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Política

Análise: O alvorecer do DEM no poder

Ao conquistar o comando da Saúde, partido torna-se principal sócio de Bolsonaro
Onyx Lorenzoni, o futuro ministro da Casa Civil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Onyx Lorenzoni, o futuro ministro da Casa Civil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

A indicação do deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para o Ministério da Saúde consolida o DEM como principal sócio do futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Na oposição durante toda a era petista, o partido comandado por ACM Neto voltou a desfrutar dos palácios de Brasília em 2016, com a chegada de Michel Temer ao Planalto. Durante a corrida presidencial, a direção da legenda apostou em Geraldo Alckmin (PSDB) para continuar governista, mas viu um dos seus correligionários “rejeitados” internamente, o atual ministro da transição, Onyx Lorenzoni, acertar o cavalo vencedor.

Um dos primeiros a aderir ao projeto de Bolsonaro, Onyx organizou silenciosamente uma confraria de deputados do baixo clero da Câmara que ajudaram a preparar o presidente eleito para a campanha. Esse clube, que se reunia nas noites de quarta-feira no apartamento funcional de Onyx, amansou ligeiramente Bolsonaro e ganhou sua confiança.

O DEM de Onyx tornou-se um dos pilares do governo. Está na Casa Civil, espécie de sala de controle da Esplanada, está no Ministério da Agricultura, que comanda o bilionário setor do agronegócio – espinha dorsal da economia –, e, agora, planta suas bases no portentoso Ministério da Saúde, com seus R$ 128 bilhões de orçamento. É um capital político invejável, capaz de despertar os instintos mais primitivos da banda fisiológica do Congresso, sempre ávida por cargos e verbas.

Espécie de “capitão do time” de Bolsonaro, Onyx consegue manter sua influência no gabinete de transição, mas não terá vida fácil. Alvo de dossiês dentro do próprio PSL, como revelou a revista Veja, o futuro ministro já foi minado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, que tenta capturar uma parte do seu poder, e também não tem a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que enxerga a ascensão da ala bolsonarista do seu partido como uma ameaça ao seu projeto de reeleição na Casa.

Em matéria de latifúndio no poder, o DEM de Onyx faz inveja aos caciques do velho PMDB que surfaram no governo Dilma Rousseff. Resta agora saber como Bolsonaro governará. Mandetta, a exemplo de Onyx, já precisou dar explicações sobre investigações de corrupção e caixa dois eleitoral. O futuro titular da Saúde, segundo uma investigação da Procuradoria-Geral da República, utilizou, durante a campanha de 2010, aviões pagos por uma empresa que ganhou contratos milionários durante a sua gestão na Secretaria de Saúde de Campo Grande (MS). Ele nega irregularidades, diz que explicou tudo a Bolsonaro – de quem já recebeu a patente de “marechal da Saúde” –, mas a oposição não deve dar refresco.

No comando da Saúde, Mandetta pelo menos já terá intimidade com o maior problema da futura gestão, o programa Mais Médicos. Em 2014, a médica cubana Ramona Rodriguez desertou do programa e refugiou-se na liderança do DEM na Câmara, graças a Mandetta, que levou a médica para Brasília e teve acesso, pela primeira vez, ao contrato de trabalho dos médicos, amplamente desvantajoso para os cubanos em relação aos demais médicos do programa. Agora, a confusão diplomática do governo Bolsonaro, que atingiu milhares de prefeitos na área da Saúde, está nas mãos de Mandetta para ser resolvida.