RIO — O escritor e compositor
Chico Buarque
, de 74 anos, é o vencedor do
Prêmio Camões 2018
, anunciado hoje. Esta é a 31ª edição da mais prestigiada premiação da língua portuguesa, oferecida pelos governos de Portugal e do Brasil. O anúncio foi feito na sede da Biblioteca Nacional, no Rio, pela presidente da instituição, após quase duas horas de reunião do corpo de jurados.
Escolhido por unanimidade pelo júri, Chico é o 13º escritor brasileiro premiado com o Camões pelo conjunto da obra, o que inclui, além de romances como "Leite derramado" e "Benjamin", suas letras de música e peças. Ele receberá 100 mil euros em setembro, em Lisboa, em uma data ainda a ser definida.
Chico estava jantando em Paris, para onde viajou para comemorar seu aniversário (no dia 19 de junho), quando foi surpreendido pela notícia do prêmio.
— Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar — disse Chico, em um comunicado oficial, de Paris.
O poeta João Cabral de Melo Neto foi o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Camões de Literatura, em 1990, já na segunda edição. Seu primeiro livro, “Pedra do Sono”, foi escrito em 1942. Sua obra mais conhecida é “Morte e Vida Severina”, de 1966
Rachel de Queiroz (1993)
Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, foi também a primeira a ganhar o Prêmio Camões, em 1993. Entre suas muitas obras estão “O Quinze” e “Memorial de Maria Moura”. Além de romancista, teve também prolífica carreira como tradutora e jornalista.
Jorge Amado (1994)
O baiano Jorge Amado, um dos autores mais adaptados para televisão, cinema e teatro no Brasil, foi premiado em 1994. São dele obras populares como “Dona Flor e seus dois maridos”, “Tieta do agreste“, “Gabriela, cravo e canela”, “Teresa Batista cansada de guerra” e “Tenda dos milagres”.
Antonio Candido (1998)
O intelectual e estudioso de literatura Antonio Candido de Mello e Souza ganhou o Camões em 1998. Sua principal obra é “Formação da literatura brasileira”.
Autran Dourado (2000)
Autor de “Ópera dos mortos” e “A barca dos homens”, Autran Dourado recebeu o Prêmio Camões em 2000. Além de romancista, Autran escreveu ainda contos, ensaios e obras de crítica literária.
Criador do personagem Mandrake e um dos mais populares escritores de contos do país, Rubem Fonseca foi homenageado com Prêmio Camões em 2003. Entre seus romances, os mais conhecidos são "O Caso Morel", "Bufo & Spallanzani" e "Agosto".
Lygia Fagundes Telles (2005)
A escritora paulista Lygia Fagundes Telles ganhou o Camões em 2005. Hoje com 89 anos, é autora dos romances “Ciranda de pedra” e “As meninas”.
João Ubaldo Ribeiro (2008)
O advogado, escritor, jonalista, roteirista e professor João Ubaldo Ribeiro foi o vencedor em 2008. É autor de obras populares como “Sargento Getúlio“, “O Sorriso do lagarto“, “Casa dos budas ditosos“ e “Viva o povo brasileiro”.
Ferreira Gullar (2010)
O poeta Ferreira Gullar, um dos fundadores do neoconcretismo, foi agraciado com o Prêmio Camões em 2010. Uma das principais figuras da literatura nacional desde a década de 1950, ganhou no ano passado o Prêmio Jabuti de Ficção pelo livro “Em alguma parte alguma“.
Dalton Trevisan (2012)
Em 2012 foi a vez de Dalton Trevisan, o recluso escritor curitibano, um dos principais contistas do Brasil, autor de mais de 40 obras, como "O vampiro de Curitiba", "Pico na veia", "Cemitério de elefantes" e o recente "O anão e a ninfeta".
O poeta, diplomata e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva, um dos principais especialistas na cultura e na história da África, recebeu o prêmio em 2014. Suas missões diplomáticas no continente permitiram obras como “A enxada e a lança: a África antes dos portugueses” (1992) e “A manilha e o libambo: a África e a escravidão” (2002).
Raduan Nassar (2016)
Raduan Nassar, autor dos romances "Lavoura arcaica" e "Um copo de cólera", foi escolhido por unanimidade pelo júri do Prêmio Camões de 2016. No início dos anos 80, abandonou a literatura e passou a se dedicar à agricultura.
Chico Buarque (2019)
Chico Buarque, autor dos romances "Leite derramado" e "Budapeste", foi escolhido por unanimidade na edição de 2019. Além de seus livros, o júri levou em consideração as letras de suas músicas - fato inédito na história do prêmio.
Composto por Clara Rowland e Manuel Frias Martins (Portugal), e Ana Paula Tavares (Angola), Antonio Cicero (Brasil), Antônio Hohlfeldt (Brasil) e Nataniel Ngomane (Moçambique), o júri decidiu atribuir o prêmio "pela qualidade e transversalidade" da multifacetada obra de Chico, "repartida entre poesia, drama e romance".
A decisão foi rápida. Segundo Antonio Cicero, os primeiros membros a sugerirem o nome de Chico foram as portuguesas Clara Rowland e Ana Paula Tavares e o cantor e compositor logo pintou como o favorito na conversa. Fato inédito na história do prêmio, as suas composições foram incluídas como parte de sua obra.
Outro fator que contribuiu para a decisão do júri foi o alcance da obra do cantor e compositor, que atravessou fronteiras e se tornou referência em diversos países.
— Consideramos suas letras como poemas — conta Antonio Cicero. — É assim que deve ser, como ficou claro com o Nobel de Literatura ao Bob Dylan. Uma música como "Construção" é uma obra-prima.
O Prêmio Camões de Literatura foi criado em 1988 pelos governos brasileiro e português, com o objetivo de consagrar pelo conjunto da obra um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural lusófono.
Nessas 31 edições, o prêmio contemplou nomes como Antonio Lobo Antunes, Mia Couto e José Saramago, além dos brasileiros Jorge Amado, Autran Dourado, João Cabral de Mello Neto, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Alberto Costa da Silva e Raduan Nassar.