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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rápida em atrasar eleitores, PRF precisa agir contra bloqueios golpistas

31.10 - Caminhoneiros bloqueiam Dutra em protesto à eleição de Lula no domingo (30) - Reprodução/Twitter
31.10 - Caminhoneiros bloqueiam Dutra em protesto à eleição de Lula no domingo (30) Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

31/10/2022 11h10Atualizada em 31/10/2022 16h23

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Incapazes de aceitar a decisão da maioria dos eleitores, que escolheu Lula neste domingo (30), caminhoneiros bolsonaristas e outros grupos de apoiadores radicais do atual presidente travam rodovias em 15 unidades da federação. Exigem golpe militar e denunciam uma fraude inexistente baseada em fake news.

Na lista das estradas travadas está a Dutra, a principal via de ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, bloqueada nos dois sentidos.

Espera-se da Polícia Rodoviária Federal, que foi rápida para atrapalhar a vida de eleitores pobres em meio ao segundo turno, a mesma competência para evitar a obstrução das rodovias por manifestações que atentam contra a democracia.

E que as preferências pessoais não interfiram - o diretor-geral da instituição, Silvinei Vasques, chegou a pedir voto para Bolsonaro nas redes sociais.

De acordo com um balanço divulgado pela PRF, na manhã desta segunda (31), 100 bloqueios eram registrados no Rio Grande no Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.

Efetivo para isso eles têm. Neste domingo, a corporação fez 619 abordagens de ônibus até às 17h, horário em que a votação foi encerrada, segundo dados obtidos pelo G1. Isso é mais que o dobro do que foi realizado no primeiro turno. Metade das operações ocorreu no Nordeste, que apesar de ter 27% da população, concentra a maior parte do eleitorado de Lula.

Principalmente, entre os mais pobres, o pessoal que depende de transporte público.

O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, preferiu botar panos quentes na situação, centrando forças para o momento de ratificação dos resultados eleitorais. Bolsonaro, até o momento, não reconheceu a derrota para o petista, o que fomenta os delírios golpistas de apoiadores.

Aliados do presidente ajudam a colocar lenha na fogueira, como a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) - que, no sábado, protagonizou uma cena deprimente ao aterrorizar a população ao perseguir um homem com uma arma em punho pelas ruas de São Paulo após discutir política com ele.

Zambelli tuitou "Parabéns, caminhoneiros. Permaneçam, não esmoreçam".

Lideranças reconhecidas pela categoria, como o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), afirmaram ao UOL que os bloqueios não representam os trabalhadores do setor e são puramente ideológicos.

Ou seja, ao contrário das manifestações de 2018, que contavam com demandas de melhoria na qualidade de vida da categoria, agora é só golpismo puro.

Vale ressaltar que até grandes aliados do presidente, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reconheceu a vitória de Lula e disse que não há espaço para questionamentos. Ele estava acompanhado do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Mais do que isso só se pendurar uma faixa entre as duas torres principais do Congresso com o recado "Jair, não vai rolar golpe".

Não se sabe a estratégia que será adotada por Bolsonaro daqui até a passagem do cargo. Independente do que diga agora, ele pode fazer muita coisa - de não reconhecer o resultado até atrapalhar ao máximo a transição ou tentar costurar alguma proteção para si e seus filhos.

Seja qual for a opção, ela passará por manter seus seguidores excitados, pois, dessa forma, reforçará o controle sobre eles agora e no futuro. O problema é que uma vez hiperexcitados pelo presidente, muitos deles vão além e fazem bobagem.

Um Roberto Jefferson que atira mais de 50 vezes com fuzil e lança três granadas, ferindo dois policiais federais, é um exemplo do planejado que não sai como esperado. Por isso, é importante que Bolsonaro reúna seu rebanho. A questão é: ele quer fazer isso?