Vera Magalhães
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Os principais fatos da política, do Judiciário e da economia.

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Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Por Vera Magalhães


Roberto Campos Neto no Roda Viva — Foto: Nadja Kouchi/Diculgação TV Cultura
Roberto Campos Neto no Roda Viva — Foto: Nadja Kouchi/Diculgação TV Cultura

A entrevista de Roberto Campos Neto ao Roda Viva foi, toda ela, um acenar de bandeira branca do presidente do Banco Central em direção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No final, ele textualmente disse que gostaria de se encontrar com Lula para explicar o trabalho do BC e dizer a ele que é importante trabalharem juntos.

Já na primeira resposta, quando questionado a respeito de atos seus que feriram a institucionalidade e a independência esperadas de um presidente do BC autônomo, como fazer parte de grupo de WhatsApp com ministros do governo Jair Bolsonaro ou votar com a camisa da Seleção Brasileira, se esquivou da saia justa declarando que as eleições foram legítimas. Recado: Bolsonaro é página virada. Disse até que espera fazer “amigos" no novo governo e quer trabalhar em harmonia com a equipe do petista.

No afã de fazer esses novos amigos e reduzir a artilharia petista contra si, Campos Neto enfatizou a agenda social do BC, disse que não gosta de juros altos, que o objetivo da instituição é com o crescimento, mas que isso tem de ser feito de forma sustentável para que seja de longo prazo.

“A gente quer estar sempre próximo do governo”, disse, em outro aceno explícito a Lula, com quem afirmou que só conversou em 30 de dezembro e gostaria de estar novamente.

Ao se prontificar a prestar esclarecimentos perante o Congresso caso seja convocado ou convidado, Campos Neto também demonstra ter entendido que, hoje, conta com o aval de Arthur Lira e de Rodrigo Pacheco contra a ideia de se rever a autonomia do BC, que em vários momentos defendeu como a melhor solução institucional para o Brasil. “Esse debate está sendo muito personificado em mim. Se eu sair hoje não muda nada”, afirmou em dado momento. Mais adiante disse que não renunciaria diante da pressão, justamente porque entende que a independência da autoridade monetária está passando pelo seu primeiro teste, e precisa ser reforçada e mantida.

A única linha que ele traçou foi em relação à possibilidade de revisão da meta de inflação na reunião do Conselho Monetário Nacional nesta quinta-feira. Disse que o BC não pode concordar com a ideia, porque ela não só não faria a meta ser cumprida como agravaria os cenários de juros e inflação no longo prazo. Ele evitou confirmar que tenha sido contrário à meta de 3,25% para este ano e 3% para 2024 quando o tema foi discutido com Guedes — como teria confidenciado inclusive a membros do atual governo.

Sua intenção ao aceitar o convite para falar, ficou claro, era contemporizadora, não belicista. Resta saber se isso terá o efeito de fazer o PT retroceder, depois de atiçado por Lula.

O partido do presidente ser aquele que convoca o presidente do BC e faz manifestação na frente da sede da instituição condiz mais com política estudantil que com a responsabilidade de conduzir uma intrincada política econômica num cenário de contração e incerteza global e disputa dentro do próprio governo pela prerrogativa de estabelecer a nova política fiscal — justamente o foco maior de incerteza.

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