Brasil

Primeira etapa de novo acelerador de partículas é inaugurada

Maior estrutura científica do país, Sirius beneficiará áreas que vão da agricultura ao desenvolvimento de remédios
Projeto Sirius, que ocupa área semelhante a estádio de futebol, permitirá estudos inéditos que beneficiarão diversos setores econômicos Foto: Divulgação
Projeto Sirius, que ocupa área semelhante a estádio de futebol, permitirá estudos inéditos que beneficiarão diversos setores econômicos Foto: Divulgação

RIO — Uma estrutura de 68 mil metros quadrados, construída com 900 toneladas de aço e composta por mil quilômetros de cabos elétricos mudou o cenário da zona rural de Campinas e ampliou o horizonte da ciência brasileira. Trata-se do acelerador de partículas Sirius, cuja primeira etapa foi inaugurada ontem. O equipamento, que custou R$ 1,8 bilhão, tem como principal finalidade a geração da luz síncroton, cujo altíssimo brilho permite a revelação de diversos materiais orgânicos e inorgânicos, como proteínas, vírus e ligas metálicas. Por conta dessa variedade, estima-se que as pesquisas desenvolvidas no complexo beneficiarão diversos setores econômicos, da agricultura à extração de petróleo no pré-sal.

A primeira fase consiste na conclusão das obras civis e da montagem de dois dos três aceleradores de elétrons. O último, que é também o principal, deve ser entregue no final de 2019, quando a estação será aberta para os cientistas. As 13 estações de pesquisa estarão disponíveis até 2021. O número pode ser gradualmente ampliado, de acordo com a demanda, chegando a até 38 estações experimentais.

Só é possível obter luz síncroton quando feixes de elétrons com espessura 35 vezes menor que um fim de cabelo são acelerados até atingir uma velocidade próxima à da luz (300 mil km/s). Os elétrons viajam dentro de túneis de vácuo, ao longo de uma circunferência de 518 metros. Sua trajetória é guiada por mais de mil ímãs. A luz síncroton é emitida quando os ímãs obrigam os elétrons a “mudar seu rumo”.

— O síncroton funciona como um grande microscópio que nos permitirá ver átomos e moléculas fundamentais para atuarmos, por exemplo, no desenvolvimento de novos fármacos para doenças negligenciadas, como a zika e a febre amarela, além de vacinas para o câncer — explica o pesquisador Douglas Galante, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). — Na área de ciências materiais, conseguiremos aumentar a eficiência de células fotovoltaicas. Desta forma, teremos baterias de maior validade.

PRODUTIVIDADE NO CAMPO

Segundo Galante, as pesquisas no acelerador permitirão também o fortalecimento das vigas metálicas de equipamentos usados no estudo de rochas em que o petróleo fica armazenado. E ainda reforçar a produtividade no campo, já que poderá aumentar o aproveitamento de insumos.

O presidente Michel Temer e o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Gilberto Kassab, que participaram da cerimônia de inauguração do Sirius ontem, ressaltaram que o projeto é a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no país. Mais de 300 empresas foram contratadas para participar da montagem e de seu desenvolvimento tecnológico. Para proteger os experimentos de vibrações, optou-se por usar um piso constituído de uma única peça de concreto armado, de 90 centímetros de espessura. A temperatura na área dos aceleradores não poderá variar mais que 0,1 grau Celsius.

Yves Petroff, diretor do LNLS, avalia que o Sirius será uma “ferramenta essencial” na superação de desafios tecnológicos modernos:

— Os parâmetros para a sua construção vão melhorar quantitativamente as características de experimentos que já são feitos hoje, reduzindo o tempo de aquisição dos dados e aumentando a precisão dos resultados das medidas — explica. — Mas, principalmente, o equipamento vai possibilitar uma mudança qualitativa das pesquisas dos usuários, permitindo que eles façam pesquisas que atualmente são impossíveis no país.

Diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e do Projeto Sirius, Antonio José Roque assinala que o espaço será aberto para receber cientistas de todo o mundo e aumentar a competitividade da ciência brasileira.

— Como é uma máquina de tecnologia sofisticada, o Sirius tem um potencial enorme de atratividade de pesquisadores de ponta. Isso vai trazer para o Brasil possibilidades de cooperação que podem ser muito interessantes — destaca.

* Com agências