Para saber como os conselhos de administração e consultivos têm lidado com as questões de mudança climáticas e qual é o nível de comprometimento dessas instâncias empresariais com a transição para a estratégia de net zero, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) foi a campo e, em parceria como o Chapter Zero Brazil – o capítulo brasileiro da Climate Governance Initiative (CGI), ouviu 104 ocupantes dessas posições. O resultado, porém, não é muito animador. Segundo o levantamento, realizado em setembro e divulgado em primeira mão ao Prática ESG, apenas 35,6% dos entrevistados disseram que o tema está na pauta de reuniões pelo menos quatro vezes ao ano e somente 28,9% disseram que os comitês de assessoramento levam em conta as mudanças climáticas em suas discussões.
De acordo com 40% do universo pesquisado, não há clareza sobre a responsabilidade do conselho e das equipes executivas pelas decisões de redução de emissões dos gases do efeito estuda, enquanto outros 19% disseram assumir uma posição de neutralidade em relação ao tema.
A pesquisa foi dividida em quatro áreas temáticas: liderança, propriedade, estratégia e mensuração. Na primeira temática, de liderança, a pesquisa procurou saber em que medida os conselhos estão informados, preparados e prontos para impulsionar as mudanças e se responsabilizar pela implementação de estratégias net-zero.
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No bloco sobre propriedade, a intenção foi avaliar se os conselhos assumem a responsabilidade pelo engajamento, governança e pelo impulsionamento das mudanças necessárias dentro das companhias. De acordo com o levantamento, 43,4% dos respondentes disseram que a questão climática não está incorporada na avaliação de riscos e oportunidades e na estratégia central dos negócios.
Para a diretora de vocalização e influência do IBGC, Valéria Café, o quadro apresentado pela pesquisa é preocupante, mas absolutamente reversível. “O primeiro passo é dar mais diversidade aos conselhos de administração e consultivos, com a participação de profissionais com background diversificado e que tenham conhecimento do tema”, diz. Ela lembra que muitas companhias entendem a necessidade de incluir o tema das mudanças climáticas em suas agendas. “Só não sabem como fazer, por onde começar.”
Quando o levantamento procura saber da estratégia das companhias para as mudanças climáticas sob a ótica dos conselhos, 57,7% dos entrevistados afirmam que a ambição em relação ao tema mudanças climáticas não se traduz em metas de curto prazo ou em plano de ação de cinco anos. Além disso, impactos físicos decorrentes das alterações do clima não são considerados pelos conselhos, de acordo com 53,8% dos respondentes.
Impactos
“É fundamental que as empresas olhem para as mudanças climáticas como algo que já está acontecendo e entendam que, inegavelmente, elas trarão impactos aos negócios, sejam eles da natureza que forem”, avalia Café. A executiva diz que as dificuldades do mundo corporativo para incorporar esse tema ao seu dia a dia é compreensível, até por envolver mudanças culturais. “Mas é preciso considerar que as pressões por maior responsabilidade ambiental estão crescendo e vêm de todos os lados: dos órgãos reguladores, dos clientes e dos consumidores”, enfatiza ela.
Atrelar remuneração e bônus do alto comando das companhias, diz Café, é um passo essencial rumo a essa nova cultura. Mas é um passo distante da realidade, pois, 65,4% dos entrevistados disseram que metas relacionadas ao clima não fazem parte dos incentivos ou da remuneração dos executivos.
Dos 104 profissionais entrevistados, a maior parte, 37,5%, participam de conselhos de administração, enquanto 25% são diretores e C-level. O terceiro maior bloco de respondentes, 16,3% são do conselho consultivo das empresas e 8,7% integram conselhos fiscais – 3,8% presidem os conselhos e 5,8% são CEO ou presidentes das empresas. Trinta e nove porcento das empresas faturam mais de R$ 1 bilhão por ano e a maior parte, 33,7%, é de sociedades anônimas de capital fechado.