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Política Eleições 2018

Análise: Liberalismo e ameaças no 1º dia como eleito

Jair Bolsonaro finalmente emitiu sinais claros sobre qual personagem encarnará no Palácio do Planalto
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, em entrevista à TV GLOBO Foto: Reprodução
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, em entrevista à TV GLOBO Foto: Reprodução

RIO — Em seu primeiro dia como presidente eleito, Jair Bolsonaro finalmente emitiu sinais claros sobre qual personagem encarnará no Palácio do Planalto. Na economia, aparentemente a política será, de fato, liberal. A diplomacia tende a se alinhar aos Estados Unidos e, como os republicanos de lá, a política pró-armas deve se tornar prioritária. Só que, apesar dos acenos à oposição, o presidente eleito deixou explícito que o fim da campanha não sepultou traços de autoritarismo. Ao prometer cortar verbas da imprensa crítica , o que o PT só fez após a eleição de 2014, o presidente eleito mostrou desconhecer que o dinheiro público é dos governados, não dos governantes.

OPINIÃO DO GLOBO: Bolsonaro insiste no erro

Após passar meses evitando detalhar seu plano de governo, Bolsonaro mostrou que a ala liberal de sua equipe deve dominar a agenda econômica. Um dia após ser eleito, fez um discurso de adesão total à agenda pró-mercado capitaneada pelo futuro ministro Paulo Guedes.

A primeira providência foi aderir à proposta do presidente Michel Temer para a reforma da Previdência. Mas não foi só. De olho no destravamento da economia, prometeu um governo austero, defendeu a importância do teto de gastos, prometeu reduzir despesas cotidianas, cortar ministérios, cargos públicos e fazer privatizações — citando inclusive da Empresa Brasileira de Comunicação. Em uma frase que dificilmente seria dita em período eleitoral, deixou explícito que atenderá aos desejos do empresariado:

— Devemos desburocratizar, desregulamentar, buscar maneiras de os investidores, os patrões, os empresários, os comerciantes tenham meios de empregar gente sem tanta burocracia, porque somente dessa forma você pode movimentar a nossa economia — pontuou.

As entrevistas revelaram também qual deve ser o primeiro conflito no núcleo do governo: a disputa entre Paulo Guedes e o futuro chefe da Casa Civil, Ônyx Lorenzoni, que, pela manhã, havia atacado a proposta de Temer para a reforma da Previdência, pois esta seria “apenas um remendo”.

Ficou claro também que a organização da base parlamentar do novo presidente não será simples. Bolsonaro disse explicitamente o que alguns de seus assessores já falavam de forma reservada: ele pretende implantar uma negociação individual com mais de 300 parlamentares. Para complicar ainda mais, disse que faria isso pois “a maioria” dos deputados é honesta, mas seria vítima de líderes mal-intencionados.