pedro Guimarães, despontava como um dos integrantes dessa ala que ainda restava no governo.

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Figura cativa nas lives de quinta-feira do presidente, Guimarães era conhecido pelo comportamento excêntrico que lhe rendeu o apelido de “Pedro Maluco” e pela devoção ao chefe. Desde o início de sua gestão na Caixa, em 2019, o executivo implementou um sistema de promoções com base em alinhamentos ideológicos. Os cargos de comando só eram acessíveis a funcionários alinhados à cartilha de Bolsonaro. Aqueles que apresentavam qualquer ideia considerada de esquerda eram vetados. 

Guimarães também gostava de reproduzir comportamentos do presidente, especialmente os que exaltavam a cultura militar. No ano passado, ordenou que servidores da Caixa fizessem flexões durante um encontro de final de ano do banco. Sempre que tinha oportunidade, gabava-se das 15 armas que diz manter em casa. O executivo também usou o banco o quanto pôde para fazer propaganda do presidente e de seus aliados políticos. Guimarães realizou mais de cem viagens pelo programa Caixa Mais Brasil para exaltar Bolsonaro. Foram nessas viagens que a maioria dos casos de assédio sexual contra as funcionárias aconteceu, como revelaram as vítimas ao site “Metrópoles”.

Há três meses, num jantar com empresários, o executivo fez um discurso alarmista sobre o futuro do banco, caso Bolsonaro não seja reeleito. Disse ainda que se mudaria para África se o chefe fosse derrotado.

Bolsonaro adotou uma postura diferente na crise protagonizada por Pedro Guimarães se comparada às medidas que tomou envolvendo o ex-ministro do Ministério da Educação Milton Ribeiro. Pastor evangélico e bolsonarista raiz, inclusive próximo à primeira-dama Michelle, Ribeiro era ícone da área ideológica do governo. Ele foi defendido pelo presidente quando as acusações de corrupção e direcionamento de verbas de sua pasta foram reveladas pela imprensa, em março. Na ocasião, Bolsonaro disse que “colocaria a cara no fogo” pelo aliado e resistiu a demiti-lo. 

Na semana passada, após a operação da Polícia Federal que mirou o ex-ministro, Bolsonaro atenuou o discurso e disse que, se ele foi preso, “deve haver um motivo”. Nos bastidores, porém, seguiu com o discurso de que acredita na inocência de Ribeiro. Em relação ao presidente da Caixa, tanto Bolsonaro quanto a equipe econômica não saíram em sua defesa e a demissão é dada como certa. Até o momento o que impera, porém, é o silêncio, já que nenhum integrante do governo se manifestou sobre o escândalo. 

A questão ideológica que ajudou Bolsonaro a se eleger em 2018 e que marca a gestão do presidente desponta hoje como um dos focos de maior desgaste em seus planos de reeleição. 

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